Uma Noite Entre Lobos

O crepúsculo mergulhava a cidade de Sasanoa em tons dourados e arroxeados, enquanto o cheiro de carne assada e especiarias se espalhava pelas vielas. Após o treino puxado com Simon, Katiel sentia cada músculo protestar a cada passo, e Sofitia, ao seu lado, andava com os ombros relaxados, suando um pouco, mas com um sorriso satisfeito.

— Você melhorou bastante — comentou ela, ajeitando os cabelos claros atrás da orelha.

— E você quase arrancou meu braço — retrucou Katiel com um sorriso torto. — Isso que é uma batalha simulada?

Sofitia deu uma risada leve, e os dois atravessaram o pátio central do alojamento dos Lobos do Deserto, indo em direção ao salão improvisado onde os mercenários já se reuniam para o jantar. Barris de bebida estavam abertos, panelas fumegavam e todos riam alto, aliviados após dias de luta e tensão.

Isis, a batedora de cabelos curtos e vermelhos, ergueu uma caneca e saudou os dois ao vê-los entrarem.

— Olha só quem sobreviveu ao treino do velhote! — gritou ela, fazendo alguns dos outros gargalharem.

Simon, sentado à cabeceira improvisada de uma longa mesa de madeira, ergueu sua caneca em reconhecimento.

— Ainda estão de pé? Já é mais do que esperava de alguns iniciantes — disse com aquele seu jeito calmo e imponente.

Katiel e Sofitia se sentaram próximos a ele, recebendo pratos cheios de carne, pão e legumes. O clima era leve, com histórias exageradas de combates, piadas sobre as cicatrizes recém-adquiridas e provocações amigáveis.

Depois de alguns minutos, Isis se inclinou na direção de Katiel e Sofitia, abaixando um pouco a voz para não chamar atenção dos demais.

— Enquanto vocês estavam treinando, um agente do governo apareceu para falar com o Simon — começou ela, bebendo um gole de sua caneca antes de continuar. — Como ele estava ocupado “moldando guerreiros” — fez aspas no ar e riu — ele me pediu para escutar.

Sofitia arqueou uma sobrancelha. — E o que ele queria?

— Estão finalizando o cálculo da recompensa pela missão na caverna. Vai ser uma bolada — disse Isis, piscando. — O agente pediu que o Simon compareça na cidade de Gonente daqui a dois dias para finalizar tudo.

— Então finalmente vão pagar pelos cristais mágicos e pela cabeça do Rei dos Ratos... — murmurou Katiel, olhando para a própria caneca. — Era o mínimo.

— A recompensa está sendo dividida com justiça, segundo o Simon. E pelo que vi, vocês dois já são considerados parte da matilha — disse Isis, batendo com a caneca na de Katiel, brindando.

O restante da noite se passou com mais histórias de estrada, planos para os próximos contratos e risadas abafadas. Pela primeira vez em muito tempo, Katiel se sentia parte de algo — mesmo que ainda tivesse um longo caminho pela frente. Os passos para mudar o destino de Sofitia estavam dados, mas a estrada até o verdadeiro final de Arkitia... ainda estava apenas começando.