o descarado Hunter

O estúdio estava iluminado por holofotes brilhantes, e a plateia vibrava com expectativa. O programa de variedades da noite tinha uma lista impressionante de convidados, incluindo a sempre carismática Yuna e o talentoso Hunter, que faria uma apresentação especial.

Yuna chegou ao set esbanjando energia, cumprimentando a equipe e os outros convidados com seu jeito descontraído e amigável. Ela já tinha cruzado com Hunter algumas vezes em eventos, mas nunca haviam conversado além do básico. Para ela, ele era apenas mais um artista talentoso na indústria. Yuna estava com a pele radiante, graças à semana que passou na Tailândia.

Quando ela o viu nos bastidores, sorriu educadamente e se aproximou.

— Ah, Hunter! Você também está aqui hoje? — disse com entusiasmo, estendendo a mão.

Ele sorriu de canto, segurando a mão dela um pouco mais do que o necessário.

— Yuna, sempre radiante — respondeu, inclinando-se ligeiramente. — Acho que eu tive sorte hoje.

Ela riu, sem perceber de imediato o tom insinuante.

— Vamos nos divertir no programa! — disse, sem dar muita atenção ao comentário.

Durante a gravação, tudo correu bem. Yuna brilhou como sempre, fazendo todos rirem com sua espontaneidade. Quando o programa terminou, os convidados se dirigiram aos camarins. Foi lá que Hunter aproveitou a oportunidade.

Ele se aproximou com um sorriso calculado, os olhos analisando cada detalhe da expressão dela.

— Você sempre foi assim tão encantadora ou está tentando me impressionar?

Yuna arqueou uma sobrancelha. O tom dele era claramente um flerte.

— Eu sou assim o tempo todo — respondeu, secamente.

Hunter riu e inclinou-se um pouco mais.

— Sabe, acho que devíamos sair qualquer dia desses. Aposto que seríamos uma ótima dupla.

O sorriso de Yuna se desfez. Agora estava claro. Ele estava flertando descaradamente.

— E você fala isso para todas? — perguntou, sem rodeios.

Ele ergueu uma sobrancelha, fingindo surpresa.

— Você está insinuando que eu sou um cara fácil?

— Não estou insinuando. Estou afirmando — disse ela, sem hesitar.

Hunter ficou em silêncio. Estava acostumado a ver mulheres reagirem de outra forma — sorrisos tímidos, risadas nervosas, interesse disfarçado. Mas Yuna? Ela não parecia nem um pouco impressionada.

— Gosto de gente sincera — comentou, tentando recuperar o controle da situação.

— Ótimo. Então, aqui vai outra sinceridade: não perca seu tempo comigo.

A resposta foi direta, cortante. Yuna não esperou por uma réplica. Deu um sorriso sarcástico e se afastou, deixando Hunter para trás com o ego ferido.

Ele permaneceu parado, a mandíbula travada. Aquilo não acontecia com ele. Mas, pela primeira vez, sentiu o amargo sabor da rejeição.

E não gostou nem um pouco disso.

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Zaria encarou a tela escura do celular, o peito subindo e descendo de forma irregular. Até quando viveria assim?

Ela se sentia sufocada, presa em um ciclo que parecia impossível de quebrar. Seu corpo estava no estúdio, mas sua mente viajou para o passado, para o momento em que tudo começou.

O começo – O Príncipe Encantado

Eles se conheceram nos bastidores de um programa de variedades, um daqueles shows em que grupos famosos participavam para promover seus álbuns. VENUS estava no auge, e, como sempre, os olhos estavam sobre elas. Foi então que Hunter apareceu.

Ele era um nome consolidado na indústria musical. Carismático, talentoso, bonito. Tinha aquele tipo de sorriso que hipnotizava e uma voz que fazia qualquer um acreditar em suas palavras. Zaria o admirava de longe, sem imaginar que um dia ele cruzaria seu caminho de maneira tão intensa.

A primeira vez que conversaram, ele foi atencioso, gentil. Tão diferente da maioria dos artistas masculinos que já conhecera. Hunter não era apenas um cantor famoso. Ele parecia ser um homem que entendia suas inseguranças, que sabia exatamente o que dizer para fazê-la se sentir especial.

— Ouvi você cantar hoje. Sua voz é incrível.

— Obrigada. — Ela sorriu timidamente, sem saber como reagir à atenção dele.

— Eu falo sério. Você tem uma forma única de expressar suas emoções. Dá para sentir tudo o que você está cantando. É raro encontrar alguém assim.

Ela ficou sem palavras. Ninguém nunca a elogiou daquele jeito antes.

A aproximação foi natural. Hunter era insistente de uma forma encantadora. Sempre enviava mensagens, perguntava como estava. Zaria, que sempre foi reservada com relacionamentos, começou a baixar a guarda.

E então ele a conquistou.

Nos primeiros meses, ele foi um sonho. Sempre atento, presente, mandava mensagens de bom dia, levava flores quando podiam se encontrar em segredo. Era o tipo de romance que Zaria sempre sonhou ter.

Mas os contos de fadas não duram para sempre.

O Príncipe Virou Vilão

Com o tempo, pequenas mudanças começaram a surgir. Primeiro, foram as reclamações sutis.

— Você nunca tem tempo para mim.

— Por que precisa sair com as meninas do grupo? Não é melhor ficarmos só nós dois?

— Não gosto quando você fala com outros homens. Você sabe que eles não te veem só como uma amiga, né?

Ela tentava justificar. Dizia a si mesma que era apenas preocupação. Ele a amava. Só queria cuidar dela.

Mas então vieram os acessos de raiva. As cobranças. Os telefonemas incessantes.

Hunter começou a controlá-la. Impedia que saísse com amigos, ficava irritado se ela demorava a responder mensagens. Zaria começou a evitar certas situações só para não provocar discussões.

Foi assim que ela se tornou prisioneira sem perceber.

Agora, anos depois, ali estava ela. Uma mulher feita, bem-sucedida, mas ainda presa ao mesmo ciclo de manipulação.

Mas algo estava prestes a mudar.

Zaria olhou para a tela do celular novamente e sentiu uma pontada de resistência dentro de si. Ela não queria mais viver assim.

Era a décima ligação. Ela o ignorou todas as vezes, mas sabia que ele não desistiria. E, como previsto, uma mensagem surgiu no visor:

"Se você não atender, eu largo o show que estou prestes a fazer e a culpa será sua."

Ela fechou os olhos e suspirou pesadamente. Outra ameaça. Outro lembrete de que Hunter a segurava por cordas invisíveis, puxando-a sempre que ela tentava respirar longe dele.

— Droga... — murmurou, pegando o celular com dedos trêmulos.

Ela não queria atender, mas se não o fizesse, ele cumpriria a ameaça. Ele já tinha feito isso antes. Criava cenas, se vitimizava, e Zaria sempre acabava como a vilã da história.

Com um aperto no peito, deslizou o dedo pela tela e levou o aparelho ao ouvido.

— O que você quer, Hunter? — Sua voz saiu baixa, cansada.

O silêncio do outro lado durou apenas um segundo antes da resposta vir carregada de frieza.

— Então agora eu sou alguém que precisa implorar para ser atendido?

Zaria fechou os olhos, já sentindo o peso daquela conversa.

— Você está prestes a entrar no palco. Eu não queria te atrapalhar.

— Ah, então eu sou o problema? Eu estou te atrapalhando agora? — A voz dele ficou mais intensa, carregada de falsa indignação.

Ela passou a mão pelos cabelos loiros, tentando manter a calma.

— Não foi isso que eu disse.

— Claro que foi! Você me ignora, me trata como se eu fosse descartável, como se tudo o que fiz por você não significasse nada! Mas tudo bem, Zaria. Se quer que eu saia da sua vida, eu saio! Vai ser ótimo ver os tabloides especulando porque eu larguei um show no meio. Vai ser maravilhoso ver os fãs se perguntando o que está acontecendo comigo. E sabe qual vai ser a resposta? Você.

Ela sentiu o estômago revirar.

— Para com isso. Você sabe que não pode jogar essa culpa em mim.

— Não posso? Então me diz, por que você não quer me atender? O que está fazendo de tão importante que não pode sequer me dar um minuto do seu tempo?

Ela não queria contar que estava acompanhando o progresso das vendas do seu novo álbum solo. Que havia escrito músicas que falavam sobre ele, sobre o inferno que vivia ao seu lado — como “Silent scars” e “Flowers in winter”.

— Eu estou no estúdio, trabalhando.

— Ah, trabalhando. Engraçado, porque quando eu te procuro, parece que sempre tem algo mais importante do que eu. Mas tudo bem, Zaria. Eu já entendi o recado. Você não me ama mais.

Ela sentiu um aperto no peito. Ele sempre fazia isso.

— Você sabe que não é assim.

— Então me prova. Sai daí agora e vem me ver depois do show.

Zaria engoliu em seco. Era sempre assim. Ele pedia, ele exigia, ele manipulava, e ela cedia.

Mas dessa vez... dessa vez ela não queria ceder.

Seu coração estava uma bagunça. Yuna estava voltando para sua vida. O novo MV estava prestes a ser gravado. E ela não podia continuar nesse ciclo para sempre.

— Eu não posso, Hunter.

Silêncio. Longo, pesado. Até que ele riu, uma risada amarga.

— Claro que pode. Você só não quer.

Ele desligou antes que ela pudesse responder.

Zaria encarou a tela escurecendo em suas mãos, sentindo o peso da culpa que ele sempre fazia questão de colocar sobre seus ombros.

Até quando ela viveria assim?

E, talvez, com Yuna de volta em sua vida, ela encontrasse forças para finalmente se libertar.