Tróia (3)

A sala de guerra era iluminada por tochas silenciosas, como se o próprio fogo respeitasse a gravidade da reunião. No centro, sobre uma mesa de pedra esculpida com relevos antigos, repousava o mapa de Troia e seus arredores, marcado com pequenos marcadores dourados e rubros.

Sentados ou de pé, em volta da mesa, estavam em destaque quatro figuras importantes.

O rei Prism — com a serenidade de um soberano forjado em guerras.

Hector — A espada e maior general de Tróia.

Orion — Com grande presença, postura calma e foco absoluto.

Toby — braços cruzados, a impaciência vibrando sob a pele.

Outras figuras estavam mais afastadas mas ainda assim demonstravam vontade de ajudar.

Quill estava mais ao canto , sentado em silêncio, atento e nervoso, buscando mais ajudar do que atrapalhar.

Próximo a ele estava Daryl, encostado levemente à parede, observador e sério.

A alegre garota loira, Kim, Haru e outros também estavam próximos, junto com outros guardas, guerreiros e estrategistas, mas deixando os outros tomarem a dianteira na discussão e planejamento.

— Enviados dos deuses, saibam que vocês têm tanta importância aqui quanto qualquer um de nós, queremos escutar suas opiniões. — disse Prism.

Junto com guerreiros experientes de Argos, foi visto um grupo à parte de pessoas que nunca vimos antes. Certamente não são guerreiros comuns de Argos. — Falou o general Hector enquanto lia um relatório entregue por um de seus soldados.

Orion arregalou um pouco os olhos ao escutar isso e imediatamente voltou seu olhar ao grupo de sobreviventes que estava mais distante deles.

Ao notar esse comportamento, Daryl se aproximou dele e perguntou se ele sabia de alguma informação que os outros não tinham acesso.

— Você lembra que no primeiro cenário nós fomos divididos? — Perguntou Orion buscando manter sua voz baixa.

— Você acha que esse grupo de pessoas também chegou aqui conosco? — Respondeu ele em tom de surpresa.

— É uma possibilidade, mas por que estão com Argos? O objetivo do cenário é proteger Tróia, não atacar o castelo.

— Talvez sejam algum tipo de revolucionários que queiram se opor ao sistema?

— Não sei, mas precisamos descobrir.

Ao mesmo tempo que eles conversavam, Toby levantou a voz e disse:

— Eu vou ao campo de batalha — disse sem hesitar. — Não nasci pra ficar escondido.

— Coragem é importante — rebateu Hector — mas um corpo sem cabeça é só peso morto. Precisamos de estratégia, não apenas força.

— E por isso mesmo eu vou ficar — disse Daryl, sem perder o ritmo. — Eu leio padrões. Posicionamento, formação. Só preciso que me deixem observar o campo.

Quill levantou o braço e todos se viraram para ele.

— Só quero dizer que... talvez o papel de cada um não seja o que imaginamos. Nem todos que parecem frágeis são fracos.

— Eu concordo — disse a garota loira, cruzando os braços. — Mas alguém vai ter que proteger essas muralhas caso algo aconteça. Se todo mundo correr para o campo aberto, o castelo pode sofrer ataques por dentro. Eu também fico aqui.

— Então, o que vocês propõem? — perguntou Hector, voltando-se para ela.

Orion interrompeu e disse:

— Faremos isso, vamos nos dividir. Dois grupos: ofensiva e proteção.

Ele apontou para a borda norte do mapa.

— Toby, Hector, o exército e eu vamos com o grupo de frente. Ataque direto.

Depois, para o castelo.

— Daryl, você monitora o movimento deles daqui do castelo junto com os outros que quiserem ficar. Use seus olhos. A qualquer sinal de ruptura, informe.

Orion então olhou para Quill e a garota loira.

— Vocês dois ajudam ele na fortaleza. Se entrarem pelas muralhas ou pelos túneis, vocês precisam impedir.

— Então é isso — concluiu Prism, erguendo-se.

— Que os deuses estejam conosco e Apolo ilumine nossos caminhos.

Assim, todos começaram a se preparar para assumir suas funções, sendo elas dentro da fortaleza ou no campo de batalha.

Ao cair da noite, os guerreiros de Tróia e os sobreviventes da Zona 001 já estavam a postos. Estrategistas, ajudantes, guardas internos e parte das futuras lendas dentro da fortaleza e os combatentes próximos ao portão da magnífica cidade.

O tempo passava, a madrugada era fria e estava na hora da troca de postos para observar o horizonte.

— Está no seu turno de descanso, Orion — Falou o general Hector enquanto ajustava sua armadura.

Orion não respondeu. Não que não tivesse escutado, ele estava focado demais olhando para o horizonte, como se esperasse algo.

— Orion? Você está bem? — Questionou o general.

Ele parecia em transe, completamente congelado, olhar fixo e seus olhos dourados estão tão vivos como nunca antes estiveram.

— Meu coração está palpitando mais rápido que o normal — Falou o jovem de olhos dourados.

— Isso é normal, nervosismo no campo de batalha é algo que acontece quando não se tem prática e costume.

— Não é isso. — Respondeu apático.

— Não? Então o que é? — Perguntou Hector, preocupado.

— Eles estão chegando, eu sei disso.

———

『Cenário Obrigatório - Vida na Fortaleza』

Categoria: Obrigatório

Dificuldade: Introdutório

Objetivo: Proteja o castelo das invasões inimigas

Recompensa: 200 moedas

Falha: Morte

Prazo: 20 horas

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— Além de ser o último dia, eu sinto que eles estão aqui.

Hector ficou confuso, Orion parecia ter certeza absoluta e plena convicção no que estava dizendo.

Nenhum dos dois trocou uma palavra por alguns minutos, até que Orion falou o que todos temiam.

— Acorde todos, eles estão aqui.

De repente, um exército gigante apareceu no horizonte. Milhares de guerreiros fortemente equipados apareceram repentinamente prontos para o ataque.

O general, ao ver isso, acreditou em Orion e imediatamente acordou todos os que estavam dormindo.

Todo o exército de Tróia levantou e se organizou para a guerra que tinha acabado de chegar, enquanto Orion ainda estava em pé olhando o horizonte e seus novos inimigos.

O exército inimigo parou seu movimento, se posicionou e se abriu para criar um caminho até a vanguarda.

Orion observava tudo sem nem piscar, como se ele estivesse conectado com alguma coisa no meio daquele exército.

Quanto o exército inimigo se abriu completamente e formou um caminho, uma carruagem forte e imponente apareceu atravessando todo o exército .

Nessa carruagem estava um guerreiro magnífico, um general inimigo, uma linda viva e absoluta, e Orion sabia quem era.

Achilles.

Ele desceu com passos firmes, cada movimento pesado como um martelo divino forjando o destino. Sua armadura não era comum, era feita de um metal dourado escurecido pelo sangue, entalhado com símbolos que lembravam maldições e glória. Seus olhos eram tão azuis quanto a ira dos deuses. Não piscavam. Não vacilavam. Apenas olhavam, como se não vissem pessoas, mas obstáculos.

Seu corpo era o de um semideus: músculos esculpidos, postura perfeita, e cicatrizes que contavam histórias que ninguém ousava questionar. Na cintura, carregava uma espada longa demais para qualquer homem comum, mas perfeita para ele. Suas mãos pareciam criadas para esmagar titãs.

Assim que essa figura grandiosa apareceu no horizonte, os olhos dourados de Orion, até então firmes e silenciosos, começaram a brilhar com uma intensidade sobrenatural. Uma luz dourada condensada e feroz emanava deles como um espectro vivo.

Uma aura dourada explodiu ao seu redor como uma tempestade contida, oscilando como chamas etéreas que dançavam em puro poder. O ar crepitava, a energia que emanava dele parecia viva, pulsando como um coração ancestral batendo.

Os olhos de Orion deixaram de ser meros olhos. Tornaram-se faróis de luz e aura brutas, buracos de luz viva, onde o poder em si encontrava sua saída. Raios dourados escapavam das bordas de seus olhos como rachaduras de um sol prestes a explodir, e sua presença se tornou esmagadora, impossível de ignorar.

Todos ficaram em choque e sem palavras ao ver tudo isso que acontecia com Orion, tanto as pessoas de Tróia quanto as de Argos, praticamente todos viram algo sobrehumano.

Mesmo do outro lado do campo de batalha, Achilles sentia e podia ver tal chama dourada vindo de um único ser.

Naquele momento, assim que Orion despejou seu olhar em Achilles, ele pôde ver algo que não existia em nenhum outro ser humano. Aquilo não era terreno, não era mundano. Diante dele, estava algo além da carne, ele podia ver um deus.

Então, acima de Achilles, existia uma figura colossal e etérea: uma mulher de porte divino, envolta por uma armadura reluzente de prata e ouro, com olhos que continham a sabedoria de eras esquecidas e uma coroa de louros que ardia em luz celestial.

Atrás dela, uma lança de pura energia e um escudo adornado com símbolos antigos flutuavam no ar, girando lentamente como constelações em órbita. Um manto feito de estrelas esvoaçava como se o próprio cosmos estivesse sendo arrastado junto com sua presença.

Era Atena, em parte em essência e em parte viva e pulsante, pairando como uma divindade protetora sobre seu campeão. As chamas sagradas que envolviam a projeção sagrada cintilavam em dourado e azul, criando um brilho que pairava sobre Achilles.

A energia que emanava daquela aparição divina rasgava o céu invisível sobre o campo de batalha. E, mesmo sem palavras, seu olhar transmitia uma verdade absoluta:

Achilles não lutava sozinho.