por Adeline Lisbane Hendrick
(Especialista em desmoronar internamente enquanto domina externamente)
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Todo ser inteligente, eventualmente, olha para o vácuo cósmico, para os próprios feitos, ou para o reflexo no visor espelhado da nave e se pergunta:
“O que eu estou fazendo?”
Logo em seguida vem:
“Por que eu estou fazendo?”
E, finalmente:
“Será que esse vestido me representa ou só esconde o vazio?”
Parabéns.
Você está em crise existencial.
Mas, claro, você ainda tem um império pra manter, decisões pra tomar, sorrisos pra distribuir e execuções pra adiar.
Então este é seu guia.
Para manter o trono, a pose, e o senso de controle enquanto sua alma implora pra desligar por trinta segundos e só... sumir.
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1. Reconheça a Crise — Em Silêncio, Com Estilo
O primeiro passo é aceitar.
Não, você não está “de mau humor”.
Não, não é “só cansaço”.
E não, aquele choro rápido no elevador antimagnético não é um episódio isolado.
Mas...
você também não precisa anunciar isso numa reunião interplanetária com olhos marejados e discurso sobre o “peso do comando”.
Por favor.
Reconheça a crise.
Depois, maquie-a com responsabilidade, perfumada com sarcasmo e armada com frases que ninguém questiona.
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2. Transforme a Crise em Mística Existencial
Você não está perdida.
Você está "reavaliando dimensões do seu propósito numa escala que poucos compreendem."
(Ninguém entende, então funciona.)
Exemplo:
> “Tenho pensado além da matéria. Há questões que ultrapassam a lógica administrativa.”
Traduzido: você está à beira de um colapso, mas ganhou uma aura filosófica no processo.
Bônus: isso assusta subordinados que acham que você está prestes a ascender, desaparecer ou explodir algo.
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3. Canalize Tudo Para Projetos Inúteis Mas Belos
Durante a crise, você não vai conseguir focar no essencial.
Então, não tente.
Redirecione o caos interno para algo esteticamente satisfatório e operacionalmente irrelevante.
Reformule o hino da sua estação orbital em três escalas sonoras.
Implemente jardins gravitacionais que ninguém visita.
Mude o protocolo de saudação oficial para incluir uma reverência e uma pergunta filosófica.
Esses projetos não resolvem nada.
Mas ajudam você a continuar se sentindo no comando enquanto tudo treme dentro.
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4. Use Espelhos — Reais ou Psicológicos
Crises se enfrentam olhando de frente. Mas de leve. Sem mergulhar.
Encontre um espelho. Um de verdade. Ou um subordinado que age como um.
Faça perguntas seguras: “Você acha que isso tudo ainda tem propósito?”
Intercale com tarefas: “...e depois, por favor, aprove os relatórios do Setor 12.”
Reflexão + ação = funcionalidade emocional temporária.
Você não se cura.
Mas também não paralisa.
E às vezes, isso é o máximo que conseguimos.
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5. Dê Nome à Crise. Domine-a. E Use Isso Como Escudo
Nomeie o que está acontecendo.
“Síndrome da Relevância Estagnada.”
“Paradoxo de Comando Existencial Temporário.”
“Ciclo de Contemplação Cósmica Avançada.”
Diga isso em voz alta. De preferência em reuniões.
As pessoas vão achar que é um projeto secreto.
Vão parar de perguntar se você está bem.
Vão temer que estejam por fora de algo perigoso.
E você ganha espaço.
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Conclusão: Você Está Quebrando. Mas Com Postura Impecável e Cronograma em Dia
Cair é natural.
Mas despencar em público, de pijama emocional e soluçando “ninguém me entende”, não é digno de quem comanda o caos com café e colar de poder ancestral.
Então, tenha sua crise.
Mas faça isso com:
Rosto calmo.
Mãos firmes.
Voz suave.
E uma lista de tarefas em execução.
E lembre-se:
Se ninguém percebeu que você está em colapso... então você ainda está no controle.