Capítulo 1 - A Promessa no Silêncio

O mundo estava em guerra, mas no alto das Montanhas das Sombras, onde o vento cortava como lâmina e o céu era eternamente escuro, a verdadeira batalha não era contra um exército. Era contra o destino.

Dentro do Santuário do Vazio, o Lorde Demoníaco Noctros Jun mantinha-se em silêncio absoluto. Sua respiração era um só com a noite. Seu Qi não se manifestava como luz ou fogo, mas como ausência. Como buraco. Como morte. Um vórtice invisível ao seu redor fazia o chão ranger, as pedras tremerem e os ecos cessarem. As chamas tremeluziam,

como se a própria realidade hesitasse em sua presença.

No coração do Santuário, envolto por pilares de obsidiana e brasões esquecidos, Noctros Jun resistia. Seu corpo estava coberto por cicatrizes antigas e feridas recentes, mas seus olhos ardiam como estrelas negras. Ele estava no mesmo nível de poder que o atual Imperador Espiritual da Aliança Murim — Daeseon Hwan, o Patriarca do Clã

Celestial do Jade Puro.

Naquela noite, a Aliança Murim não veio apenas com soldados: vieram com lendas vivas. Ao lado do Imperador, estavam os três Patriarcas das Famílias Celestiais:

• Shen Daeseon – Clã do Jade Puro: Mestre em selos espirituais e purificação.

• Do-Han Yurei – Clã do Lótus Estelar: Controladora da energia lunar e das marés internas do corpo.

• Baekho Jinsa – Clã da Lança Branca: General supremo, mestre em ataques

diretos e comando tático.

Mas o que realmente desequilibrou a balança foi uma traição interna.

Das nove famílias do Culto Demoníaco, quatro se dobraram diante das promessas da Aliança:

• Dazhel Mirukane — Espada Cega.

• Kaien Aeorodan — Lâmina Voadora.

• Ishel Sangvrael — Sangue Amaldiçoado.

• Takar Vireon — Relâmpago da Ruína.

As outras cinco famílias resistiram. Leais até o fim.

No centro da sala cerimonial, de joelhos, sangrando e em lágrimas, Noctros Jin. Com dezoito anos, o herdeiro do Vazio já era considerado um prodígio: cultivador no pico da Primeira Classe, alma espiritual expandida, domínio parcial da Técnica do Vazio Sombrio. Mas diante da ruína, ele era apenas um filho.

— Pai, permita-me morrer ao seu lado — disse Jin, voz trêmula. — Se vamos cair, que seja juntos.

O Lorde Noctros Jun, imponente em sua túnica ondulante feita de sombras

solidificadas, abaixou-se diante do filho. Seus olhos, dois abismos em miniatura,

refletiam não tristeza, mas propósito.

— O vazio não morre — murmurou. — Apenas muda de forma.

Ele ergueu a mão direita. Seus dedos se tornaram traços de escuridão. Com um gesto circular, símbolos ancestrais começaram a girar em torno de Jin. As runas abissais se fundiram ao peito do rapaz, queimando sua alma com memórias de mil gerações.

『Sistema do Vazio: Herdeiro reconhecido. Núcleo transferido. Sincronização incompleta. Dormência ativada.』

Jin caiu de joelhos, olhos arregalados, sentindo o vazio tocar até seus ossos. O chão ao redor afundou como se a gravidade tivesse sido dobrada. O ar foi sugado. E então...

O selo estava feito.

Os traidores atravessavam os portões com seus campeões à frente:

• Dazhel Mirukane, Mestre da Espada Cega, avançava em silêncio absoluto. Sua espada não tinha fio visível, mas partia rochas com intenção pura.

• Kaien Aeorodan, Senhor da Lâmina Voadora, usava mantos azuis reluzentes e manipulava lâminas invisíveis pelo ar, como serpentes cortantes.

• Ishel Sangvrael, Matriarca do Sangue Amaldiçoado, caminhava descalça,

rodeada por uma névoa vermelha viva, feita de sangue corrompido.

• Takar Vireon, Portador da Ruína Relampejante, flutuava com o corpo envolto em relâmpagos negros, cada passo rachando o céu.

O rugido do Qi colidindo contra Qi explodiu. Guardiões do Vazio usavam técnicas como Coluna Silenciosa e Palma Afundadora, que selavam os sentidos e

desequilibravam os meridianos dos inimigos. A cada golpe, o ar era rasgado em fendas negras. Mas eram poucos contra muitos.

Jin observava. O campo espiritual se tornava uma tempestade de técnicas —

relâmpagos, sangue, espadas voadoras, marés demoníacas e fogo espectral. O chão não existia mais. Era só ruína e caos.

Jun, em seu último momento, elevou-se aos céus do santuário. O ar congelou. O mundo pareceu parar. Com as mãos erguidas, desenhou um símbolo ancestral. Seus olhos brilhavam.

—『Buraco do Início』 — ele sussurrou.

Uma esfera de energia puramente negativa surgiu em seu peito. Pequena como uma pedra, mas crescendo com cada batida de seu coração. Era o núcleo do Vazio, o ponto onde tudo começa — e tudo termina.

Quando a esfera explodiu, ela não lançou luz — absorveu. Como se rasgasse a

realidade, apagou parte do mundo. Não sobrou poeira. Nem grito. Apenas silêncio absoluto.

Jin foi arremessado pelas ondas do impacto. Seu corpo colapsou sobre brasas e escombros. Quando seus olhos fecharam, só restava o som do nada — e a promessa de um retorno.

『Se acham que o vazio foi derrotado... nunca o conheceram de verdade.』