Pesadelo

Uma semana depois, Abigail acordou sobressaltada com um suspiro, seus olhos se abrindo rapidamente, sua respiração ofegante enquanto seus dedos arranhavam os lençóis encharcados sob ela.

A água fria que havia sido derramada sobre ela escorria pelo seu rosto, trazendo-a de volta ao presente, para fora do violento domínio de seu pesadelo.

Genevieve estava em pé sobre ela, uma tigela vazia em sua mão, sorrindo maliciosamente para Abigail como se tivesse feito um favor. Sua expressão era de nojo, seus lábios se curvando em um sorriso cruel e satisfeito.

"Você é uma bagunça", Genevieve zombou, sua voz afiada no silêncio da manhã. "Nem consegue acordar direito sem se jogar por aí como uma lunática. Que patético."

Abigail piscou, desorientada, seu corpo ainda tremendo por causa do pesadelo. O quarto estava claro e real, mas as imagens de seu sonho se agarravam à sua mente como sombras teimosas.

"Levante-se", Genevieve ordenou, jogando a tigela vazia no criado-mudo de Abigail com um estrondo.

"Eu decidi que não posso ficar por aqui sem fazer nada simplesmente porque você foi tola o suficiente para engravidar. Estou voltando para a escola, mas preciso que você primeiro complete todas as tarefas e qualquer outra coisa que precise ser entregue. Vou levá-las comigo, e apenas enviarei por e-mail minhas tarefas para que você possa fazê-las", disse Genevieve, mas Abigail não estava ouvindo.

Seus pensamentos ainda estavam dispersos e centrados em seu sonho confuso, e seu coração ainda não havia se acalmado.

"Você está me ouvindo?" Genevieve latiu quando Abigail não se levantou ou lhe deu atenção.

Abigail virou-se para ela, sua irritação brilhando em seus olhos antes que pudesse disfarçá-la. Genevieve ofegou em descrença quando percebeu.

"Você acabou de me encarar? Como ousa me olhar desse jeito, sua muda inútil? Você deve pensar que é alguma coisa agora simplesmente porque está grávida, e ele deixou você ficar com o bebê", disse Genevieve, olhando-a com raiva.

Abigail respirou fundo, dizendo a si mesma que não era uma muda inútil e que tudo o que tinha a fazer era tolerar Genevieve um pouco mais e fazer o que ela queria, e então Genevieve iria para a escola e sairia do seu caminho por alguns meses.

Mantendo os olhos baixos, Abigail saiu da cama lentamente, seus membros pesados e doloridos. Seus dedos roçaram em seu cabelo encharcado enquanto a água escorria pelo seu rosto como suor.

Genevieve se inclinou para perto, sua voz um sussurro baixo. "Se eu fosse você, abortaria essa gravidez. Esse homem que você chama de pai é frio e sem coração demais para fazer algo gentil ou atencioso por alguém. Ele tem segundas intenções. Acredite em mim."

Quando foi que Genevieve começou a se importar com ela? Abigail se perguntou com um bufo interior, mas sorriu e acenou com a cabeça para Genevieve enquanto pegava seu telefone e digitava: [Ainda bem que você não é eu, já que você é perfeita demais para ser uma muda inútil como eu. Obrigada pela preocupação.]

Genevieve fez uma careta quando Abigail virou a tela para ela, e ela leu a mensagem.

"Tanto faz. Venha comigo", Genevieve ordenou enquanto se virava para sair do quarto.

Genevieve parou quando seus olhos captaram algo na beira da cama, e ela se virou novamente, "O que é isso?" Ela perguntou com uma carranca, apontando para o familiar panda de pelúcia.

Os olhos de Abigail se arregalaram ligeiramente, seu coração batendo com medo enquanto Genevieve o alcançava.

"Onde e quando você conseguiu isso?" Genevieve perguntou, reconhecendo que era o panda de Dawn de anos atrás, que sua amiga adulta, Lucy, havia dado a ela.

Quando elas se conheceram, Dawn se agarrava ao panda de pelúcia e se recusava a deixar que ela ou qualquer outra pessoa o tocasse, nem mesmo sua Mãe. Demorou um tempo para Dawn deixá-la tocar, e com o tempo, Dawn havia lhe dito que o nome do panda de pelúcia era Lucy, e era um presente de Lucy, sua primeira melhor amiga.

Vê-lo agora com ela depois de todos esses anos a fez parar. Como ele tinha chegado às mãos dela novamente? Ela sabia o que era? Genevieve refletiu, perguntando-se se seu pai estava ciente de que ela tinha o panda em sua posse novamente. Ela duvidava disso.

Conhecendo seu pai, ele iria matá-la se ao menos visse Abigail com o panda de pelúcia. Ela não deveria entrar em contato com nada que pudesse despertar sua memória.

Abigail tentou manter sua expressão neutra enquanto digitava em seu aplicativo de texto para fala em vez de sua caixa de texto regular. A voz saiu, "Eu comprei. É fofo, não é? Você pode ficar com ele se quiser", ela ofereceu, sabendo que Genevieve o rejeitaria se ela o oferecesse como se não fosse nada especial para ela.

Genevieve enrugou o nariz com nojo, "Por que eu iria querer ficar com uma coisa tão feia? Vou jogá-lo fora", disse ela enquanto saía com ele.

Abigail franziu a testa, perguntando-se por que Genevieve se incomodaria em querer descartá-lo ela mesma, mas não disse nada enquanto a deixava levá-lo.

Por mais apegada que estivesse ao bicho de pelúcia, ela não queria implorar a Genevieve para deixá-la ficar com ele. Além disso, por mais que o bicho de pelúcia a lembrasse de Jamal, ela agora tem algo mais que sempre a lembrará dele.

O bebê em seu ventre.

Enquanto Abigail seguia Genevieve para fora, ela olhou para o relógio de parede em seu quarto. Era apenas uma da manhã, e por todas as indicações, Genevieve acabara de voltar do clube.

Abigail mal tinha dormido por duas horas, e não podia acreditar que Genevieve havia perturbado seu sono quando ela poderia simplesmente ter enviado as tarefas por e-mail.

Era óbvio que Genevieve estava fazendo isso apenas para frustrá-la. Ela desejava poder reclamar ou perguntar a Genevieve se elas poderiam esperar até de manhã, mas sabia que perguntar só atrairia sua ira, seguida por insultos intermináveis e xingamentos. E então ela ainda teria que fazer as ditas tarefas. Ela preferia evitar todo esse drama.

Ela só ia terminar isso agora para que Genevieve saísse tranquilamente pela manhã.

Elas entraram na biblioteca, e ela gesticulou para a mesa vazia onde apenas seu laptop estava. "Sente-se aí e comece", disse ela.

As sobrancelhas de Abigail se juntaram enquanto ela olhava para a mesa vazia, e digitou em seu telefone, [Começar o quê? Não há nada aqui.]

Genevieve olhou para ela, "Você é estúpida? Não sabe o que deve fazer? Verifique seu telefone ou algo assim e descubra o que aconteceu na minha ausência e o que precisa ser feito, então comece. Vou para a cama. Deve estar pronto quando eu acordar", disse Genevieve antes de sair com Lucy.

Com um suspiro cansado, Abigail foi se sentar na mesa. Irritava-a que Genevieve a tivesse acordado para isso quando poderia ter esperado até de manhã.

Enquanto desbloqueava seu telefone para verificar o grupo de chat do departamento por mensagens, viu que tinha um e-mail não lido, então clicou nele.

Seus lábios se contraíram quando viu que era um e-mail de divulgação da escola convidando seus alunos não-verbais para um evento de sensibilização sobre o uso de aplicativos de texto para fala para comunicação eficaz.

Ela suspirou profundamente, desejando estar na escola para poder participar do evento. Ela teria adorado conhecer e se comunicar com outras pessoas não-verbais e descobrir se elas tinham meias-irmãs que as atormentavam também.

Enquanto ela verificava o grupo de chat do departamento para ver se conseguia encontrar alguma tarefa ou informação útil para Genevieve, seus pensamentos continuavam voltando para seu pesadelo.

Embora ela estivesse sonhando muito com sua versão mais jovem por semanas, este sonho tinha sido diferente. Tinha sido aterrorizante.

Pensar nos passos, na figura, na arma, no sangue e na memória do grito final de uma mulher chamando por Dawn enviou um arrepio pela sua espinha.

Mas mesmo assim, não era o terror que tornava este sonho diferente dos outros. Ela não conseguia se livrar da sensação de que algo havia mudado em seu sonho, que ela tinha visto algo novo. Algo importante.

Ela parou quando percebeu o que tinha sido diferente desta vez, e seu telefone caiu de suas mãos.

Ela não tinha sido muda em seu sonho.

Todo esse tempo, ela acreditava que tinha nascido muda, como eles haviam dito, mas ela tinha falado em seu pesadelo. Ela estava cantando.

Isso nunca tinha acontecido antes.

E isso não parecia para ela apenas um pesadelo.

Era uma memória.