Capítulo 12 - Parte 2

O mundo ao redor parecia girar. Klaus sentia cada fibra do seu corpo pulsando, como se sua própria carne estivesse tentando se desprender dos ossos. O combate, a matança, o caos brutal dos últimos dias haviam drenado tudo de dentro dele, deixando apenas uma casca exausta, um homem que mal conseguia manter-se de pé.

Tateou lentamente sua bolsa, os dedos trêmulos explorando o interior em busca de algo que o mantivesse em movimento. Cada gesto parecia exigir mais esforço do que deveria, os músculos resistindo, rígidos como pedras.

Então seus dedos encontraram o vidro frio da poção de vigor.

Era a única que conseguira comprar antes da missão. Poções eram caras, e aquelas que restauravam a energia de um guerreiro exaurido eram ainda mais raras. Ele hesitara em gastar tantos créditos nela, mas agora, sentado entre carcaças mutiladas e manchas de ácido no chão, sabia que aquela única compra havia sido sua melhor decisão.

Destampou o frasco com um esforço doloroso e bebeu.

O líquido amargo escorreu por sua garganta como fogo líquido, queimando seu estômago por alguns segundos antes que o efeito começasse. Primeiro, a sensação de leveza. Depois, um calor profundo, como se suas veias estivessem sendo reacendidas com energia.

O cansaço permaneceu, mas não era mais o mesmo.

Agora, era suportável.

Não sentia mais como se fosse morrer ali mesmo, esmagado pelo peso da própria exaustão. Era como se tivesse dormido algumas horas, o bastante para continuar, ainda cansado, ainda ferido, mas funcional.

Só que agora havia um novo problema.

A dor.

Antes, o cansaço absoluto mascarava tudo. Mas agora que seu corpo não estava à beira da falência, ele sentia. Cada músculo dolorido. Cada corte. Cada hematoma.

E, principalmente, suas costas.

A pele queimada pelo ácido pulsava, ardendo como se ainda estivesse sendo consumida pela substância corrosiva. Ele sabia que não podia deixar a ferida exposta por muito mais tempo. A infecção era um risco real, e não havia médicos ali.

Com esforço, Klaus remexeu a bolsa novamente e retirou uma das três poções de cura que havia comprado.

Beber seria inútil. A regeneração mágica era mais eficiente quando aplicada diretamente sobre o ferimento, mas aquilo não seria simples. O ácido havia atingido suas costas, e despejar o líquido ali exigiria um movimento desajeitado.

Respirou fundo e virou o frasco sobre o ombro, deixando o líquido prateado escorrer pela pele destruída.

O efeito foi imediato.

Uma ardência brutal, como ferro quente pressionado contra a carne viva. Ele cerrou os dentes, os punhos se fechando em reflexo à dor lancinante. O líquido borbulhou sobre a ferida, absorvendo-se lentamente, fechando os tecidos danificados centímetro por centímetro.

A dor era quase insuportável. Mas ele aguentou. Porque precisava.

Com o braço apoiado na perna, Klaus forçou-se a ficar de pé.

Cambaleou.

Trêmulo, tonto, mas determinado.

A lembrança do pequeno monte onde armara seu acampamento veio à mente. Era o único lugar relativamente seguro, com um pouco de pó repelente espalhado ao redor para manter os monstros distantes. Ele havia usado parte durante o combate, tentando evitar investidas diretas dos vermes, mas ali, no topo do monte, ainda restava uma quantidade considerável.

Era sua única opção de descanso.

Movendo-se com dificuldade, atravessou novamente a vegetação alta, as folhas roçando contra sua pele exposta, como se quisessem prendê-lo ali, como se a masmorra quisesse devorá-lo.

Cada passo era uma luta contra a fraqueza.

Quando finalmente alcançou seu refúgio improvisado, seus joelhos cederam.

O corpo inteiro exigia repouso.

Sem forças para preparar uma refeição adequada, ele puxou da bolsa um nutrivital mágico, uma mistura espessa e sem gosto, vendida em pequenos sachês prateados. Não era algo saboroso, mas era o suficiente para manter alguém vivo por mais um dia.

Bebeu o conteúdo em três goles pesados, cada um descendo como pedra em seu estômago.

E então, simplesmente desabou.

Deitou-se no espaço livre do pequeno monte, cercado pela poeira repelente.

Os olhos fecharam antes que o raciocínio o alcançasse.

Não houve sonhos.

Não houve descanso real.

Apenas o sono brutal e sem cor de um corpo forçado além do limite humano.