Capítulo 2 – O Caçador Invisível

Capítulo 2 – O Caçador Invisível

O sol ainda subia no céu quando Gabriel saiu da Associação de Caçadores com a pequena placa de madeira nas mãos. Seu coração batia mais rápido, não de nervosismo, mas de empolgação contida. Ele agora era, oficialmente, um caçador — mesmo que fosse apenas de nível 1. A diferença? Ele sabia que não precisaria lutar como os outros para evoluir.

Na entrada do prédio, havia um grande quadro repleto de papéis amarelados. Missões de patrulha, coleta de ervas, eliminação de bestas fracas e pedidos de escolta. A maioria dos iniciantes escolhia caçar pequenos lobos ou coletar cristais de energia em florestas perigosas.

Gabriel apenas observou. Não precisava daquilo. Ainda assim, se quisesse manter a aparência de normalidade, teria que agir como um caçador comum.

Selecionou uma missão simples: Coleta de Ervas Lumina, localizadas em uma clareira nos arredores da vila. Recompensa modesta, sem risco de combate.

— Boa escolha para um novato — comentou um caçador mais velho que passava por ali, batendo de leve no ombro de Gabriel.

Ele apenas sorriu e saiu em direção à floresta.

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A caminhada era tranquila. O vento balançava as árvores, e a luz do sol filtrava-se pelas folhas, criando manchas douradas no chão. A clareira não ficava muito longe — talvez uma hora de distância. E, enquanto caminhava, Gabriel mantinha os olhos atentos... não para monstros, mas para a janela que só ele podia ver.

[Experiência +1 a cada 10 minutos de caminhada passiva]

[Progresso: 30%]

"Estou quase lá...", pensou.

Finalmente encontrou as Ervas Lumina, plantas de folhas azuladas que brilhavam levemente mesmo à luz do dia. Colheu a quantidade exata pedida e se preparava para voltar quando algo o surpreendeu.

Um som seco. Galhos quebrando.

Virou-se rapidamente.

Entre as árvores, um lobo pequeno, com olhos vermelhos e pelagem cinzenta, o observava. Era um Lobo Sombrio Juvenil, criatura de nível 3. Normalmente, não atacaria alguém com cheiro de caçador — a não ser que estivesse faminto.

Gabriel segurou firme o bastão de madeira, o coração acelerado.

— Eu não vim lutar... — murmurou.

Mas o lobo avançou.

Ele recuou um passo, e então algo inesperado aconteceu. O sistema reagiu.

[Habilidade “Reflexo Passivo” desbloqueada – Nível 1]

[Habilidade “Postura Defensiva” desbloqueada – Nível 1]

O corpo de Gabriel se moveu por instinto. Quando o lobo pulou, ele ergueu o bastão de maneira desajeitada — e mesmo assim, aparou o golpe. A criatura caiu ao chão e rosnou, surpresa.

Gabriel respirava com dificuldade. Ele não era um lutador, mas o sistema o fazia reagir como se fosse.

E cada segundo naquele confronto valia algo.

[Experiência +3 – Situação de Perigo Leve]

[Progresso: 35%]

O lobo avançou de novo. Gabriel desviou para o lado, quase tropeçando, mas conseguiu se manter de pé.

— Eu não quero te matar — disse, mais para si do que para o animal.

Mas, no fim, foi o lobo que desistiu. A criatura, frustrada e com medo daquele humano de movimentos estranhos, recuou lentamente até desaparecer na floresta.

Gabriel caiu de joelhos, suando frio.

[Experiência +5 – Sobrevivência em Confronto Direto]

[Progresso: 40%]

Ficou alguns minutos ali, tentando entender o que acabara de acontecer. Ele não havia vencido pela força. Nem por habilidade. Mas seu sistema... parecia preparado para protegê-lo mesmo sem ele saber como.

— Isso é... assustador.

Recolheu a sacola com as ervas, ainda em choque, e voltou para a vila.

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Na associação, entregou a missão. A atendente sorriu educadamente, sem imaginar o que aquele “caçador de nível 1” havia acabado de enfrentar.

Recebeu algumas moedas de cobre e um novo carimbo em seu registro.

E, ao sair novamente pelas ruas da vila, mais uma notificação apareceu:

[Experiência +3 – Conclusão de Missão]

[Progresso: 43%]

Gabriel olhou para o céu, o sol começando a descer no horizonte.

— A cada passo, a cada minuto... estou me tornando alguém que nem eu entendo ainda.

E ele mal podia imaginar que aquele simples dia seria lembrado no futuro como o começo da lenda do Caçador Invisível.

Gabriel caminhava lentamente pelas trilhas de terra que ligavam o centro da vila às áreas mais afastadas. O som das pessoas, das carroças e das conversas foi ficando para trás, substituído pelo silêncio tranquilo do campo. As nuvens alaranjadas do entardecer se estendiam pelo céu, tingindo tudo com um tom dourado. A brisa era leve, carregando o cheiro de mato e terra molhada.

Ele finalmente chegou à sua humilde cabana — quatro paredes de madeira envelhecida, um telhado que rangia com o vento e uma pequena cerca de pedras tortas ao redor. Nada ali era impressionante. Mas era seu lar.

Abriu a porta, entrou e fechou atrás de si com um leve estalo. Soltou a bolsa com as ervas sobre a mesa e tirou o bastão das costas, encostando-o ao lado da cama.

Sentou-se no colchão de palha, passou as mãos pelo rosto e respirou fundo.

— Que dia…

Na teoria, ele havia apenas colhido ervas. Na prática, tinha enfrentado seu primeiro perigo real. E, mais do que isso, tinha sentido o sistema reagindo como se fosse parte do seu próprio corpo — protegendo, guiando, fortalecendo. Aquilo era empolgante... mas também assustador.

Olhou ao redor da pequena casa. Tudo ali era simples: uma mesa de madeira, duas cadeiras, uma estante com alguns mantimentos e livros velhos, e uma lareira apagada. Mas agora, pela primeira vez, aquele lugar parecia pequeno demais para conter o que ele estava se tornando.

Uma notificação piscou diante de seus olhos.

[Experiência +1 – Reflexão Pessoal]

[Progresso: 44%]

Ele deu uma risada baixa.

— Até pensar me deixa mais forte agora?

Se deitou na cama e encarou o teto de madeira, ouvindo o canto distante dos pássaros noturnos e o som do vento lá fora. Fechou os olhos.

Sua mente vagava, cheia de perguntas. Para onde isso o levaria? Quanto tempo até o mundo perceber que havia algo errado com ele? E... será que ele queria mesmo esconder isso?

[Experiência +6 – Repouso Iniciado]

[Progresso: 50%]

E assim, embalado pelo silêncio da noite, Gabriel adormeceu.

Sem espadas.

Sem feitiços.

Sem sangue.

Enquanto outros treinavam, lutavam ou morriam por um pouco de poder…

Ele apenas dormia.

E evoluía.