Chuva

Capítulo 5 — Chuva

A floresta estava silenciosa, envolta por uma fina névoa trazida pela leve chuva que caía sem cessar, impedindo qualquer movimentação significativa. Para evitar um resfriado, Arky, Carol e Sawo se abrigaram sob o pequeno declive de uma colina, onde o solo ainda se mantinha seco.

— Essa chuva chegou de repente... Estamos perto do reino, faltam só algumas horas de caminhada. — Sawo suspirou, exausto, sentando-se ao lado de Carol.

— Pois é. Mas é melhor esperarmos a chuva passar. Não quero que vocês fiquem doentes. — Carol sorriu de forma gentil, embora seu rosto ainda estivesse abatido.

Enquanto isso, Arky ajeitava o chão para que todos pudessem descansar. Observando o céu cinzento, calculou que a chuva poderia durar a noite toda.

— No fim, acabamos levando mais tempo do que o esperado. De um dia, já viraram quase três. — Arky ajeitou a capa molhada sobre os ombros, tentando manter a calma.

Carol abaixou a cabeça, constrangida. — Me desculpem... Eu estou atrasando vocês, não é? — Sua voz soou fraca, carregada de impotência. Seu corpo ainda estava frágil devido aos ferimentos.

Arky se aproximou e balançou a cabeça. — Não se preocupe. Sua segurança é a coisa mais importante agora. Sawo arriscou a vida pra te ajudar, e quando chegarmos ao reino, terão médicos que vão cuidar de você de verdade.

— Isso mesmo! Precisamos te levar pra lá. — Sawo hesitou e mordeu o lábio antes de expressar um pensamento inquietante. — Mas, Arky... E se eles não deixarem a gente entrar no reino?

— Não se preocupe com isso. — Arky retirou uma carta dobrada e um brasão dourado de dentro da bolsa. — Eu tenho a carta e o brasão da família Kim... A família da minha mãe. Ela era Agatha Kim, a heroína de Castle Divons. É bem famosa nessas regiões.

— Você chegou a ler essa carta? — Carol perguntou, curiosa.

— Ainda não. E, pra ser honesto, não quero. — Arky apertou o punho, tentando conter sua frustração. — Nosso pai nos abandonou, nos deixou pra morrer. Ele deu comida estragada e fez um curativo horrível em você...

Carol e Sawo se entreolharam em silêncio, suas memórias daquele dia eram vagas e confusas.

— Não fiquem assim... Não importa mais. — Arky suspirou. — Ele deixou essa carta. Provavelmente o reino vai nos acolher por causa disso.

— Talvez... Mas, Arky, como vamos viver lá? — Sawo franziu o cenho. Nenhum deles tinha dinheiro ou apoio.

— Vamos precisar arrumar trabalho. — Arky ficou pensativo. — Difícil sermos adotados... Talvez a única saída seja trabalhar como aventureiros ou... — ele hesitou — roubar.

Antes que a conversa ficasse mais sombria, Carol abriu um sorriso genuíno. — Vamos tentar encontrar a minha mãe. Ela deve ter ido até o reino procurar por nós.

Seu sorriso, cheio de esperança, desapareceu ao ver a reação dos amigos. Sawo e Arky evitaram encará-la, e o silêncio que se instalou foi doloroso.

— Por que estão assim? — Carol perguntou com a voz trêmula. Logo, seus olhos se encheram de lágrimas, e ela começou a chorar.

— Desculpa, Carol... — Arky murmurou, seu olhar sombrio refletindo a culpa que sentia.

Sawo a abraçou, tentando confortá-la enquanto a chuva continuava a cair ao redor deles.

— Meu pai deu a vida pra proteger nossa família... Mas ele falhou. — Arky desviou o olhar, incapaz de encarar Carol naquele estado.

Sawo apertou o abraço ao redor dela, sentindo a dor silenciosa que todos compartilhavam.

— Arky... Será que nosso destino pode mudar? — Sawo perguntou, tentando lutar contra o desespero crescente.

— Eu... não sei. — A voz de Arky saiu baixa, quase como um sussurro.

Carol, apesar da pouca idade, já carregava um fardo imenso. Sua família inteira fora tirada dela em um instante. Após alguns minutos, suas lágrimas pararam, mas o peso em seu coração permaneceu.

— Arky... Qual é a idade mínima pra virar um aventureiro? — Ela perguntou, enxugando o rosto inchado.

— Acho que não importa, contanto que você seja no mínimo classe E. Por quê? Você quer ser aventureira?

Carol assentiu com determinação. — Não quero ser forte. Só quero ter força suficiente pra resgatar os corpos da minha família e dar a eles um funeral digno.

O sorriso de Arky voltou, desta vez mais sincero. Ele segurou a mão dela com firmeza. — Primeiro, você precisa se recuperar. Não há motivo pra pressa... Somos só crianças.

Sawo se levantou de repente, apertando o cabo da espada com força. Seu olhar brilhava com uma nova convicção.

— Arky... Seu pai te ensinou teoria de esgrima, não é? — Ele perguntou, encarando o amigo.

Arky entendeu imediatamente o que Sawo queria e se levantou também.

— Está bem... Eu vou te ensinar o que eu sei.

Ambos se prepararam, empunhando gravetos como se fossem espadas. Arky assumiu uma postura de ataque semelhante à de seu pai, Carlos, os pés firmes no chão e o olhar atento.

— Eu sei que não tenho força pra vencer um duelo contra você, mas quero ver o quão rápido e forte você é. Meu pai me ensinou um treino básico que pode ajudar. — Apesar de Sawo ser mais velho, alto e forte, Arky confiava em sua técnica de esgrima.

— Certo! Vamos lá! — Sawo sorriu, motivado.

— Então... vamos! — gritou Arky, avançando.

Os gravetos se chocaram com um estalo seco. Sawo tentou atacar, mas, de repente, congelou no meio do movimento. Seus olhos se perderam, e uma visão tomou conta de sua mente:

Naquele vislumbre estranho, Arky parecia diferente — mais velho, mais forte, carregando uma aura de frieza e poder. Já Sawo, com o rosto endurecido pela raiva, o encarava com um ódio profundo. Ambos pareciam à beira de uma batalha real.

— Arky...? — murmurou Sawo, confuso e em transe.

Quando voltou à realidade, já era tarde. Arky estava prestes a acertá-lo.

— Ei! — exclamou Sawo, enquanto o graveto de Arky o atingia de leve no ombro.

— O que houve? Você não estava pronto? — perguntou Arky, arqueando uma sobrancelha.

— Desculpa... Acho que estou vendo coisas. Não devo ter dormido direito.

— Ah... Bom, tudo bem. Mas ainda não acabamos. Vamos de novo!

— Tá! — Sawo assentiu, recuperando o foco.

Eles retomaram o treino. Arky se movia com precisão: ele não era rápido nem forte como Sawo, mas sua técnica compensava, com defesas cuidadosas e contra-ataques certeiros. Sawo, por outro lado, nunca tinha treinado esgrima antes e ainda tentava acompanhar o ritmo.

— Ei, Sawo e Arky, não se esforcem tanto, por favor. — Carol pediu com um sorriso gentil, observando-os de longe.

Eles continuaram o duelo improvisado por mais duas horas, até que ambos, ofegantes e suados, caíram sentados no chão, completamente exaustos.

— Você podia ter falado isso antes, né? — disseram ao mesmo tempo, lançando um olhar irritado — mas divertido — para Carol.

Ela não conseguiu segurar a risada. Mesmo em meio ao cansaço, à chuva e aos perigos que enfrentavam, ainda conseguiam encontrar momentos para rir. Aqueles três eram, de fato, crianças incríveis.

No dia seguinte

A noite anterior havia sido tranquila e até divertida. Após o treino, os três dormiram juntos, exaustos.

Ao amanhecer, a chuva finalmente cessou. Por sorte, não foram atacados por monstros durante a noite. Com o caminho livre, eles retomaram a jornada rumo ao reino, caminhando por mais duas longas horas.

— Está ali! Eu já consigo ver a estrada! — exclamou Sawo com entusiasmo, apontando para a trilha à frente.

Enquanto isso, Arky estava visivelmente cansado, mas Sawo continuava cheio de energia.

Quando finalmente saíram da floresta, foram recebidos pelo brilho suave do sol e por uma bela vista. A estrada que levava até o reino estava à vista, e vários mercadores formavam uma longa fila na entrada.

— Finalmente encontramos pessoas! Vamos lá... — disse Sawo, mas antes que pudesse dar mais um passo, Arky tapou sua boca rapidamente.

Os olhos de Arky estavam arregalados, e ele parecia apreensivo. Carol, que já caminhava mais à frente, parou e também recuou, escondendo-se ao lado deles.

— O que foi? — perguntou Sawo, confuso.

Arky sussurrou:

— Mercenários. Precisamos dar a volta. Essas pessoas são capazes de sequestrar crianças.

A figura que chamou sua atenção era um homem loiro e mais velho, de aparência robusta. Sua barba densa e o olhar frio refletiam ganância e arrogância. Com sua postura altiva e aura ameaçadora, ele parecia ser um mercenário experiente e cruel.

Os três tentaram se afastar discretamente, mas, antes que desaparecessem da vista, o homem os notou. Ele lançou um olhar maligno e deu um sorriso perverso, mas não se moveu.

— Ele nos viu... — murmurou Carol, apreensiva.

Mesmo a uma boa distância, ela conseguia sentir a maldade daquele homem.

— Não se preocupe. Vamos até os cavaleiros. Mercenários não seriam idiotas a ponto de atacar na frente dos guardas do reino. — Arky mantinha a calma, demonstrando conhecimento sobre como lidar com aquele tipo de ameaça.

Por mais jovem que fosse, ele sabia muitas coisas. Durante seu tempo na vila de Koro, havia lido inúmeros livros, aprendendo o suficiente para evitar perigos como aquele.

Sawo, sem entender muito bem a situação, apenas assentiu e seguiu os amigos. Ele sabia que, se alguém podia guiá-los em segurança, era Arky.

Chegada ao portão

Arky, Carol e Sawo se juntaram à fila de pessoas sem mercadorias, que ficava próxima à fila dos comerciantes. No meio da multidão, um homem suspeito observava as crianças com atenção.

Carol ajustou o manto ao redor de si para cobrir o braço decepado, evitando olhares curiosos e possíveis incômodos. Sawo, por sua vez, escondeu a Destroyer em suas costas, também coberta por um manto.

De repente, um homem esquisito e mascarado se aproximou, colocando a mão no ombro de Carol. Ela se assustou e recuou imediatamente.

— Que coisinha linda... — disse ele com um sorriso sinistro. — Não se preocupe, garotinha. Não vou te machucar.

O homem parecia ser um mercador, mas tudo em sua postura denunciava algo mais sombrio. Seu olhar perverso e cheio de segundas intenções fazia Carol estremecer.

— Seja mais educado... Que nojo. — Carol o encarou, tentando disfarçar o medo em sua voz.

A expressão do homem mudou. Agora, ele parecia ofendido.

— Olha a sua boca, fedelha! Não passa de uma criança, quem deve respeito aqui é você.

Antes que Carol pudesse responder, Sawo segurou sua mão e lançou um olhar furioso para o homem. O mercador hesitou, claramente intimidado pelo olhar mortal de Sawo.

— As crianças de hoje não sabem brincar... — murmurou ele, tentando disfarçar seu desconforto.

Mesmo sendo maior e mais forte, o homem decidiu evitar problemas, já que estavam diante dos guardas do reino. Porém, ao se afastar, ele sussurrou com um sorriso nojento:

— Mas cuidado, garotinha... Da próxima vez, talvez eu não me segure.

Carol ficou apavorada, mas tentou não demonstrar. Sawo, no entanto, já estava prestes a sacar a Destroyer e cortar o homem em pedaços.

— Sawo, não! — Arky colocou a mão no ombro dele, tentando acalmá-lo. — Não vale a pena. Porcos como ele são a escória da humanidade.

A Destroyer começou a exalar uma fumaça quente e espessa, e sua lâmina, escondida sob o manto, já estava tingida de um vermelho intenso, quase queimando o tecido.

— Se ele fizer isso de novo, eu mato. — Sawo rosnou entre os dentes.

— Se acalma, ou a espada vai queimar o manto. — Carol sorriu gentilmente, tentando desviar a tensão.

Sawo respirou fundo e assentiu.

— Desculpa.

Mas o homem, furioso por ter sido humilhado, puxou uma faca e apontou para Sawo.

— Agora você vai ver...

Antes que pudesse fazer qualquer coisa, um guarda se aproximou e, sem aviso, quebrou o braço do mercador. O homem gritou de dor.

— Filho da puta! — rugiu o mercador, tentando atacá-lo com a outra mão.

O guarda desviou com facilidade e o puxou da carroça, derrubando-o no chão com um chute.

— Pare! Eu não vou fazer de novo! — implorou o homem, gemendo de dor.

O guarda olhou para ele com desprezo e começou a se afastar.

— Espera — disse Carol com uma voz firme, séria como nunca. — Ele está mentindo. Assim que você sair, ele vai tentar te matar.

O guarda parou.

— E tem mais — continuou Carol. — Na carroça dele, há duas caixas cheias de ouro. Dinheiro sujo, provavelmente acumulado com tráfico de escravos ou armas ilegais.

A voz dela era tão séria e convincente que tanto o guarda quanto o mercador ficaram impressionados.

— Como é que é? — O guarda se virou, encarando o mercador com ódio nos olhos.

O homem entrou em pânico.

— Ela tá mentindo! É só uma criança! Ela não sabe do que tá falando!

Os guardas ao redor começaram a notar a confusão e se aproximaram.

— Mostre sua mercadoria. — A voz do guarda era fria e ameaçadora.

O mercador sabia que, se fosse pego com tanto ouro sujo, seria torturado ou executado publicamente.

Em desespero, ele puxou Carol e a usou como refém.

— Carol! — gritaram Arky e Sawo ao mesmo tempo.

O guarda não esboçou reação, apenas continuou encarando o homem com a mesma expressão séria.

Carol estava apavorada, mas tentou se manter firme.

— Garota, me diga — perguntou o guarda, calmamente —, como você sabia sobre o ouro?

Carol hesitou. Ela sabia que revelar seus segredos poderia colocá-los em risco.

— Carol, não! — Arky tentou impedi-la, lembrando-se da conversa que tiveram na floresta sobre esconder suas habilidades.

— Cala a boca, moleque! — rosnou o guarda.

— Eu... — Carol sentiu as lágrimas ameaçarem cair.

O mercador a segurava com força, e até ele parecia curioso com a resposta.

— Me conte, e eu prometo que vou salvá-la sem nenhum arranhão. — O guarda observava o manto de Carol e notou algo estranho: um dos lados parecia vazio... justamente o lado onde o mercador estava segurando.

Carol respirou fundo, mas, antes que pudesse responder, o guarda agiu.

Em um movimento rápido e preciso, ele atacou o manto de Carol — mas, em vez de acertá-la, acertou a perna do mercador, que perdeu o equilíbrio.

Em seguida, num único golpe, o braço do homem foi arrancado, e a faca voou para longe. Antes que ele pudesse gritar, sua cabeça já estava decepada e caída no chão.

Carol não conseguiu entender o que havia acontecido. O homem morreu instantaneamente, e a força daquele guarda era algo que ela nunca imaginara presenciar. Tremendo, ela correu para abraçar seus amigos.

— Carol! — Sawo lançou um olhar furioso para o guarda, sua raiva tão intensa que fez a fumaça voltar a emanar da Destroyer. — Seu idiota! Você atacou sem saber sobre o braço dela! E se tivesse a machucado?

O guarda permaneceu em silêncio, guardando a espada com calma.

— Levem a carroça dele. — Sua voz firme soou como uma ordem inquestionável.

— Sim, capitão! — responderam os soldados em uníssono, começando a agir rapidamente.

Arky observava tudo com atenção. Aquele homem era mais do que apenas forte; ele liderava o grupo. Esse é o capitão do exército real..., pensou Arky, tentando processar a situação. Percy, o Cavaleiro de Classe A.

— Então você percebeu, garoto — disse Percy, notando o olhar atento de Arky. — É raro ver crianças tão perspicazes. E você carrega o brasão da família Kim... Interessante. Não vou pedir que revele a espada que está carregando, mas aprenda a controlá-la. O manto que você usou está pegando fogo.

Sawo olhou assustado e, percebendo as chamas, começou a apagar o fogo de forma desesperada, gerando uma cena cômica.

— Droga, quase queimou tudo! — resmungou, exausto.

Percy esboçou um leve sorriso antes de se recompor.

— Acompanhem-me. Vamos levar sua amiga ao médico assim que terminarmos de apresentá-los a quem vocês vieram ver.

Enquanto caminhavam, Arky pensava sobre o cavaleiro. Ele deduziu tudo em segundos... Esse homem é muito mais inteligente do que aparenta. Mas como ele percebeu que Carol não tem um braço?

Sawo verificava se Carol estava bem.

— Você não se machucou, né? Aquele porco te assustou, não foi? Eu juro que vou pisar nele! — disse, chutando a cabeça do homem morto com raiva.

— Eu estou bem, Sawo. Por favor, não se precipite mais. — Carol ainda estava assustada. O sangue do homem morto havia escorrido sobre ela, e isso a traumatizava novamente.

Quando seus olhos caíram sobre o corpo sem vida, ela sentiu um calafrio. Percy virou o rosto dela gentilmente.

— Não precisa olhar. Ele faria o mesmo com você se tivesse a chance. Sua pena é desnecessária.

Carol respirou fundo, tentando se acalmar. Por algum motivo, sentiu-se melhor.

— Moço... Você realmente ia cortar meu braço? — perguntou, hesitante.

Percy permaneceu sério.

— Eu disse que te salvaria sem ferimentos caso você contasse o que sabia. Como não contou, estava preparado para sacrificar o seu braço se fosse necessário.

Carol abriu um sorriso gentil e soltou uma risadinha.

— Mentiroso...

Arky e Sawo entenderam a situação e sorriram também.

— Não adianta fazer essa pose de durão, senhor Percy. Crianças percebem essas coisas. — Sawo riu, relaxando.

Percy sorriu de canto, mas rapidamente voltou à seriedade.

— Esqueçam isso. Agora, menino da família Kim, o que você quer com o rei?

Arky voltou a ficar sério.

— Eu tenho uma carta assinada por Carlos Martel, marido falecido de Agatha Kim.

Percy pareceu surpreso.

— Carlos... Ele morreu?

— Sim. Você fazia parte da equipe dele, não é?

— Ele era meu vice-capitão. — Percy abaixou o olhar, claramente descontente com a lembrança.

Mesmo assim, ele continuou andando, guiando o grupo pelas ruas do reino.

— Vamos. Sua amiga precisa de cuidados urgentes. A propósito, quais são seus nomes?

— Eu sou Arky Kim Martel. Estes são Sawo e Carol Silvere — respondeu Arky.

Percy ergueu as sobrancelhas.

— Silvere, hein? Interessante.

Carol sorriu.

— Você conhece a minha família?

— Sim. Os Silvere são antigos e renomados. Muitos deles se tornaram magos e sacerdotes poderosos. Um jovem da sua família está no meu esquadrão.

— Que incrível! — disse Carol, animada.

Percy então olhou para Sawo, examinando sua postura firme e confiante, algo raro para uma criança.

— Você é plebeu?

Sawo assentiu.

— Sou. Não sei quem foi meu pai. Minha mãe... Ela morreu há alguns dias. Não tenho sobrenome.

Eles continuaram caminhando, passando pelas movimentadas ruas do reino. Apesar dos mendigos e bêbados, o lugar era imponente, com construções gigantescas e belíssimas.

— Entendo. Mas o que me intriga é o que levou um garoto a fazer uma promessa de sangue tão jovem. — Percy lançou um olhar para o braço de Sawo, onde as cicatrizes ainda brilhavam em azul.

— Aconteceram algumas coisas. É exatamente por isso que estamos aqui — respondeu Sawo, desviando o olhar.

Percy assentiu.

— Não perguntarei mais. Guardem suas palavras para o rei. Ele vai querer ouvir tudo com detalhes.

Arky ficou ansioso.

— Falar com o rei? — perguntou, um pouco hesitante.

— Algum problema?

— Não... Ele não vai achar estranho?

Percy deu um sorriso frio.

— Pode ser. Mas sua postura transmite confiança. O rei confia em mim. Se eu confiar em você, ele também confiará.

— Entendido... — Arky tentou se manter calmo.

Enquanto isso, Sawo e Carol apreciavam a vista. Já estavam subindo as escadas do castelo.

— Sejam educados. Não façam perguntas idiotas. E, de forma alguma, contrariem o rei. Ele é arrogante e violento. Matou a própria esposa a socos. Eu o sirvo porque é meu dever, mas não poderei protegê-los se ele ordenar que os mate.

Arky assentiu, preocupado.

— Certo... Melhor garantir que Sawo não fale. Acho que Carol consegue se controlar, mas se o rei disser algo que Sawo não gostar, a Destroyer vai reagir.

Percy olhou para Sawo, pensativo.

— Então é mesmo uma espada mística... Impressionante que uma criança consiga controlá-la. Espadas místicas escolhem seus portadores. Se ele não fosse digno, já estaria morto, queimado até as cinzas.

Arky ficou apavorado. Eu arrisquei a vida do Sawo sem nem saber disso...

— Percy, melhor não contar isso pra ele, ok?

— Por mim, tudo bem.

Finalmente, eles chegaram à porta do salão do rei. A atmosfera ali era pesada, quase sufocante.

— Está preparado? — perguntou Percy.

Arky cerrou o punho e, com um olhar determinado, respondeu:

— Eu nasci pronto.

Continua...