Capitulo: 1

Dor.

Foi a primeira coisa que ele sentiu — e também o que o fez despertar.

Tontura e confusão vieram logo depois, sua visão estava fora de foco. E a náusea, foi-se seguida de vômito.

Fraqueza e a exaustão eram evidentes em sua pálida face que pressionava-se contra os frios ladrilhos do chão.

Enquanto seu peito dolorosamente subia e descia trazendo ar para seus pulmões, ele pensou:" Onde estou? "" Por que dói tanto? "" Que cheiro esse? "

Perguntas cirúrgicas em sequência. Mas a única resposta que recebia era a mesma: uma dor aguda que atravessava seus crânios, mutilando sua mente, em visão ao esforço.

Entre uma respiração a outra, sua visão começava a clarear, voltando ao foco e, revelando as verdadeiras formas dos objetos confusos que o rodeavam.

Com esforço que ameaçava consumir um pouco de sua energia, ele se levanta fracamente do chão e olha ao redor.

O que viu, o fez embrulhar o estômago.

O local parecia onde ele se encontrava parecia ser um salão de festas ou o que um dia fora um. O local, há muito aparentava ter sido abandonado, trazia em sua estrutura as marcas do tempo: tapeçarias rasgadas, móveis quebrados, o cheiro de mofo impregnado no ar.

Mas não era só isso.

Havia sangue. E corpos. Espalhados por todo o local.

Cada cadáver parecia mais grotesco que o anterior.

A visão repulsiva o fez despejar tudo o que ainda poderia lhe reiniciar em seu estômago.

" O que é isso? "" O que aconteceu aqui? "

Esses eram seus pensamentos, que logo foram interrompidos por uma dor lancinante em sua cabeça.

Grunhiu, ele tenta agarrar o rosto com as mãos em uma tentativa de amenizar a dor. Mas, no momento em que sua mão tocou a pele de seu rosto, uma torrente de dor excruciante percorreu todo seu corpo.

Caiu contra os frios ladrilhados, ele começa a contorcendo-se no chão, rangendo os dentes em agonia.

Após alguns minutos agonizantes, a dor finalmente começa a dar sinal de diminuição. Com o coração acelerado e suando frio, ele começou lentamente a se recuperar.

Com um grande esforço de sua parte ele se levanta de novo, apenas para cair em exaustão sobre um dos corpos.

O cheiro.

A sensação da frieza da pele.

E os olhos arregalos, que o observavam.

O fez se afastar rapidamente, se arrastando até uma parede próxima. Onde um cristal vermelho cresceu irregularmente sobre a pedra. ele se apoiou.

Enquanto rangia os dentes para a dor em seus membros ele acaba acidentalmente, olhando para o cristal.

Ali, ele viu uma figura esfarrapada caída contra a parede — a metade do rosto estava cravada de cortes. 

Onde deveria estar um de seus olhos, estava uma bagunça ensangüentada 

Parte de seus lábios superiores estava desaparecida, expondo gengiva e alguns dentes.

Seus braços e pernas estavam repletos de cortes, mas era seu peito, que estava em pior estado.

Além dos diversos cortes profundos que se estendiam até sua barriga, ele também tinha uma grande marca de contusão, no centro de seu peito.

A visão o chocou tanto que quase caiu novamente ao chão, mas, por sorte, conseguiu se apoiar com um dos braços. Um grunhido de dor escapou de seus lábios ao forçar o membro ferido.

Ele olhou de novo para o cristal — e notou algo estranho.

A figura fazia exatamente os mesmos movimentos que ele.

Quando endireitou as costas contra a parede, ela também o fez.

Se levantasse a mão, a figura no cristal o imitava.

Se movesse o braço, ela o acompanhava.

Demorou alguns segundos até que compreendesse: que aquele… era ele.

Imóvel diante do reflexo, fiquei ali, observando a si mesmo, perdido em pensamentos confusos e dolorosos.

— Esse... sou eu?

— Por que estou assim?

— Como fiquei assim?

— Por que não me consegue lembrar de nada?

— Por que... eu—

Mais uma vez, a dor crescente rompeu seus pensamentos.

Após a passagem da dor, veio uma tosse violenta, que ecoou por todo o local.

Fechando os olhos com força. Por um instante, você desejou que tudo aquilo sumisse. Que tudo não passa de apenas um delírio.

Mas a dor não deixava dúvidas. Aquilo era real.

Ele tentou lembrar de seu nome.

Nada.

Tentou lembrar a própria voz — se era grave, suave, rouca.

Nada.

Tentou imaginar alguém... um rosto conhecido, um lugar, uma sensação. Mas era como cavar na areia. Nenhuma memória vinha. Apenas o presente. Apenas aquele frio, aquele cheiro de mofo, de sangue, de pedra úmida. Apenas o som abafado de sua respiração… e do silêncio ao redor.

"Quem sou eu?"

O pensamento se alojou nele como uma lâmina.

Encostado com as costas na parede fria, inspirando de forma ritmada, ele passou a encarar suas próprias mãos.

O silêncio o envolvia como um manto pesado.

Com o tempo, a sonolência e o cansaço se depositaram sobre seus ombros como pedras. Ele piscava devagar. O corpo pedia descanso. Mas ele não conseguia dormir.

Não devia.

Nas profundezas do seu ser, havia uma certeza silenciosa: se se entregasse ali, não acordaria novamente.

Cerrando os dentes e ignorando a dor que ainda queimava por dentro, ele se forçou a levantar outra vez — mas agora, mais estável que antes.

Soltando alguns grunhidos abafados, começou a caminhar ao longo da parede, arrastando os pés, apoiando-se sempre que a fraqueza ameaçava dominá-lo.

A cada passo, a sonolência parecia se desprender, como se fosse poeira sacudida dos ombros. E, em algum momento, ela se foi completamente. Um leve alívio inflou seus pulmões.

O cansaço, porém, era mais denso, mais enraizado. Mesmo após descansar com as costas contra a parede, ele apenas cedia um pouco. Mas ainda assim, qualquer alívio era um bálsamo.

Quando finalmente chegou ao fim da parede, que fazia linha ao centro do salão, respirou fundo, preparou-se e deu o primeiro passo para o meio do espaço aberto.

Mas apesar da breve recuperação, seu corpo ainda não era suficiente para sustentá-lo sozinho. Ele cambaleava. Os passos vacilavam. A queda era iminente.

E no meio do caminho… suas pernas o traíram.

Desabou de joelhos, não muito longe de seu destino. Ofegante, lutava para respirar. Suor e sangue escorriam por seu rosto até o chão. Cerrando os dentes com força, tentou empurrar o corpo para cima — e falhou miseravelmente.

Com os braços trêmulos apoiados no chão, as lágrimas enfim caíram de seu único olho.

E então, ele gritou.

Um grito rasgado, afogado em raiva, dor, frustração — tudo o que havia sido sufocado até aquele instante.O som ecoou pelas paredes do salão, atravessando sombras e os corpos que jaziam imóveis no entorno.E então... o eco voltou.Mas não como som. Como sugestão.

De joelhos, exausto, ele sentiu o desespero envolvê-lo, como se o arrastasse para as profundezas. Estava prestes a ceder. Prestes a cair nos braços do nada.

Mas então...

Um som.

Uma flauta.

Doce, suave.Uma melodia pura surgiu sobre ele como uma brisa morna.Gentilmente, afastou a escuridão.

E foi apenas quando o som cessou, que ele percebeu: suas mãos estavam unidas, em prece.

Mas, estranhamente, ele não se sentiu confuso. Nem com medo.

Sentia-se... alegre.

Como se algo profundamente importante tivesse sido encontrado. Algo que havia se perdido no meio da dor e da escuridão.

A dor ainda estava ali, mas não ardia tanto.O cansaço persistia, mas agora era suportável.

E dentro dele, um pequeno fragmento de memória se revelou.Vago, frágil… mas real.E então, de sua boca, um nome escapou.

— Yllara...

A palavra saiu com adoração e apreço.E no instante em que foi dita, seu coração se aqueceu,como se tivesse reencontrado algo que jamais deveria ter sido esquecido.

Com uma nova força ele se ergueu do chão.Suas pernas ainda tremiam, mas não o trairiam novamente.

Inspirou fundo, sentindo o ar preencher seus pulmões como um braseiro reacendido.E então avançou, firme, atravessando o salão até o centro.

Lá, repousava a carcaça aberta de uma criatura escamada, colossal, caída em silêncio.O sangue seco manchava o chão como rachaduras de ferrugem.

Ele a encarou por alguns instantes, a besta morta.Algo dentro de si dizia que ela havia sido importante.Mas não era hora de buscar respostas.E então, virou o rosto… e seguiu em frente, deixando-a para trás.

Não muito adiante, surgiu diante dele um grande portão —Tão imenso que tocava o chão e se perdia até o topo da parede de pedra.

Diante de tal magnitude, o medo e a insegurança afloraram.Seus dedos tremeram. Seus pés hesitaram.

Mas…Graças à melodia que ainda ecoava em sua alma,eles não seriam suficientes para detê-lo.

Aproximou-se.Colocou as duas mãos contra o metal frio do portão.Fechou os olhos.E empurrou.

Com esforço.Com dor.Com tudo o que restava dentro de si.

O tempo se estendeu.Mas por fim, o portão cedeu.Apenas o suficiente — uma brecha para passar.

Do outro lado, um corredor extenso.

Iluminado por tochas vermelhas, presas às paredes como olhos em vigília.

Ele deu o primeiro passo.

Depois o segundo.

E então, com cautela, seguiu em silêncio pelo caminho marcado pelas chamas.

Até parar.

Diante de outro portão.

Menor que o anterior,mas ainda assim imponente.

Ele respirou fundo.E então, pousou as mãos sobre a superfície escura e áspera do portão.

Atrás dele, as tochas crepitavam em chamas vermelhas,estalando como se o observassem, silenciosas testemunhas do momento.

Com menos esforço do que no portão anterior,mas ainda com determinação,ele empurrou.

O portão cedeu lentamente, rangendo como se acordasse de um longo sono.

Uma nova brecha se abriu diante dele.

Apenas larga o bastante para que pudesse passar.

Mas do outro lado, não encontrou um corredor iluminado por tochas...

...e sim três grandes portões.

Um adornado com detalhes vermelhos.

Outro com entalhes de um profundo azul.

E o terceiro marcado por brilhos de um vívido amarelo.