"É isso mesmo," Cora confirmou. "Mas depois de todo esse tempo, a equipe médica que rastreei não conseguia lembrar se o outro bebê era menino ou menina. Se você quer respostas reais, terá que perguntar aos seus pais biológicos."
Avery reconheceu isso com um murmúrio pensativo, emoções agitando-se em seu peito.
Cora acrescentou: "Os gêmeos Carter e Murphy nasceram no mesmo dia. Um incêndio começou no hospital no início daquela manhã. A equipe só conseguiu salvar dois bebês, dizendo que um pertencia aos Carter e o outro aos Murphy.
"Mas a verdade é que ambos os bebês eram da família Carter, e você foi entregue aos Murphy como a filha sobrevivente deles."
Avery franziu a testa, com suspeita infiltrando-se em sua voz. "Isso parece suspeito. Há uma boa chance de que houve incêndio criminoso e roubo de crianças envolvidos."
"É possível," Cora concordou. "A esposa do diretor do hospital havia sofrido uma perda traumática dois meses antes do incêndio, quando deu à luz gêmeos que não sobreviveram. Essa perda a quebrou mentalmente.
"Depois do incêndio, o diretor pagou tanto à família Carter quanto à família Murphy antes de se mudar para o exterior com sua esposa. Curiosamente, enquanto estavam no exterior, eles tiveram gêmeos novamente, que voltaram ao país no ano passado. Confirmei que esses gêmeos são, na verdade, filhos biológicos de Isaac e Regina Murphy."
A expressão de Avery clareou à medida que as peças se encaixavam. "Então, o diretor e sua esposa usaram o incêndio como cobertura para roubar os gêmeos Murphy e depois me passaram como a filha sobrevivente?"
Cora acrescentou: "Questionei o diretor do hospital e sua esposa em particular. Ele jurou por sua fé que não iniciou o incêndio. Ele alegou que, no caos, impulsivamente pegou os gêmeos Murphy e disse à sua esposa que os bebês deles não haviam morrido. O estado mental dela melhorou por causa disso, e ela está totalmente recuperada agora."
Após uma pausa, Cora perguntou: "Você quer mais detalhes sobre os gêmeos Murphy?"
Avery balançou a cabeça. "Eles têm algo a ver comigo?"
"Não, não diretamente," Cora respondeu.
"Então não me importo," Avery disse firmemente. "Minha prioridade é descobrir quem enviou aquelas cartas e a verdadeira história por trás do incêndio."
"Entendi," Cora disse. "Vou continuar investigando até chegarmos ao fundo disso."
"Obrigada," Avery disse suavemente. "A propósito, alguma novidade sobre meu mentor? Até a menor pista ajudaria."
Seis anos atrás, o mentor de Avery havia lhe entregado as rédeas do Grupo V, guiando-a passo a passo. Em apenas dois anos, o mentor transferiu o controle dos laboratórios médicos, centros de pesquisa de física e um observatório astronômico para ela antes de desaparecer da cidade sem deixar rastros. Apesar da brilhantez de seu mentor, Avery não conseguia afastar a preocupação que a corroía.
Após um breve silêncio, Cora respondeu: "Nada de novo ainda, mas não estou desistindo."
Avery suspirou suavemente, murmurou seu agradecimento e encerrou a ligação.
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Ao se aproximar da Corte Viento, um enorme congestionamento bloqueava a estrada à frente. Carros de polícia estavam espalhados pela cena, e Avery podia ouvir gritos altos e ver faixas ousadas balançando no ar.
Curiosa, ela saiu do carro e caminhou em direção a uma passarela para ter uma visão melhor. As faixas diziam:
"Arrependido de comprar um apartamento no Jardim Bard? Você vai se arrepender pelo resto da vida!"
"Três anos de atraso! Famílias sem casa, crianças sem escolas!"
"Sangue, suor e lágrimas para pagamentos de hipoteca... e ainda sem casa!"
Era um protesto organizado pelos proprietários de um empreendimento próximo. Avery os observou com um suspiro silencioso, sentindo simpatia por sua luta. Sem demorar, ela voltou para seu carro, fez um desvio por ruas estreitas e finalmente chegou à Corte Viento.
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A Corte Viento era uma comunidade tranquila e envelhecida com prédios desgastados de seis andares. Avery estacionou na entrada e encontrou o Edifício Nº 6.
Do lado de fora, Wesley e Claire Carter estavam esperando. Wesley usava um terno preto e sapatos polidos, enquanto Claire estava vestida com um vestido azul e saltos. Suas roupas eram um pouco antiquadas, mas impecavelmente limpas, irradiando dignidade.
Quando viram Avery, seus rostos se iluminaram com alegria e nervosismo. Eles se apressaram, parando a alguns passos de distância. Suas mãos tremiam enquanto se estendiam, mas hesitavam em tocá-la.
Wesley gaguejou: "Avery... tudo bem se te chamarmos assim?"
Avery sorriu calorosamente. "Claro."
Claire esfregava as mãos nervosamente. "Avery, temos estado tão felizes desde que te encontramos! Esta é a melhor coisa que nos aconteceu em anos. É só que... nossa família não tem muito. Estamos tão arrependidos."
Avery viu a sinceridade em seus rostos e gentilmente os tranquilizou: "Está tudo bem. Eu tive uma boa vida até agora, e isso não vai mudar. Vocês não precisam me dar nada ou se sentirem mal por isso."
Após uma pausa, ela acrescentou: "Se há algo que queremos mas não temos, vamos trabalhar juntos para conseguir."
Suas palavras sinceras comoveram Wesley e Claire até as lágrimas.
Wesley rapidamente se recompôs e riu: "A comida está pronta. Vamos subir e conversar durante o almoço, certo?"
Avery assentiu. "Claro."
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Assim que começaram a andar, uma voz aguda soou atrás deles: "Avery, espere!"
Avery instintivamente se virou em direção à voz, apenas para ser recebida com os cliques rápidos de câmeras enquanto um homem e uma mulher freneticamente tiravam fotos com seus telefones.