O céu, antes iluminado pelo sol, mergulha em trevas absolutas, transformando o dia em uma noite sombria e sufocante. O reino de Ákatlon estremece diante do fenômeno, e o alerta se espalha rapidamente. A escuridão não é natural—algo está vindo.
Nos pátios de Ákatlon, soldados murmuram em tom de apreensão, seus olhares se cruzando em busca de respostas que ninguém tem. O medo cresce como uma sombra invisível, até que um estrondoso bater de palmas corta o ar como um trovão mágico, silenciando tudo em um único instante.
Klausio surge com sua postura determinada, seus olhos percorrendo a multidão reunida. A autoridade em sua voz dispensa qualquer dúvida:
— SOLDADOS, PREPAREM-SE! SINTO QUE UMA AMEAÇA SE APROXIMA! DEVEMOS PROTEGER NOSSO REINO E NOSSO POVO SEM HESITAR!
— SIM, SENHOR! — ecoam os guerreiros em resposta, firmes como aço.
Um guarda se aproxima rapidamente, sussurrando a exigência urgente do rei. No mesmo instante, Klausio desaparece, reaparecendo ajoelhado diante do trono, a cabeça abaixada em reverência absoluta.
A sala real não pertence ao castelo—ela existe além da realidade, um espaço simbólico criado há eras, quando Ákatlon e seus habitantes eram diferentes. Apenas aqueles cujo nome inicia com "K" podem ser transportados diretamente para lá ao chamado do rei.
Sentado no trono, o rei de Ákatlon ergue seu olhar para Klausio. Seus cabelos vermelhos escarlate brilham, irradiando um poder ancestral. Sua pele marrom-escura, forte e imponente, reflete a resiliência dos Katlônios. Suas vestes, de um tecido aparentemente simples, possuem uma resistência sobrenatural, moldando-se perfeitamente ao seu corpo musculoso.
— Klausio, leve os soldados ao centro dessa perturbação e ELIMINE SUA CAUSA! Nossos magos detectaram uma força imensurável por trás disso. Vá e ponha um fim nela! — ordena o rei, sua voz carregada de autoridade.
O rei, portador do lendário olho que tudo vê, tentou enxergar a origem da escuridão—mas tudo que viu foi o céu obscurecido. Nenhum sinal da força que os magos identificaram.
— Sim, meu rei! — responde Klausio, sem hesitação.
Ele deixa a sala real e avança até o cristal azul-claro brilhante, que sustenta a barreira mágica de Ákatlon. Dentro do cristal, uma esfera vermelha e preta pulsa como um núcleo gravitacional vivo. O vermelho e o preto parecem lutar entre si, se misturando em um fluxo hipnótico, como uma dança interminável de cores dentro da esfera.
Klausio estende as mãos e abre uma passagem na barreira, permitindo que os soldados avancem para o desconhecido.
— O REI NOS CONVOCOU PARA DESTRUIR A FONTE DESSA ESCURIDÃO! ESTÃO PRONTOS?
— SIM, SENHOR! — respondem os guerreiros em uníssono, prontos para a batalha.
Ao cruzarem a barreira, seus corpos se sentem incrivelmente leves, como se um peso invisível fosse removido de seus ombros. O reino de Ákatlon, envolto em magia gravitacional, mantém uma força esmagadora sobre seus habitantes. Fora dele, seus músculos reagem com um poder renovado, como se um novo fogo ardesse em seus corpos.
A marcha segue por sete horas, até que o coração de Turfazia se aproxima. A cada passo, a aura negativa se intensifica, drenando suas forças, suscitando dúvidas e inquietação em suas mentes.
Então, à distância, soldados humanos surgem no horizonte, marchando na mesma direção. Suas armaduras prateadas reluzem na luz fraca, e seus passos são firmes. Na frente deles, o líder se destaca. Sua armadura, uma obra-prima de metal reluzente, é meticulosamente decorada com padrões dourados que parecem emitir um brilho próprio. Sua capa dourada se movimenta com o vento, transmitindo poder e liderança absoluta.
— Senhor, há guerreiros humanos se aproximando! — relata um Katlônio.
— Assim como nós, devem buscar o fim dessa escuridão... — responde Klausio, pensativo.
Então, um estrondo abala Turfazia.
O céu racha, linhas roxas se espalham, como se a própria realidade estivesse se fragmentando!
— O que está acontecendo!? — exclamam os soldados, tomados pelo pavor!
Do alto, sombras escuras despencam das fendas. Mãos sinistras emergem, conectadas a algo além do que pode ser visto!
Os Katlônios infundem magia em suas armas, os humanos fortalecem seus corpos, e os magos lançam feitiços contra as criaturas!
— ATAQUEM COM TUDO! NÃO DEIXEM ESSAS COISAS TOCÁ-LOS! — brada Klausio.
Mas seus esforços são inúteis. As mãos atravessam os corpos, consumindo os soldados em uma dor lenta e agonizante.
Katlônios e humanos lutam até o último fôlego tendo suas almas sugadas pela escuridão implacável.
Um massacre inevitável.
Klausio sente o impacto das sombras com seu corpo, sua energia sendo arrancada de dentro dele. O peso da magia sombria o consome, e ele percebe que não há escapatória.
Ele respira pela última vez.
A escuridão vence.
[SOBRE ÁKATLON]
O reino de Ákatlon é habitado pelos Katlônios, uma raça de guerreiros cuja pele marrom-escura e cabelos pretos são características predominantes. Seus corpos, naturalmente poderosos e esculpidos pela intensa gravidade do reino, refletem sua força extraordinária. Como símbolo de orgulho racial, seus trajes de batalha são minimamente restritivos, destacando a musculatura impecável que os define.
Os guerreiros de elite, reconhecidos por sua força e resistência acima da média, recebem nomes iniciados por "K", um privilégio concedido apenas aos que demonstram excelência nos testes de potencial mágico e capacidade de adaptação à barreira gravitacional. Entre esses, um traço ainda mais raro se manifesta—alguns nascem com cabelos vermelhos, uma marca singular que, ao liberar grandes quantidades de poder, torna-se vermelho escarlate como um fogo ardente.
Há 500 anos, quatro crianças extraordinárias surgiram misteriosamente em Ákatlon—Kirk, Kannes, Kana e Kewa. Diferente das demais, que precisavam de incubadoras para suportar a pressão gravitacional do reino, elas resistiram desde o nascimento, como se a força esmagadora da barreira não as afetasse.
Além disso, todos possuíam cabelos vermelhos, um fenômeno que só ocorria uma vez a cada cinco mil anos. Para evitar alarde e especulações, seus cabelos foram alterados por magia estrutural, tornando-se pretos, como os dos Katlônios comuns. Entre eles, Kirk se destacava acima dos outros—seu potencial mágico era dez vezes superior, e seu nome, começando e terminando com "K", parecia carregar um significado desconhecido.
Porém, apesar desse enorme poder latente, Kirk quase não utilizava sua magia dimensional, confiando inteiramente em sua força física avassaladora. Seu domínio sobre a magia era limitado, e mesmo sendo uma habilidade rara, ele preferia a brutalidade de seus golpes em combate.
O rei acolheu as quatro crianças como filhos, garantindo que fossem treinadas pelos generais mais experientes de Ákatlon. Cada um recebeu um mentor, mas o destino reservava algo inesperado...
Um dia, os generais foram enviados ao Monte Arf, uma região envolta em mistério, sob ordens secretas do rei.
— Por que estão demorando tanto? Já faz três meses! — reclama Kana, inquieta.
— Devem estar enfrentando algo INCRÍVEL! — sugere Kirk, imaginando batalhas épicas.
— Calma, prodígio. Você só tem 12 anos... — brinca um guarda próximo.
Irritado pela restrição, Kirk escapa da sala onde estavam confinados, ignorando as ordens.
— Avisem os guardas! O rei ordenou que fiquem aqui! — grita o soldado encarregado.
— Nós vamos buscá-lo! — exclama Kana, aproveitando a oportunidade para fugir também, levando Kannes e Kewa consigo.
— ESPERE, VOLTE AQUI! — berra o guarda, enquanto as crianças desaparecem pelos corredores.
Enquanto isso, os generais retornam do Monte Arf e relatam suas descobertas ao rei.
— Meu rei, encontramos uma sala secreta conectada a algo fora do nosso tempo... — diz Karnero, líder dos generais. — Parecia a semente de um ser desconhecido.
— Fora do nosso tempo? Explique melhor! — pede o rei, seu olhar sério e atento.
— O Monte Arf é um local onde o tempo se distorce! Para nós, foram três dias; para Ákatlon, três meses! Encontramos um cubo negro que se apresentou como Áztrofi. Ele nos amaldiçoou, dizendo que só temos cinco anos de vida!
O choque percorre a sala como um vento gelado.
— Nossos corpos estão se deteriorando... — murmura Kalena, sua voz carregada de pesar.
Escondidos, Kirk, Kannes, Kana e Kewa ouvem cada palavra com o coração apertado.
— Isso não pode ser verdade... — sussurra Kirk, segurando lágrimas que se recusam a cair.
Apesar da revelação assustadora, os quatro continuam seus treinamentos. Aos 14 anos, Kirk derrota seu mentor, um feito jamais visto antes. Kannes, Kana e Kewa alcançam a mesma conquista aos 15 e 16 anos, respectivamente. Pelo seu poder incomparável, Kirk é nomeado líder, mesmo sem dominar a magia convencional. Sua força física e habilidade dimensional compensavam qualquer falta de afinidade.
[DE VOLTA AOS DIAS ATUAIS]
No campo de batalha, o rei de Ákatlon, com seu olho que tudo vê, observa os eventos se desenrolando—ele testemunha as primeiras mãos sombrias caírem, iniciando um massacre aterrador.
Sua visão atravessa a escuridão, penetrando na fonte do caos.
Então, ele vê além das rachaduras, em uma dimensão separada e selada. E lá está ele.
A origem da ameaça.
Um elfo de quatro braços, abraçado ao cubo negro que os generais tinham mencionado séculos atrás.
Sentindo-se observado, o elfo ergue uma de suas mãos e dela emanam chamas negras. Com um gesto, ele aponta o fogo para onde a visão do rei estava focada.
E, de repente, fecha a mão.
O rei de Ákatlon, sentado em seu trono, tomba sem vida.
Seu poder, sua percepção, seu legado—apagados em um instante.
Em meio ao caos, um mensageiro corre para entregar a última ordem do rei a Kirk, Kannes, Kana e Kewa—que avancem ao local da perturbação e destruam a ameaça.
Sem tempo a perder, os quatro se preparam para a batalha. Kana, Kannes e Kewa disparam em alta velocidade, impulsionados por magia.
Kirk, no entanto, não conseguia usar sua magia dimensional para voar.
Em vez disso, ele confiou em sua força descomunal, flexionando os músculos com um salto avassalador que fragmentou o solo abaixo dele.
Abaixo deles, as mãos sombrias já haviam alcançado o chão, consumindo os últimos soldados humanos e Katlônios.
Sem hesitar, Kirk canaliza sua magia dimensional e dispara um corte no espaço.
As mãos se partem instantaneamente, desintegrando-se em fragmentos de pura escuridão.
Mas então, o céu se rachou ainda mais.
A energia negra se condensou, formando duas mãos gigantes que forçaram a abertura do firmamento.
A realidade se quebrou.
E das profundezas da escuridão, ele surgiu.
Um elfo de quatro braços, de cabelos negros e olhos vermelhos escarlate. Sua aura era opressiva, um peso invisível que dobrava o espaço ao seu redor.
Ele desce lentamente, pairando no ar, seu sorriso escancarado revela dentes afiados.
— Ora, ora. Quatro insolentes que ousam me enfrentar... — diz ele com um brilho de malícia nos olhos.
— Espero que sua coragem me DIVIRTA!