O silêncio do estúdio era quebrado apenas pelo dedilhar suave de Zaria no violão. As luzes fracas iluminavam seus olhos cansados, mas ainda brilhantes de paixão. A madrugada se estendia como tantas outras nos últimos meses. Seu primeiro álbum solo estava quase pronto, mas a pressão era sufocante.
Desde os 15 anos, quando chegou à Coreia do Sul como trainee da NovaStar Entertainment, vinda da Nova Zelândia, Zaria sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. A música sempre esteve em seu coração, e seus pais a apoiaram incondicionalmente, acreditando em seu talento desde pequena. Ela aprendeu sozinha a tocar piano, guitarra e violão, e sua voz doce e poderosa conquistava a todos. Mas, por trás da cantora mundialmente famosa, havia uma garota tímida e sonhadora, uma romântica incurável que expressava seus sentimentos através de melodias.
Com o passar dos anos, ao lado de suas amigas de grupo, Zaria encontrou confiança em si mesma e em sua arte. Agora, aos 26 anos, ela estava diante do maior desafio de sua carreira: provar que podia brilhar sozinha. No entanto, o peso da responsabilidade a consumia. As noites sem dormir, a ansiedade crescente e a falta de apetite tornavam sua rotina um verdadeiro campo de batalha.
E como se não bastasse a pressão profissional, sua vida amorosa estava desmoronando. Hunter, seu namorado, era um cantor talentoso, mas sua presença na vida de Zaria era como uma sombra que apagava sua luz. Ele a criticava, diminuía suas inseguranças e, pouco a pouco, corroía sua saúde mental. Zaria sabia que o relacionamento era abusivo, mas o medo de estar sozinha a impedia de sair desse ciclo tóxico.
Luna, sua amiga de grupo e confidente, via tudo de perto. Sempre que podia, tentava abrir os olhos de Zaria:
— "Você merece mais do que isso, Z. Você é incrível, mas está se deixando consumir por algo que só te machuca."
Zaria suspirou, olhando para as partituras espalhadas na mesa. Ela sabia que Luna estava certa. Mas como romper com alguém que, apesar de tudo, fazia parte de sua vida há tanto tempo?
O relógio marcava 3h47 da manhã quando Zaria pegou o celular e leu uma nova mensagem de Hunter. Seu peito apertou. Mais uma cobrança, mais um comentário ácido. Ela deixou o telefone de lado e fechou os olhos, respirando fundo.
Ela tinha um sonho. E não deixaria ninguém destruí-lo.
Segurando o violão com mais firmeza, Zaria começou a tocar novamente. Dessa vez, suas mãos não tremiam.
Nos primeiros anos de carreira, Zaria acreditava que poderia se acostumar com essa exposição constante. Mas, ao longo do tempo, percebeu que o preço da fama era alto. A liberdade era um luxo que ela não podia ter. Ir a um café sem ser seguida por fotógrafos? Impossível. Postar algo espontâneo nas redes sociais sem medo de críticas? Arriscado. Qualquer deslize poderia virar um escândalo.
A fama mundial era um sonho que ela perseguiu desde a adolescência. E agora, vivendo esse sonho, a realidade era muito mais pesada do que imaginava. Cada movimento seu era analisado, cada palavra dita em entrevistas virava manchete. Se sorria de menos, diziam que estava triste. Se sorria demais, diziam que era forçado. Sua vida já não pertencia mais a si mesma; era um espetáculo para o mundo inteiro assistir e julgar.
E, pior do que a invasão de privacidade, era a pressão para ser perfeita. Seu corpo, sua voz, seu comportamento — tudo precisava estar impecável. A internet era um campo minado de opiniões, algumas recheadas de ódio gratuito. "Ela está muito magra." "Ela parece cansada." "Ela não tem carisma." Comentários que pareciam pequenos, mas que se acumulavam como facas afiadas em sua mente.
---
Flashback – Último show do VENUS antes do hiato
Os flashes das câmeras piscavam como trovões, cegando Zaria a cada passo que ela dava. Ela sorria, acenava, posava para as fotos. Aos olhos do mundo, ela era a estrela que todos admiravam. Mas por dentro, sentia-se sufocada.
No camarim, antes do último show, Zaria se olhou no espelho. Os olhos levemente vermelhos denunciavam seu cansaço. Ela se sentou, massageando as têmporas. O peso do mundo estava sobre seus ombros. Ela amava cantar, amava compor, amava sentir a conexão com seus fãs. Mas, em momentos como aquele, se perguntava: até quando conseguiria aguentar?
Luna entrou na sala sem bater, como sempre fazia.
— Eu te conheço. Sei que você não está bem.
Zaria forçou um sorriso, mas Luna não se deixou enganar.
— Você não precisa carregar isso sozinha, — disse, sentando-se ao lado da amiga. — O mundo espera que sejamos fortes o tempo todo, mas somos humanas. Você pode falar, pode desabafar.
Zaria respirou fundo, sentindo um nó na garganta.
— Às vezes, eu só queria desaparecer por um tempo, sabe? Só ser... eu mesma, sem toda essa expectativa em cima.
Luna segurou sua mão, apertando com carinho.
— Então, vamos achar um jeito de te fazer respirar. Nem que seja por um dia.
Zaria olhou para a amiga e sentiu um pequeno alívio. Talvez ainda houvesse um espaço para ela no meio de toda essa loucura. Talvez ainda houvesse um jeito de encontrar paz no meio da tempestade.
A plateia vibrava em um uníssono ensurdecedor. O estádio estava lotado, milhares de fãs seguravam lightsticks cintilantes que pintavam o mar de gente em tons vibrantes. Era um espetáculo, uma celebração... mas também uma despedida.
Zaria respirou fundo, sentindo a adrenalina pulsar. A música que ecoava pelas caixas de som era a mesma que elas cantavam juntas há anos, as mesmas coreografias ensaiadas à exaustão, os mesmos sorrisos trocados no palco. Mas, naquela noite, tudo tinha um peso diferente. Era a última vez que subiriam ali como um grupo antes do hiato.
Ao seu lado, Luna, Mina e Syx cantavam com o coração. Cada palavra carregava um misto de gratidão e saudade antecipada. Durante anos, elas foram uma família. Dividiram lágrimas, sonhos, medos. Cresceram juntas. E agora, cada uma seguiria seu próprio caminho.
Quando a última música terminou, o silêncio que precedeu os aplausos foi avassalador. Zaria sentiu um nó na garganta. Elas se entreolharam e se aproximaram no centro do palco. Não precisavam dizer nada; seus olhos diziam tudo.
Luna pegou o microfone primeiro, sua voz embargada.
— Esses anos foram os melhores das nossas vidas. Tivemos altos e baixos, mas sempre tivemos umas às outras. E essa história nunca vai acabar.
Mina sorriu, limpando uma lágrima solitária.
— Vamos seguir caminhos diferentes por um tempo, mas nunca estaremos longe. Nossa amizade é para sempre.
Syx segurou as mãos das três, apertando forte.
— Obrigada a cada um de vocês que esteve conosco nessa jornada. Essa despedida não é um adeus, é um até logo.
Por fim, Zaria pegou o microfone. Seu coração batia acelerado. Ela olhou para o mar de fãs, respirou fundo e deixou as palavras fluírem.
— Nós começamos isso juntas. Nós crescemos juntas. E sempre, sempre seremos parte umas das outras. Não importa onde estejamos, não importa o que aconteça... nós nunca vamos nos abandonar.
O público explodiu em aplausos e lágrimas. Elas se abraçaram no palco, sentindo a energia do momento. Era o fim de um ciclo, mas também o começo de um novo capítulo para cada uma delas.
Quando as luzes se apagaram e elas deixaram o palco, Zaria sentiu um sentimento forte dentro de si. Havia medo do desconhecido, mas também esperança.
O futuro estava só começando.