— E-eu não estava pensando em você — Elena respondeu, tentando soar durona, mas a hesitação no início de sua frase traiu sua bravata. Ela se sentou ereta, ombros alinhados, enquanto conseguia manter o olhar fixo no rosto do marido.
O Rei Killian ergueu uma sobrancelha. — Sério? — Ele perguntou, dando alguns passos à frente. — Eu poderia jurar que ouvi você dizer meu nome.
— Eu tenho sentidos muito aguçados, então não posso me enganar sobre o que ouvi.
Os olhos de Elena se arregalaram. Será que ela realmente tinha chamado o nome dele em voz alta, ou o Rei Killian estava blefando?
— Bem, você deve ter ouvido errado, meu Rei — Elena respondeu, mantendo um tom firme.
— Killian.
— Hã?
— Me chame de Killian de agora em diante — o Rei Killian pronunciou, agora de pé ao lado da cama, próximo de onde Elena estava sentada.
— T-tudo bem.
O Rei Killian se inclinou, mas em vez de Elena gritar e recuar como normalmente faria, ela permaneceu imóvel. Impassível. Ela olhou diretamente nos olhos do Rei Killian, mascarando perfeitamente o quanto se sentia nervosa por dentro. Sua expressão era indecifrável, e embora seu corpo tremesse levemente, ainda era possível acreditar em sua atuação de garota durona.
O Rei Killian estava agora muito próximo dela, seus lábios a apenas alguns centímetros dos dela. Seus olhos ainda fixos no rosto dela. — Diga meu nome — ele sussurrou, seu hálito quente acariciando o nariz de Elena.
— Killian — A palavra saiu imediatamente da boca de Elena. Rígida e vazia de qualquer emoção.
O Rei Killian ergueu uma sobrancelha enquanto se afastava lentamente de Elena. Ele a estudou por um momento, absorvendo seu estado atual. E em segundos, ele percebeu. Sua bela pequena recompensa estava tentando evitá-lo. Ele zombou.
— Vamos ver quanto tempo você vai aguentar, minha pequena companheira — o Rei Killian pensou consigo mesmo.
— Por favor, Killian, eu preciso descansar agora, tive um dia muito longo — Elena disse, e sem esperar por uma reação de Killian, puxou os lençóis sobre seu corpo, cobrindo-se, pronta para dormir.
O Rei Killian não se moveu.
Ele ficou ali, em silêncio, observando-a com um olhar que não era totalmente frio — mas também não era caloroso. Era curioso. Calculista.
Justo quando Elena pensou que ele iria se virar e sair, ela sentiu a cama afundar levemente ao seu lado. Seu coração saltou, mas ela não ousou se mover.
Elena soltou um grito abafado quando sentiu o braço enorme dele envolver sua cintura e, com um puxão rápido, ele a arrastou para seu peito. — Eu também tive um dia muito longo, esposa.
Elena engoliu em seco, mas não disse mais nada. Ela soltou um suspiro profundo antes de fechar os olhos para dormir.
Assim que Elena estava começando a adormecer, ela sentiu a respiração do Rei Killian fazer cócegas na parte de trás de seu pescoço, quente e deliberada. — Você age com coragem, mas seu coração te trai sempre que eu te toco — Killian murmurou, sua voz profunda e indecifrável.
Os olhos de Elena se abriram, sua respiração entrecortada. Ela não ousou se mover, mas sua mente corria.
Ele sabia que isso era uma atuação?!
Por quanto tempo Elena conseguiria manter isso?
****
Quatro dias se passaram e as lições continuaram. Infelizmente, ainda não ficou sério como Elena havia esperado, pois ela ainda estava aprendendo a andar, mas de alguma forma havia progredido para aprender a usar os talheres.
O Rei Killian... ele ainda seguia Elena por aí por alguma razão estranha. Apesar de quanto Elena tentava evitá-lo, ele sempre encontrava um jeito de voltar para o espaço dela.
Em algum momento, Elena imaginou o Rei Killian se apaixonando por ela, mas sempre afastava tais pensamentos. Primeiro, ela não estava à altura dele. Segundo, o homem era cruel demais para amar. Seu coração era simplesmente frio demais, e embora ele estivesse sempre nos assuntos de Elena, ela sabia que era por causa daquela coisa que ele queria dela. O motivo pelo qual ele se casou com ela em primeiro lugar.
Elena até tentou perguntar a ele sobre isso, para que pudesse dar a ele, mas ele nunca deu uma resposta significativa, sempre dizia: — Eu não preciso da sua permissão para conseguir o que preciso, amor. Quando for a hora, posso simplesmente pegá-lo.
Agora, voltando à parte em que o Rei Killian era frio. Havia até rumores circulando no palácio sobre como o Rei havia matado Zoe, aquela que deveria ser a serva real de Elena, porque ela havia desobedecido sua ordem.
Elena estremeceu. Como uma pessoa assim, capaz de acabar com a vida de uma jovem, poderia se apaixonar?
Sim, Zoe havia desobedecido a ordem de um Rei, mas a morte era um castigo excessivo.
Pensando nisso agora, que tipo de ordem o Rei deu a ela que ele teria que matá-la porque ela o desobedeceu? Foi apenas a ordem ou ele simplesmente a matou por diversão?
Só isso já deveria fazer Elena evitar Killian ainda mais.
Depois da lição sobre como usar adequadamente os talheres, Elena foi dispensada por Madame Lucille. — Tenha um bom dia, Rainha Elena — ela disse.
Elena fez uma reverência e se despediu da senhora antes de sair da sala de jantar. Esta foi a primeira vez que Madame Lucille não saiu com raiva, e foi porque Elena havia começado a aprender muito rápido.
Assim que Madame Lucille saiu de vista, Elena removeu o sorriso falso de seu rosto, ombros caídos. Ela já estava cansada de treinamentos tão insignificantes. Ela queria começar a aprender a coisa principal.
O pensamento de seu primeiro companheiro e sua prima malvada aproveitando o tempo juntos a machucava profundamente. Ela precisava dar uma lição neles o mais rápido possível.
Se ao menos Elena entendesse que o verdadeiro crescimento começa de dentro.
Antes de Elena começar seu treinamento naquele dia, o Rei Killian havia solicitado sua presença logo depois. Então, ela estava se dirigindo ao escritório dele naquele momento.
Chegando à porta do escritório, Elena bateu duas vezes antes de empurrar lentamente a porta, revelando Killian sentado atrás de sua grande escrivaninha de carvalho, suas feições marcantes emolduradas pelo suave brilho da luz da tarde.
Ele usava uma túnica rica e escura bordada com fios de ouro, um grosso cinto de couro preso à cintura e uma capa forrada de pele sobre um ombro. Seu cabelo escuro estava levemente desalinhado. Seus olhos intensos se ergueram para encontrar os dela, afiados e autoritários. — Venha — ele disse.
Elena engoliu em seco antes de levar suas pernas trêmulas em direção a ele. — Meu Rei — Ela se curvou em respeito.
— Sente-se — Elena o ouviu dizer, e seu queixo caiu quando ela olhou para cima e percebeu que ele não estava apontando para a cadeira à sua frente, mas batendo em sua coxa — convidando-a a sentar em seu colo.
— E-eu não posso—
— SENTE-SE. Esposa — o Rei Killian ordenou.
Elena engoliu em seco antes de cuidadosamente sentar-se em sua coxa, seu coração batendo tão rápido. Droga! Esqueça as atitudes corajosas. Era muito mais fácil falar do que fazer. O homem diante dela tinha essa aura... essa aura escura, sufocante, mas sedutora que a fazia ficar fraca.
O Rei Killian agarrou a cintura de Elena com firmeza, puxando-a para mais perto até que mal havia espaço entre eles. As mãos dela instintivamente pousaram no peito dele, sentindo o músculo sólido sob o tecido antigo.
A respiração dele estava quente contra sua orelha enquanto falava, baixa e deliberada, — Você tem me evitado, esposa, e eu quero saber por quê — Seu olhar era escuro, perigoso.
Elena engoliu em seco. Parece que o Rei não gostava de ser ignorado.