Um lugar impossível de fugir

Arthur Arrow Costa de Sousa. Esse é o nome de um jovem adolescente sem muita sorte. Além de ter dermografismo sintomático e asma, ele também tinha um físico fraco e magro. Sua pele era pálida e sem graça. A única coisa que ele gostava em si mesmo, era seu cabelo. Ele era longo e bagunçado, mas de alguma forma Arrow conseguia arrumar ele de um jeito confortável. Ele penteava todos seus espessos e emaranhados fios loiros, para o lado direito do rosto. O que deixava ele parecendo decente. Claro que por redor da cabeça, alguns tufos de cabelo insistiam em ficar arrepiados e desarrumados. Principalmente um grupo de fios que teciam como serpente pelo seu nariz.

Seus olhos castanhos escuros, não eram chamativos ou interessantes. O que refletia muito bem sua personalidade fraca e patética. Ele era desinteressante, muito desinteressante! Isso se deve ao fato dele ser uma vítima, pelo menos uma vítima em sua própria cabeça e complexos. Alguém que olha para si mesmo, e tudo o que consegue sentir é… pena!

Arrow

Eu estou me escondendo agora mesmo! De quem? Bom… de ninguém em específico. De trás de um quiosque, eu me mantinha na sombra. Não tem ninguém me perseguindo, ou que queira fazer isso se me achar. Eu literalmente só estou aqui por medo.

Eu tinha conseguido escapar daquela treta toda na entrada. Mas agora eu estou perdido! Eu não tenho ideia para onde ir, e pedir ajuda ou informação não é uma opção segura. Por sorte eu já sei onde é meu dormitório, lá é possivelmente o único lugar seguro!

E como eu sei disso? Bem simples, por mais que esse lugar seja tudo o que os veteranos lá atrás disseram, ele ainda é uma escola onde as pessoas realmente se formam e saem daqui com empregos. Sei que isso não parece muito, mas as pessoas que saem daqui ocupam funções e cargos muito exigentes. Não é qualquer coisa, alguns trabalham literalmente com o governo em cargos que um erro pode significar a quebra do país.

O que eu estou querendo dizer é que, essas pessoas ganham dinheiro pelas suas habilidades, e essas habilidades são aprendidas aqui. Então pra aprender isso num local caótico e com brigas como a que eu vi mais cedo, seria necessário ter espaços onde o conflito é proibido! E com toda a certeza o dormitório é um deles!

Sei que isso é bem óbvio, e que eu fiz todo um raciocínio para algo que qualquer um iria imaginar de cara. Mas eu estou desesperado, e meu mecanismo de defesa é raciocinar o máximo possível!

Qualquer um que pudesse me ver agora, provavelmente acharia que eu sou louco. Correndo me escondendo de tudo que eu possa ver, até dos pombos que passavam aqui hora ou outra. Estava com muita cautela em cada passo até meu dormitório, tinha encontrado um mapa em alguma parede por onde eu passei. Então depois de tirar uma foto, eu fui em direção ao meu “oásis” nesse inferno.

Demorei um pouco pra achar, mas por sorte os dormitórios dos calouros ficavam perto da entrada do Instituto. Eram vários prédios um ao lado do outro, formando uma espécie de setor residencial. O lugar onde eu ficaria se chamava Residencial Lírio Verde, um enorme prédio de 9 andares, pintado na cor verde claro. Suas janelas eram de vidro azul escuro, e sua porta era feita com uma madeira resistente e escura.

Não tenho as chaves, então tudo o que posso fazer é tocar a campainha. Depois de alguns toques, eu escuto ela se destrancando. Com a porta aberta, vejo um cara um pouco maior que eu. Ele tinha uma pele branca levemente bronzeada, cabelos negros e usava um moletom preto. Ele me olhou de cima a baixo, parecia me analisar por completo.

— Você é novato?

Ele disse olhando nos meus olhos. Eu estava muito receoso para conseguir verbalizar qualquer coisa que pudesse surgir na minha mente, então apenas concordo com a cabeça. Ele abre mais a porta, me dando espaço para passar.

Ao entrar vejo uma área comum. a sala tinha alguns sofás e poltronas, podia se ver um grande lustre no teto e molduras pelas paredes. Ao meu lado direito eu vejo uma grande escadaria que levava a uma área acima daquela sala. O espaço era grande e bem decorado, o lugar parecia ser confortável. O garoto que me recebeu foi até uma das paredes e apontou para um lugar específico.

— Esse é o registro de inquilino, precisas, se registrar aqui para morar nesse dormitório.

Ele aponta para uma tela na parede. Parecia que alguém tinha colado um tablet nela.

— Coloque seu “Brasão de armas” aqui e você será oficialmente um inquilino deste dormitório.

Eu pego o tal aparelho, que eu tinha deixado dentro da mochila, e coloco na tela. Vejo ela acender e vários textos em amarelo aparecem. Meu “Brasão de armas” estava vibrando enquanto os textos eram registrados na tela, até que ela apaga novamente e meu aparelho parar de vibrar.

— A Partir de agora você é um morador da Lírio Verde, o número do seu quarto teve está no seu contador no Brasão.

Eu olho para o aparelho e vejo o número 23 no contador dele, aparentemente esse era o meu quarto. Eu pensei que o Brasão era somente para contagem de pontos, mas parece ter várias funções.

— Então, como foi sua recepção?

Essa pergunta me dá um arrepio, eu nem gosto de lembrar o que houve lá atrás. E acho que ele percebeu isso só de me olhar no rosto.

— imagino que não foi das melhores, os grupos de bullyings sempre atacam os calouros, e os fazem de escravos. Mas pelo jeito você conseguiu fugir sem muitas feridas.

Isso era verdade, eu consegui fugir antes que qualquer atenção fosse para mim. Não sei se mais alguém conseguiu fazer isso, ou o que ia acontecer se eu ainda estivesse lá. Provavelmente eu estaria sendo espancado ou extorquido.

— eu fugi enquanto um dos calouros lutava contra os veteranos.

Eu finalmente disse alguma coisa. Acho que até ele se surpreendeu que eu podia falar, já que até agora eu não tinha dito nada. Ele pareceu surpreso com o que eu tinha tido, parece que novatos lutarem contra veteranos não era algo comum

— ele venceu?

— não.

Ele não pareceu surpreso, realmente a ideia que os veteranos não ganhassem parecia boba. Ele se espreguiça enquanto parecia entediado.

— Novatos que se acham fortes sempre apanham no primeiro dia! Já os novatos como você, são os que normalmente conseguem sobreviver. Esse lugar não é fácil, ele vai de mastigar e cuspir como se não fosse nada. Você foi esperto, talvez consiga sobreviver aqui.

Ele falou isso naturalmente, mas pra mim isso era um absurdo. Como diabos um lugar assim existir?! Isso é algum tipo de entretenimento para ricos sádicos ou qualquer maluquices dessa? Eu não sei bem o que verdadeiramente “Santa guerra” é, mas sei que não posso ficar aqui.

— Eu não quero sobreviver aqui, eu quero sair desse lugar, como que eu saio?

Ele me olha com um sorriso levemente zombeteiro no lábio, não sei o motivo, mas sua expressão me deu um frio na espinha. Ele suspira ainda rindo, de certa forma ele parecia se divertir com meu desespero.

— Você só sai desse lugar formado!

Ele dá de ombros na resposta, como se não se importasse. Eu me desespero mais uma vez. Não é possível que seja só assim! A idade de formação aqui é de 24 a 25 anos. Eu iria ter que passar de 8 a 7 anos nesse inferno?

— Não é possível! E se eu me transferir para outro colégio?

— Eu não recomendaria isso, você não vai conseguir! É impossível se transferir para Santa Guerra, assim como é impossível se transferir dela. E se alguém descobrir que você tentou sair do colégio, o que você acha que vai acontecer? Acredite se você for até a diretoria para tentar sair de qualquer forma daqui, alguém vai descobrir em poucos segundos. E essa pessoa não vai guardar para ela mesma.

Então estamos praticamente presos aqui?! Esse lugar realmente quer nos manter nessa escola, e força a gente a viver essa loucura. Eu não tenho mesmo qualquer escapatória?

— Também te adianto que liga para os pais ou a polícia não vai funcionar! Se tentar falar qualquer coisa, ninguém vai conseguir entender ou conversar com você sobre esse assunto. Já ouvi gente grande neste lugar, falando que é como se a janela de overton maquiasse o que acontece aqui.

Então até pedir ajuda pra fora é algo impossível?! Esse lugar é literalmente uma prisão disfarçada de escola! Agora eu não tenho mesmo qualquer saída. Droga, eu sou um alvo fácil pra todo mundo. Não posso sobreviver em um lugar assim!

— Eu não sou muito disso, mas vou dar um conselho. Se você tem alguma habilidade, a use o máximo que puder. E se você for só medíocre mesmo, então suma de vista, não chame atenção ou seja notado. Aqui chamamos esse tipo de pessoa de “apagados”. Então, apague sua existência daqui.

Ele se virou e foi embora sem olhar para trás. Agora eu me ferrei de vez, não tenho qualquer habilidade que possa usar. Minha única chance é me apagar por completo!

Eu subo pelas escadas até o segundo andar. O ponto alto da escada era ligado a uma varanda no segundo andar que dava visão total do primeiro. Eu vou até as escadas que continuam a subir nos andares do prédio.

Eu chego no segundo andar onde meu quarto está. Ele era simples, porém espaço. Só uma cama, um guarda roupas e uma mesa de estudos. Nada mais, imagino que seja para eu decorar o quarto da forma que eu quiser.

Deito na cama, tentando descansar um pouco. Não era nem duas da tarde mas eu já estava cansado! Esse foi provavelmente o pior dia que eu já tive. Agora eu tenho que descobrir como aguentar os próximos anos da minha vida. Espero que pelo menos eu chegue a conseguir um bom emprego depois de passar por isso tudo