no limite

O relógio marcava quase três da manhã quando Felipe chegou em casa. As portas se abriram com um estrondo. Ele estava visivelmente alterado, a gravata solta, os olhos vermelhos, e uma mulher desconhecida, alta e exuberante, ria alto ao seu lado.

Paola acordou assustada com o barulho das gargalhadas, das garrafas batendo, do salto ecoando pelo mármore da casa. Sentou-se na cama, o coração acelerado. Não sabia o que estava acontecendo, mas sentia que algo ruim viria dali.

Felipe tropeçou nos próprios passos e apontou para a sala, mandando a mulher se servir do que quisesse. “Fica à vontade, querida… já volto”, disse com um sorriso torto, embriagado.

Então ele subiu as escadas cambaleando, os passos pesados e descompassados. Parou na porta do quarto de Paola, girou a maçaneta devagar, como se saboreasse o momento.

Ela já estava em pé, de camisola, assustada, tentando entender por que ele havia invadido seu quarto.

— O que você quer, Felipe? — ela perguntou, com a voz baixa, mas firme.

Ele não respondeu. Avançou e agarrou seu braço, com força. O perfume alcoólico dele misturado ao suor quente invadiu o ar. Paola tentou resistir, mas foi puxada, arrastada até o quarto dele. O quarto cheirava a vinho e cigarro.

— Para com isso! Me solta! — ela gritou.

Ele a empurrou para dentro do quarto e trancou a porta.

— Quer ver o que você perde quando me desafia? — ele sussurrou, encarando-a com os olhos em brasa.

Paola estava confusa, o coração disparado, a respiração ofegante. Ela recuou, mas ele se aproximou, devagar, como um predador. Estava a centímetros dela. O olhar intenso, cruel. Levou a mão ao rosto dela, acariciando seu queixo, depois puxou seu cabelo levemente, forçando-a a olhá-lo nos olhos.

— Você se acha melhor do que aquela lá embaixo, não é? — disse, com desprezo. — Mas não passa de uma boneca frágil... que eu posso quebrar a hora que eu quiser.

Ela mordeu o lábio para não chorar. O medo era tão real quanto a dor.

— Por que está fazendo isso? — sussurrou, com os olhos marejados.

Felipe sorriu, sarcástico. Tentou beijá-la, mas ela desviou o rosto, envergonhada, aflita.

— Medo de mim agora, Paola? — ele provocou, encostando a testa na dela.

Ela apenas fechou os olhos, sentindo a respiração dele tão próxima, o calor do corpo, a tensão esmagadora entre os dois. Ele não a beijou. Apenas ficou ali, encarando-a com raiva, desejo e algo mais sombrio — confusão. Como se lutasse contra si mesmo.

Por fim, ele se afastou bruscamente.

— Vai embora. Sai daqui. Some da minha frente! — gritou, apontando para a porta.

Paola correu, destrancou a porta com as mãos tremendo e desapareceu corredor afora, ofegante, trêmula.

Felipe caiu no sofá do quarto, socou o braço da poltrona com força e murmurou:

— Maldita… por que você me deixa assim?

Lá embaixo, a mulher que ele trouxe já dormia embriagada no sofá. Mas na mente de Felipe, só existia uma imagem: a de Paola, apavorada, mas ainda assim firme.

Naquela noite, ele dormiu

E Paola não conseguiu pregar os olhos