Como Sobreviver a Festas Diplomáticas Sem Matar Ninguém (Exceto por Dentro)

por Adeline Lisbane Hendrick

(comedidamente sedada e esteticamente exausta)

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Nada na galáxia é tão perigosamente entediante quanto uma festa diplomática.

Não se engane — não é um evento social, é uma arena disfarçada de salão de vidro, onde alianças são seladas com risos falsos, ameaças são feitas com elogios velados, e a sobremesa pode ou não conter um rastreador sublingual.

Você está preso num cubo de etiqueta, cheiro de perfume alienígena e o constante risco de alguém oferecer um drink que exige três fígados pra ser processado.

Neste capítulo, vou te ensinar como sobreviver com dignidade, mesmo que por dentro você esteja gritando e considerando se jogar na fonte ornamental radioativa.

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1. Chegando: A Primeira Impressão É um Campo de Minas com Tapete Luxuoso

Você precisa parecer:

Elegante, mas não ostentador.

Confiante, mas não imperial.

Distante, mas acessível.

Interessante, mas impossível de ler.

Dica essencial:

Se sua roupa não causa três interpretações culturais diferentes e uma crise existencial num diplomata menor, você está mal vestido.

Ah — e sorria.

Mesmo que o colar que você está usando esteja emitindo microchoques para manter sua postura ereta.

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2. A Conversa Diplomática: Uma Arte de Dizer “Morram” com Sotaque Suave

Ninguém fala o que realmente pensa.

Exemplos:

> “Adorei seu traje, é muito… autêntico.”

Tradução: Você parece um tapete com ego.

> “Tenho acompanhado seu trabalho de longe.”

Tradução: Estou reunindo provas para destruir sua reputação.

> “Precisamos conversar mais sobre nossa cooperação interespécie.”

Tradução: Eu sei o que você fez no Setor 9. E tenho imagens.

Dica de ouro:

Responda com mais ambiguidade ainda.

Assim todos saem convencidos de que você sabe de algo que eles não sabem, mesmo que você esteja tentando lembrar se já comeu nesse planeta antes.

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3. A Comida: Teste de Cultura, Estômago e Sobrevivência

Nunca pergunte “o que é isso?”.

A resposta geralmente é: “é servido vivo, mas está inconsciente” ou “é considerado uma honra ser digerido por você”.

Coma pouco. Mastigue lentamente.

E sempre observe se os outros estão suando, tremendo ou morrendo discretamente.

Se ninguém encostar na travessa central que brilha em tons proibidos... não seja o primeiro.

E se um diplomata erguer a taça com um sorriso largo demais, nunca brinde. Nunca.

O brinde pode significar: casamento simbólico, juramento de morte ou “acabei de te envenenar com uma substância que só reage à música tradicional desse planeta”.

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4. A Dança (ou O Momento Onde Dignidade Vai Morar com os Deuses Mortos)

Inevitável. Humilhante.

Você será convidado a dançar.

Recusar? Insulto imperial.

Aceitar? Você não sabe os passos e agora está fazendo origami com seu corpo diante da rainha-crustáceo.

Fugir? Causa diplomática. Talvez guerra.

Solução:

Sorria. Finja que é uma dança tradicional do seu povo. Invente nomes pros movimentos.

“Ah, este é o giro da fênix sussurrante.”

Eles vão aplaudir.

Você vai morrer por dentro.

Mas estará vivo.

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5. Quando Tudo Fica Pior: O Brinde Final, o Discurso e o Toque na Sua Alma

Sempre há um momento onde alguém:

Pede discurso espontâneo.

Faz uma piada envolvendo sua espécie e tentáculos.

Erra seu nome de propósito.

Ou pergunta publicamente se “você já resolveu aquela crise do seu planeta natal”.

Nesse momento, você respira. Sorri. E ataca com poesia.

> “Ah, meu planeta... ainda canta em chamas.”

“Sobre tentáculos: alguns chamam de fraqueza, eu chamo de múltiplas opções.”

“Meu nome é difícil... só para os fracos de memória ou intenção.”

Discurso feito. Dignidade mantida.

Assassinato evitado. (Por enquanto.)

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Conclusão: Você Não Sobreviveu. Você Flutuou Sobre a Morte com Um Vestido Impecável

Festas diplomáticas não são eventos. São testes.

De mente. De paciência. De identidade.

Você pode ter suado ácido pelas costas. Pode ter consumido algo vivo. Pode ter dançado com um ser que se comunica apenas por impulsos musculares no quadril.

Mas você saiu de lá com a cabeça erguida.

E ninguém morreu.

Exceto você... por dentro.