Um Dia de Compras e Um Velho Amigo

Era mais um dia na Floresta Isolada, Slady estava sentado na bancada de sua biblioteca, bebendo um café preto e fazendo anotações em seu pequeno caderno.

Shaphira estava em sua forma de Criatura Renkai, dormindo no colo de Slady. O rabo negro de raposa balançava casualmente enquanto dormia, parecendo estar em paz e confortavel.

Slady tinha entrado em alguns pensamentos, agora se lembrando da sua promessa.

Alguns dias atrás...

Slady estava sentado na cama, provando o almoço de Shaphira que tinha feito a ele, por ser amadora, a comida estava... mais ou menos. Afinal, a garota não sabia cozinhar tão bem como Slady, mas o homem reconhecia o esforço colocado no almoço que Shaphira tinha feito.

- "como achou, mestre?"

Shaphira questionou, se sentando na frente de Slady na cama, um pouco nervosa com a sua avaliação.

Slady olhou para Shaphira bem nos olhos, então diz com sinceridade.

- "ficou bom, você pode melhorar mais, eu vou te ajudar nisso."

Shaphira olha para Slady, um pouco decepcionada. Mas ficou contente por ele reconhecer seu esforço e poder ajuda-la.

- "obrigada, mestre. Você é o melhor."

Ela se senta no colo dele, abraçando-o.

- "..."

Slady ficou um pouco desconfortavel com o abraço, mas manteve o rosto sem emoção e deu uns tapinhas nas costas de Shaphira, como um gesto de aprovação.

ela se separou, apenas ficando no colo de Slady e cruzando os braços.

- "então, se você gostou, eu mereço uma recompensa." Ela deu um sorriso travesso

Slady apenas soltou um suspiro, acostumado com o comportamento dela.

- "sim, qual você quer, garota?"

- "eu quero ter roupas."

Slady ficou supreso, não entendia o motivo da garota querer ter roupas.

- "você precisa?"

- "eu não sei, mestre. Os pelos ja cobrem meu corpo todo, mas eu gostaria de usar algo que os humanos usam."

Slady colocou a mão no queixo, ele não via a necessidade de Shaphira cobrir seu corpo, sendo que seus pelos ja fazem isso. Mas também entendeu a motivação de Shaphira tentar ser mais... humana...

- "sim."

- "Obrigada!"

Shaphira abraça Slady, ficando mais confortável ainda no colo dele.

Slady apenas revirou os olhos, mas decidiu tentar mimar um pouco a garota, a felicidade e a segurança de Shaphira é a maior prioridade para ele.

O momento atual...

Slady tinha se lembrado daquele momento, então decidiu cumprir a parte da promessa que tinha se esquecido...

O seu braço mecânico envolve o corpo da forma de Criatura Renkai de Shaphira, se levantando da cadeira para levar ela ao quarto.

Apesar de ser grande e pesada, o protótipo do braço direito de Slady é muito forte, então carrega a garota em sua forma demoniaca com facilidade.

Slady colocou Shaphira no quarto deles, por sorte, ela não acordou em nenhum momento.

Ajeitando o seu sobretudo, camisa e calça, Slady fecha a porta do quarto, voltando a sala principal da biblioteca. Ele pega um pouco de Lynes, fechando o local, colocando uma carta de aviso na bancada... tomando um ultimo gole do seu café e saindo da biblioteca.

**Alguns minutos depois...**

Não sentindo o cheiro e o conforto do colo de Slady, Shaphira acordou. Ela soltou um bocejo e se espreguiça, ela olhava ao redor, vendo que Slady não estava por ali...

Ela saltou da cama, começando a andar de quatro patas pela biblioteca. Seu focinho se esfrega no chão para tentar ver por onde Slady tinha passado, acabando batendo sem querer a cabeça na porta da biblioteca.

Ela ligou os pontos, entendendo que Slady tinha saido... para onde? Ela pensava consigo, Shaphira foi direto na bancada de Slady, ficando de duas patas e apoiando as outras duas patas na mesa, encontrando uma carta.

Shaphira abrou a boca, mostrando seus dentes afiadissimos, afinal, ela era uma raposa demoniaca no final das contas.

Ela mordeu a carta com delicadeza para não rasgar e colocou no chão, se deitando para ler o conteudo que Slady tinha deixado

***

"Vou comprar suas roupas"

***

Direto e rapido, algo típico de Slady. Não só considerando a sua caligrafia, que é péssima. só tempo de convivência de Shaphira com Slady para explicar como ela conseguiu ler tão facilmente.

Mas apesar de tudo, ela se sentiu aliviada com a carta, sabendo que Slady estava bem e iria cumprir com a promessa. Ela vai até o sofá da biblioteca, se deitando de barriga para cima, voltando a dormir rapidamente...

Enquanto isso...

Após algum tempo caminhando, Slady chegava a cidade, que era mais um centro comercial do que uma cidade em si, mas havia seus moradores.

Slady olhava para o céu, vendo o dia ensolarado, sentindo um pouco do calor.

Ele retira o seu sobretudo, prendendo em sua cintura para não cair, começando a andar pela cidade que não visita há algumas semanas.

O centro comercial era um local bastante diversificado, tendo áreas específicas para cada cultura e até algumas vilas. considerando o fato de ser uma das ultimas esperanças da humanidade após o surgimento dos Inférius, dava-se para entender o porquê dessa cidade ser tão importante

Slady andava pela a cidade, as pessoas o ignoravam, parecendo não ligar ou prestar a atenção nele, não que isso era ruim para Slady, ele odeia chamar a atenção.

Ele entrou em uma loja de roupas local, se deparando com uma atendente adolescente, que vestia uma roupa de atendente feminino com uma saia justa. Ela parou na frente dele, achando incomum a aparencia do homem, mas respeitando-o e oferecendo um tom amigavel.

- "bem-vindo a nossa loja, como eu posso ajudá-lo?"

Ela diz com uma voz um tanto nervosa, talvez seja um dos primeiros dias de trabalho dela.

Slady notou o nervosismo com facilidade, falando em um tom sem emoção e mais baixo pra ela.

- "onde consigo roupas pra mulheres?"

A atendente jovem se sente mais a vontade com tom baixo de Slady, acenando com a cabeça.

- "sim, mas estou curiosa, é para alguém? Uma namorada?" Ela pergunta, genuinamente curiosa.

- "definitivamente não, é apenas para alguém que me importo."

- "oh... claro, claro! Deixa eu te ajudar." A jovem atendente oferece a mão ao homem.

Slady achou estranho o gesto, mas viu que a jovem atendente só quer ser gentil. Ele coloca a mão direita sobre a dela.

A moça sentiu o toque frio e metálico da prótese de Slady, ela ficou curiosa com aquilo, mas não querendo questionar para não ser mal educada.

- "sim... vamos." a atendente, começa a levar Slady para a parte de roupas femininas da loja.

Slady notou a curiosidade da mulher, mas decidiu não pressionar.

Após uns minutos, Slady selecionou as roupas, se baseando no tamanho de Shaphira em suas memórias. A vendedora da loja pega as roupas femininas e faz a contagem dos preços, falando com um tom sonolento, talvez seja por trabalhar um pouco cedo.

- "hmmm... juntando todas as peças que você pediu, deu no total 320 Lynes." Ela boceja, fechando os olhos por um tempo.

- "certo." Slady deu 340 Lynes.

- "fique com o troco e vá tomar um café."

- "obrigada, meu." Ela sorriu com sono, a vendedora apenas se senta em uma banqueta giratória, guardando os Lynes extras no seu sutiã.

Slady apenas ignorou a cena, começando a sair da loja, não antes de sentir um toque em suas costas, fazendo ele se virar...

- "Eu percebi que você se esforçou para eu não me sentir desconfortavel, é a minha primeira semana aqui, obrigada." É a atendente, oferecendo um sorriso.

- "não é nada, aproveite o dia." Diz Slady em seu tom neutro, saindo da loja.

Slady estava andando pela cidade de novo, segurando uma bolsa de compras da loja, olhando para as peças que tinha comprado.

Mas antes de retornar para a biblioteca, Slady tinha que visitar um velho amigo...

Em um dos bairros da cidade, há uma famosa taverna chamada de "La Taberna", um nome simples, mas conhecido pelos moradores

Ao entrar no local, Slady se depara com a taverna vazia, tinha alguns trabalhadores almoçando em seus cantos, nada muito agloremado naquela hora da manhã

No balcão, havia um homem velho de 70 a 75 anos, secando alguns copos de cerveja e vinho. Quando seu olhar cai sobre Slady, o velho homem sorriu.

- "oh-ho! Se não é meu amigo, Slady!" Ele diz com uma voz rouca, dando uma batida no balcão.

Slady olhou para o homem, ele vai até a banquinho e se senta, colocando a bolsa de compras em seu colo.

- "você parece animado nessa hora da manha, Raizer." Slady olhou para Raizer bem nos olhos.

- "por favor, Não é porque já estou quase nas ultimas, que sou um velho sem energia!"

O velho deu uma risada tranquila, indo pegar algo para servir Slady.

- "você gosta daquele vinho de sempre, não é?"

- "sim."

Raizer pegou um vinho bastante doce, pegando um copo mais pequeno e servindo a Slady.

- "do jeito que você gosta, Slady." Ele se encostou na cadeira do balcão.

- "obrigado, Raizer." Slady pega o pequeno copo e toma o liquido de uma só vez.

- "sua filha não veio te ajudar, hoje?" Perguntou Slady.

- "oh, não. Ela ainda está dormindo, então deixei ela ter uma folga hoje."

- "ela deve te ajudar muito, você é um pai generoso." Diz Slady.

Raizer apenas acenou amigavelmente com a cabeça, tomando um pouco do próprio vinho.

Eles ficam em um silêncio confortavel, Raizer bebendo seu vinho e Slady apenas com os olhos fechados.

De repente, uma das portas do segundo andar... (onde hospedam alguns visitantes ou bêbados que dormiam no estabelecimento com um certo preço)

Se abria, então, descendo do segundo andar, surge uma adolescente de 15 anos, vestindo roupas casuais para dormir.

Ela esta sonolenta, ela olhou para Raizer, dando um abraço carinhoso nele.

- "bom dia, pai."

- "bom dia, Elisa." Raizer deu carinho no cabelo da adolescente.

Ao se separar do abraço, ela olhou para Slady e sorriu, indo até ele, se sentando no colo do homem para abraça-lo.

"Bom dia, tio Slady..." de repente, ela começa a roncar, deixando claro que acabou dormindo no colo de Slady.

- "..."

Slady olhou para Elisa, soltando um suspiro e colocando a mão nas pernas da adolescente para ajeita-la em seu colo.

Raizer viu a cena, dando uma risada mais baixa.

- "essa garota... não tem nenhuma vergonha de se sentar em seu colo, não é mesmo? Desde de criança..."

Raizer diz com um tom baixo, parecendo nostalgico. Slady apenas acenou com a cabeça.

- "eu já estou acostumado, a Shaphira sempre fica aqui também." Slady diz com um suspiro, colocando a bolsa de compras no chão

- "ainda fico impressionado com o fato de você ter uma demônio como filha, é impressionante." Diz Raizer, tentando ser mais respeitoso.

- "eu sei, mas ela é importante pra mim, então não ligo." Slady fecha os olhos um pouco.

- "eu sei disso, não vou questiona-lo."

Diz Raizer, observando a filha estar no colo de seu amigo, sabendo que a garota está segura nos braços dele.

- "sabe..." o velho falou mais sério, se ajeitando na cadeira dele.

- "desde quando a minha esposa morreu, Elisa apenas tinha a mim para confiar. Eu fico feliz que ela esteja confortavel com você, Slady."

Slady ficou supreso com tom mais sério de Raizer, mas compreendeu completamente.

- "eu sei disso, fico feliz que eu esteja sendo alguém bom para ela."

Diz Slady, com seu tom sem emoção de sempre, colocando no cabelo da adolescente, dando um pequeno carinho.

Elisa se agarra a camisa de Slady, roncando mais no colo dele, demonstrando confiança e conforto.

- "mas também, fico feliz por você poder confiar em mim, Raizer." Diz Slady, olhando para Raizer nos olhos.

Raizer ficou surpreso com as palavras sinceras de Slady, dando um sorriso mais tranquilo e contente.

- "Slady... eu agradeço muito, você é o único amigo que sobrou nesse mundo." Diz Raizer com sinceridade, mas também tinha tristeza

O velho homem se serve mais um pouco de vinho, bebendo com mais calma e lentidão, querendo aproveitar ao maximo o gosto da bebida.

- "quando após todos do *nosso grupo* se foram, eu me senti solitário. Elisa tinha apenas dois anos quando sua mãe morreu."

- "minha filha teria que crescer sem uma mãe ao lado dela, além do fato que tive ela muito tarde... não tenho muito tempo para ensinar a ela tudo quê sei."

Slady apenas ficou em silêncio, deixando Raizer liberar os seus sentimentos, mas também, parecia se lembrar de algumas coisas do passado...