Uma Gaiola Dourada

O quarto era espaçoso demais para uma só pessoa. Cortinas brancas cobriam janelas que iam do chão ao teto, e a cama, com lençóis de cetim, contrastava com as noites simples que Paola conhecia. Tudo ali era sofisticado, calculado, mas faltava algo essencial: calor. Nenhum sinal de vida. Nenhuma foto. Nenhuma lembrança. Só silêncio.

Ela largou a mala em um canto e sentou-se na beirada da cama, ainda tentando absorver tudo. O que havia feito? Trocado sua liberdade por uma dívida que nem era sua. Mas se voltasse no tempo, faria de novo. Seu pai não merecia pagar com a própria vida.

Horas depois, uma empregada bateu à porta, educadamente.

— O senhor Felipe pediu que você desça para jantar.

Paola se levantou, ajeitou o cabelo no espelho, e desceu as escadas com o coração acelerado. Ao chegar na sala de jantar, viu Felipe sentado à cabeceira da enorme mesa, manuseando um copo de vinho como se não houvesse pressa no mundo. A mesa estava posta com dois lugares. Era quase irônico.

Ela se aproximou em silêncio.

— Sente-se — disse ele, sem levantar os olhos.

Paola obedeceu. O jantar era refinado: salmão, arroz com açafrão, legumes no vapor. Tudo caro, tudo perfeito. Mas o sabor lhe parecia amargo.

— Está satisfeita com o quarto? — ele perguntou, com um tom neutro.

— Sim.

— Ótimo. Quero que entenda: você pode andar por onde quiser nesta casa, mas nunca ultrapasse os limites do meu escritório. Entendido?

— Entendido.

Houve uma pausa longa. Felipe a observava como quem estudava um inimigo. Os olhos dele tinham algo cruel, mas também uma sombra de dor. Paola percebeu. Ele não era apenas arrogante. Havia algo quebrado dentro dele.

— Você parece tranquila demais para quem foi vendida — disse ele, em tom provocativo.

Ela ergueu os olhos, fria:

— E você parece orgulhoso demais por ter comprado alguém.

Felipe arqueou a sobrancelha, surpreso. Não estava acostumado com respostas. Muito menos com resistência.

— Interessante. Você tem mais coragem do que eu imaginava. Veremos quanto tempo isso dura.

O jantar seguiu em silêncio, tenso. Quando terminaram, Felipe levantou-se e disse:

— Amanhã quero que você acorde cedo. Preciso que me acompanhe à empresa. Vai conhecer meu mundo... e entender melhor a dívida que está pagando.

Ela não respondeu. Apenas assentiu. Subiu para o quarto e, ao fechar a porta, permitiu que as lágrimas descessem. Não por medo, mas por incerteza. Que tipo de homem ele realmente era? E o que esperava dela naquele lugar?

Deitou-se, mas o sono não veio fácil. Sabia que aquele era apenas o começo. Felipe Albuquerque não era só um homem poderoso. Ele era um mistério perigoso. E ela... agora fazia parte dele.

Na manhã seguinte, antes mesmo de o sol nascer completamente, Paola foi despertada por uma batida leve na porta. Ao abrir, encontrou outra empregada com uma arara de roupas cuidadosamente penduradas. Eram vestidos, camisas, saias sociais e dois pares de salto alto.

— O senhor Felipe pediu que a senhorita escolha uma dessas peças para acompanhá-lo hoje — disse a mulher, quase em tom mecânico. — Foram feitas sob medida, chegaram esta madrugada.

Paola se aproximou, surpresa com a sofisticação dos tecidos. Tudo era caro, elegante, alinhado demais para o seu gosto. Havia um vestido lápis preto com detalhes em renda nos ombros, e um conjunto de saia bege e camisa de seda branca. Ao lado, uma caixa com maquiagem, perfume e até joias discretas.

Mas o que mais a incomodava era a etiqueta interna das peças: todas traziam, bordado em dourado, a marca da empresa dele — Alburqueque & Co.

Ele não só estava vestindo ela. Estava marcando seu território.

— Diga a ele que vou estar pronta em trinta minutos — respondeu, firme, enquanto escolhia a roupa mais discreta da arara.

No andar de baixo, Felipe a aguardava na sala com o mesmo olhar analítico de sempre. Quando ela desceu, com o vestido justo, cabelos presos e postura erguida, ele apenas a encarou com um leve sorriso no canto da boca.

— Agora sim... — murmurou. — Vai causar exatamente o impacto que eu quero.