Ela fechou os olhos, deixando o frio penetrar em sua pele, adormecendo a dor surda por alguns momentos preciosos. Assim que começou a relaxar, a bolsa de gelo foi retirada de sua mão e segurada contra sua bochecha por outra pessoa. Ela não precisava abrir os olhos para saber quem era. O ar mudou, a presença familiar se acomodando ao seu lado, indesejada, porém inevitável.
Ela não queria falar com esse homem agora.
"Mel," a voz de Spencer era baixa e suplicante. "Você está tão brava que nem vai olhar para mim?"
Ela soltou um riso baixo e amargo, mas ainda se recusava a virar em sua direção. Em vez disso, moveu-se ligeiramente, virando a cabeça para longe do frio persistente do gelo. De repente, não era mais tão reconfortante.
Spencer suspirou. "Mel, você sabe como a Mãe é. Ela é idosa, tem um temperamento forte e às vezes fala antes de pensar. Olha, vou conversar com ela, está bem? Vou garantir que ela entenda. Ela só precisa ter mais cuidado com as palavras."
Melanie finalmente abriu os olhos, seu olhar firme encontrando o dele. Por um longo momento, ela simplesmente o estudou—este homem por quem ela havia esperado. E agora? Ele iria conversar com ela?
Agora, tudo o que ela queria era se livrar dele.
"Spencer," ela falou em voz baixa. "Vamos nos divorciar."
O corpo inteiro de Spencer ficou rígido, sua respiração presa como se as palavras o tivessem atingido fisicamente. Ele a encarou, como se tentasse avaliar se ela estava falando sério, procurando hesitação, incerteza. Mas ela não demonstrou nada. Simplesmente o encarou.
Antes que ele pudesse formular uma resposta, instintivamente estendeu a mão, segurando o rosto dela entre suas palmas. Ela estremeceu com o contato, e ele imediatamente suavizou seu aperto, mudando a mão para segurar sua bochecha não machucada.
"Melanie," ele sussurrou quase desesperadamente. "Como você pode dizer algo assim? Acabei de voltar. Ficamos separados por tanto tempo, esperando por este momento, para finalmente estarmos juntos. E agora que estou aqui, você quer jogar tudo fora?"
Seus olhos procuravam os dela, implorando, mas Melanie permaneceu impassível.
"Já pensei bem sobre isso," ela disse firmemente. "Venha comigo ao escritório de assuntos civis amanhã. Podemos anular o casamento—limpo, simples. Não é como se tivéssemos consumado."
Spencer estremeceu com isso, como se a lembrança o ferisse. Seu maxilar se contraiu, seu aperto sobre ela diminuindo enquanto ele exalava bruscamente. "Melanie, você está chateada agora. Não é hora de tomar decisões como essa. Vamos conversar quando você estiver mais calma, quando estiver pensando com clareza. Você me ama, como pode suportar me deixar assim?"
Ela balançou a cabeça, fingindo não ouvi-lo, fingindo que suas palavras não importavam. Mas mesmo agora, elas importavam. E eram muito claras. Não se tratava de se amarem. Era sobre ela amá-lo. "Se você não quer uma anulação, tudo bem. Vamos nos divorciar então. Já estamos separados há três anos—tempo suficiente para alegar diferenças irreconciliáveis. Ou algo como nos afastamos."
Sua voz estava uniforme, desprovida de qualquer emoção.
"Não seja tola, Mel!" Spencer disparou, seu tom paciente e arrependido desaparecendo. "Você está sendo muito dura com a Mãe e comigo! Sei que o que ela fez foi errado, mas sua raiva não era infundada. O que você fez foi inadequado—você me humilhou na frente da Hallie e do motorista!"
Os olhos de Melanie brilharam com incredulidade. "O que eu fiz foi errado?" ela repetiu, sua voz afiada com descrença. "Você está realmente aí justificando as ações dela? E quanto a você, Spencer? Você não me humilhou? Pensei que Hallie fosse como da família?" Ela soltou uma risada amarga. "Então, tudo bem para você fazer um escândalo na frente dela, descontar em mim na frente dela, mas no momento em que eu faço o mesmo, de repente, eu sou a vilã? Spencer Collins, nunca pensei que você fosse um hipócrita."
Ela deu um passo para trás, sua voz ficando fria. "Vou entrar com o pedido de divórcio amanhã."
Spencer ficou imóvel. A raiva em seus olhos tremulou e desapareceu, substituída por algo mais profundo—medo, desespero. Em um movimento rápido, ele estendeu a mão e segurou os braços dela, seu aperto firme, mas gentil.
"Mel, querida," ele murmurou, sua voz subitamente suave. "Por que estamos brigando assim? Nos machucando por causa de outras pessoas? Não prometemos que nada se colocaria entre nós?" Suas mãos deslizaram para segurar o rosto dela, seu polegar acariciando sua bochecha. "Apenas respire fundo, ok? Venha aqui. Deixe-me abraçá-la."
O corpo dela tremeu enquanto lágrimas se formavam em seus olhos, e antes que pudesse contê-las, elas caíram. Spencer a puxou para seus braços, segurando-a perto, seu calor envolvendo-a. Por um momento, apenas um momento fugaz, ela se permitiu afundar nele.
Acreditando que a havia acalmado, Spencer exalou, pressionando um beijo suave no topo da cabeça dela. "Sei que te decepcionei nesses últimos três anos, Mel," ele sussurrou. "Mas me dê essa chance, ok? Não fale mais em divórcio. Na verdade, me dê uma semana. Na próxima semana completamos três anos desde nosso casamento. Vamos celebrar—adequadamente. Vou apresentá-la oficialmente como minha esposa, como deveria ter feito desde o início."
Ele se afastou um pouco, examinando o rosto dela. "E nesta semana, vou apagar todas as queixas que você tem contra mim. Vou provar para você que posso ser o homem que você merece.
"Depois disso, se você ainda tiver dúvidas, se ainda achar que não pode me perdoar—conversaremos sobre divórcio. Mas até lá, nem pense nisso." Sua voz ficou baixa e possessiva. "Nenhum estranho vai se colocar entre mim e o que é meu. Ninguém vai se colocar entre nós."
A respiração de Melanie falhou. E então, como se um interruptor tivesse sido acionado dentro dela, seus olhos se abriram de repente e encontraram um olhar divertido.
Ali, encostado casualmente no batente da porta, estava Adam.