Casos Pessoais

Capítulo 18 — Casos Pessoais

Algumas semanas se passaram desde a partida de Sawo.

O Reino do Sul ainda exalava decadência, mas a nova rainha regente, com o apoio dos guardas reais e do exército, deu início a uma revitalização. Com um plano ambicioso, fornecia empregos e moradias simples aos sem-teto, tentando aos poucos reconstruir o que antes parecia irrecuperável.

Arky e Carol continuavam vivendo com Percy. Ambos treinavam e estudavam arduamente, determinados a partir em busca de Sawo.

Prasquiu fora enviado em missão, enquanto Gilber retornara à sua terra natal, afastado por uma licença misteriosa. Percy, por sua vez, dividia seu tempo entre ajudar a princesa e cuidar das crianças.

Arky observava a vista do castelo.

— Arky? — Carol aproximou-se com um sorriso gentil.

— Carol? — Ele virou-se para encará-la. Seu rosto, antes tão infantil, agora parecia cansado. Completara dez anos recentemente.

Seu ranking como aventureiro era D, enquanto Carol já havia alcançado o nível B.

O silêncio entre os dois era pesado. O brilho nos olhos deles se apagara com o tempo. Sawo se fora.

— Vamos voltar? — A paisagem, que antes poderia ser deslumbrante, não passava de um cenário comum para Arky.

— Está bem... — Carol respondeu, sua voz carregada de melancolia.

Os dois caminharam até a casa de Percy.

Percy os observou com um olhar preocupado.

— O que aconteceu?

— Nada demais... — Arky respondeu, sério, como se carregasse um peso invisível.

— Arky... — Carol tocou seu braço, tentando confortá-lo.

— Eu estou bem, Carol, de verdade... — Ele se afastou e seguiu para o campo de treinamento.

Carol sentiu uma pontada de culpa, sem saber o motivo exato. Percy colocou uma mão em seu ombro.

— Não se preocupe com ele. Arky só está triste. Esse é o jeito dele de superar.

Percy olhou para o garoto à distância, que empunhava sua espada e começava mais uma sessão de treino solitário.

O Duelo

Após algum tempo, Arky dirigiu-se ao quartel dos soldados. Já haviam se passado duas semanas desde que Sawo partira. Entre seu período de coma e os últimos dias, Arky havia treinado incansavelmente.

— Cheguei... — Ele anunciou.

Lucios o esperava, os braços cruzados.

— Você demorou.

— É mesmo? — Arky sacou sua espada sem hesitar e avançou contra Lucios com velocidade.

— Tudo bem então. — O homem puxou sua lança de luz e se preparou.

Os golpes trocados ecoavam pelo campo de treinamento. Lucios claramente não estava lutando a sério, mas Arky, para sua idade, demonstrava uma agilidade impressionante.

— Você melhorou bastante. — Comentou Lucios, desviando dos ataques.

— Mas ainda não é o suficiente! — Arky aumentou o ritmo, pressionando o adversário.

— Entendo... — Lucios revidou com uma sequência de golpes velozes. Arky, apesar de jovem, acompanhava seus movimentos.

O embate parecia equilibrado, mas o desfecho era inevitável. Lucios, com um movimento certeiro, acertou um chute em Arky, lançando-o para longe. Sua espada voou de sua mão.

Lucios soltou uma risada estrondosa.

— Hahahaha! Impressionante, senhor Arky! Com apenas dez anos, já consegue me desafiar. Seu potencial é infinito... muito maior do que o daquele garoto.

Ele tocou o rosto, onde a marca da mão de Sawo permanecia como uma queimadura eterna, uma lembrança da humilhação que sofrera.

Arky, ainda ofegante, se ergueu.

— Não. Ele te derrotou com onze anos, sem nunca sequer ter treinado com um mestre de verdade. Eu ainda não sou capaz de me igualar a ele. Mas... eu vou salvá-lo.

Lucios franziu a testa, sentindo sua raiva crescer ao recordar aquela derrota.

— Salvá-lo?

— Exato. Se eu estiver certo, ele está se corrompendo agora. Já tenho dez anos. Vou partir em uma jornada para encontrá-lo.

— Você pode estar próximo da classe D, mas ainda não é nada forte. Com quem pretende viajar?

— Sozinho... — Arky respondeu, sua voz carregada de solidão.

Lucios o encarou por um instante, mas, antes que pudesse responder, Carol apareceu e deu um leve tapa na cabeça de Arky.

— Vai sozinho, é? — Ela cruzou os braços, irritada.

O campo de treino era uma sala fechada, de coloração cinza, com paredes marcadas por cortes e socos. Ali, os guardas do reino se fortaleciam.

— Poxa! Eu só estou brincando. — Arky massageou a cabeça e riu, tentando aliviar a tensão.

— Idiota.

Lucios suspirou, sua paciência se esgotando.

— Minha sobrinha, Carol. O que faz aqui?

— Não é da sua conta. — Carol olhou diretamente para ele, como se pudesse ver além das palavras.

— Não é da minha... conta? — Lucios franziu a testa, uma veia saltando de sua têmpora.

— Tio Lucios, cuidado com o que pensa. Esqueceu que posso ver tudo? — A garota o encarou com desagrado.

Lucios bufou.

— Me desculpe, minha "querida" sobrinha.

Desde o incidente com Sawo, a relação entre eles se deteriorara. Lucios estava errado, e o afeto que Carol e Arky sentiam por ele se misturava a um senso de justiça incômodo, tornando tudo instável.

Carol, ignorando a tensão no ar, segurou o braço de Arky.

— Isso não faz mais diferença. Vamos.

— Mas... espera aí! — Arky tentou resistir, mas foi arrastado mesmo assim.

— Não se misture com essa gentalha! — Carol zombou, um sorriso debochado nos lábios.

Lucios cerrou os punhos.

— Eu "amo" crianças... — Ele murmurou, quebrando sua lança de luz com um simples apertar de dedos. Veias saltavam em seus braços, seu corpo pulsando de irritação.

Castelo

Carol e Arky caminham para o castelo, o desejo deles é conversar com a princesa, Bia Noutra.

A sala está movimentada, vários nobres estão mó castelo. A reunião do sul está acontecendo, mas eles só irão se reunir as 19:00 da noite.

Arky e Carol foram na direção da princesa.

— Bom dia, princesa. — Arky se curvou levemente a cumprimentando.

Carol fez o mesmo com um sorriso gentil no rosto.

— Bom dia, Arky e Carol. Como vocês estão? — Bia Noutra está acompanhada por Percy, que atualmente é o único guarda real disponível.

— Estamos bem. Para ser sincera... deixa pra lá, eu vou direto ao ponto. Nós iremos atrás de Sawo. — A voz da menina é firme e decidida.

Bia Noutra olhou para Percy com um olhar curioso.

— O que você acha?

— Eu... eu não sei. — Percy desviou o olhar, a situação deles é aceitável, mas não o suficiente para sobreviverem sozinhos. — Aonde irão procurar?

A informação de que Sawo foi para o norte, foi omitida pela princesa. Cundradê a contou, mas ela não repassou isso para as crianças.

— O Sawo é burro, então provavelmente ele só seguiu reto, o que nos leva a entender que ele foi para o norte, muito provavelmente em direção ao reino dos ferais. — Arky conhece muito bem a geografia do continente "Europeu".

"O continente europeu tem um outro nome nesse mundo, o país deles, seria teoricamente a Alemanha, mas obviamente não é o mesmo nome e nem o mesmo espaço geográfico atual (2025). Nesse mundo, a "Alemanha" (Reino do sul) Ocupa todo o centro e o sul da "Europa", sendo de longe o maior reino do continente. O norte mais proximo seria a "Dinamarca" (Reino feral)."

— Então vocês querem ir até o reino feral? Mas e se Sawo já estiver morto? — Bia Noutra diz sem nenhuma hesitação, a hipótese de Sawo estar morto é aceitável, uma criança de onze anos, jogado em uma floresta sozinho sem comida ou segurança, o normal é a morte.

— Ele está vivo. Isso não é mais uma discussão de hipóteses. Ele está vivo e ponto final. — Carol sorriu gentilmente, sem nenhuma preocupação, ela acredita e afirma a vitalidade de Sawo.

Bia sorri, ela acaricia o cabelo de Carol.

— Você está certa. Tomem cuidado. Sawo não é mais o mesmo, afinal, ele derrotou um classe A em um segundo.

— Eu sei disso, mas é exatamente por isso que devemos para-lo. — Carol continuou sorrindo, sentindo uma nostalgia com a mão de Bia.

— Princesa, você tem certeza disso? — Percy está preocupado.

— Tenho, eu confio neles, e obviamente... eles não irão sozinhos.

Um vulto saiu do anel de Bia, se agarrando nas sombras das crianças, se misturando com o ambiente. Eles não perceberam, apenas Carol, pois ela leu a mente de Bia.

— Isso é seguro? — Carol parece assustada.

— Sim, peço que não conte a Arky. — Pensou Bia.

— Está bem... — Carol se sentiu desconfortável, se aproximando de Arky.

— O que foi? — Perguntou, Arky, com duvida.

— Nada não...

— Bem, vocês irão quando? — Perguntou o guarda real.

— Amanhã de manhã, já estamos nos preparando a alguns dias. — Arky não hesitou ao falar.

Percy se sentiu muito triste, um vazio preencheu seu coração.

— Percy? — A menina se sentiu mal com o sentimento de Percy.

— Não se preocupe, Carol... não posso esconder nada de você, mas eu sentirei falta de vocês. — Os sentimentos de Percy são muito mais profundos, mas ele esconde para parecer forte.

Carol o olha com o mesmo sorriso de sempre, o abraçando calorosamente.

— Passou... passou...

— Passou? — Percy se enfureceu de maneira engraçada.

Ambos deram risada.

Arky começa a ter lembranças de Sawo: — Não fique triste, Arky. As lembranças são feitas para sorrir e não chorar ao se lembrar. O que passou... passou, mas o que está por vir, será melhor! Vamos olhar para trás e sorrir pelos bons momentos que passamos e não chorar por eles não voltarem. — Avisou, Sawo, com um sorriso genuíno.

— Com certeza... essa lembrança será muito boa... — Arky sorriu, se enchendo de determinação. — Percy, quando a gente recuperar o Sawo, a gente volta pra tomar chá!

O guarda real o olhou admirado, sorrindo com os olhos fechados. O que Percy sentiu, foi orgulho.

— Certo. Estarei esperando vocês. Não demorem, está bem?

— Claro que sim! — O menino determinado, abriu um sorriso largo e convicto de vitória.

Em uma cena linda, todos estão felizes.

— Bem, eu irei entregar alguns trocados para vocês. Aqui... — Bia entrega duas bolsas com 15 moedas de ouro cada. — O dinheiro move a vida, então para o bem estar de vocês, eu entreguei esses trocadinhos. Sinceramente, eu já imaginava que vocês iriam atrás dele, só estava esperando.

— Muito obrigado, princesa. — Arky agradeceu se curvando.

— Tudo isso? — Carol ficou surpresa.

Eles guardaram as bolsas, e logo se despediram da princesa.

— Até mais, princesa, provavelmente não nos veremos por bastante tempo.

— Sim, vocês rem razão, então, eu desejo boa sorte a vocês. — A princesa os abraçou. Decretando a partida deles.

— Eu irei me despedir de vocês amanhã de manhã.

— Certo, nós já estamos voltando. Vamos esperar você la, senhor Percy.

Assim, eles seguriam caminhando até a cada de Percy. Deixando a princesa e o guarda real em pensamentos sobre o que pode dar errado.

— Não se preocupe, Percy. Minha sombra estará com eles. — Avisou a princesa tentando acalmar os pensamentos de Percy.

— Está bem... vamos esquecer isso, ainda temos uma reunião a ser feita.

— Certo. — A princesa sorriu, seguindo até o salão.

Dia seguinte

Ao amanhecer, Carol e Arky já estavam prontos para sair. Uma bolsa de comida e uma espada além dos sacos de moedas de ouro. Era tudo que eles tinham.

— Estamos prontos? — Perguntou Arky.

— Claro que sim, já faz quase três semanas que Sawo se foi, estamos a dias de atraso. Certamente iremos encontrar pistas sobre seu paradeiro, não concorda? Percy... — Carol está animada.

O guarda real está se segurando para não chorar. As lembranças da ida de Sawo, o preenche, a tristeza e forte.

— Sim... Aff, não posso impedir vocês, então vou garantir que voltem. Sawo foi para o norte, ele não seguiu a estrada, indo pela floresta negra. Provavelmente ele passou pela vila Guiji, mas não deve ter ficado tanto tempo lá. A alguns dias eu ouvi falar de um incêndio por lá, aonde vários aventureiros forma mortos por demônios. — Disse, Percy.

— Será que Sawo foi pego no confronto? — Arky se espantou.

— Provavelmente não. Nenhum relato de crianças mortas, ocorreu pela região, ele está bem.

— Eu sei disso, não se preocupe, Percy. Vamos encontra-lo. Mas aonde será que ele foi agora? — Questionou, Carol.

— Após a vila Guiji... se ele seguiu ao norte, provavelmente está indo até Dandeli, uma cidade feral, afinal, alguns dias de caminhada a frente, se encontra o reino feral.

— Entendi, então o destino de Sawo é o reino feral. — Ambos se inspiraram.

— Mas tem uma grande chance de vocês chegarem primeiro que ele, ou até mesmo muito depois dele já ter ido embora.

— Você tem razão, mas relaxa. O Sawo é o tipo de pessoa que causa impactos por onde passa.

— Verdade. Hahahahaha! — Todos riram.

Enfim chegou a hora da partida.

— Bem... até algum dia... — Percy os considera como filhos, mas as palavras não saem.

Carol o abraça junto de Arky, um abraço caloroso e sincero, exalando um sentimento bom.

— Até, meu guarda real preferido. — Dissseram ambos.

Caminharam em direção a estrada, deixando Percy e o reino para trás.

O guarda real os observou indo embora, sentindo uma motivação diferente e estranha.

— Então é aqui? Aqui se iniciou a jornada dessas crianças, que o destino os proteja...

Jornada começa

— Tá, vamos ir direto para a vila Dandelion. Com toda a certeza do mundo, Sawo já passou da vila Guiji. — Afirmou Arky.

— Sim, são cinco dias daqui, da vila Guiji até a vila Dandeli, são provavelmente uns dois dias.

— Exato, então temos que correr. — Arky está animado, o sentimento de uma nova aventura o preenche de determinação.

A estrada é cercada por um campo gramado lindo e brilhante, vários quilômetros de caminho os aguarda. As árvores verdes se constrastam com o céu azul belo. As montanhas vistas ao horizonte os motiva.

— Então... que a jornada comece.

Que destino aguarda essas crianças?

Em algum lugar — Tempo desconhecido

Em uma sala escura, uma criatura com rosto de guepardo, mas com corpo humanoide está a espancar um corpo.

A criatura não fala, sua feição é séria, sem demonstrar nenhum sentimento. Um homem feral chega atrás dele.

— Senhor, Bears. A fiança foi paga... — Um hipopótamo com corpo humanoide avisa.

A criatura para de espancar o velho, assim limpando suas mãos com um lenço.

— Quem pagou? — Perguntou o guepardo.

— Um menino chamado... Sawo...

— Sawo? Que interessante, eu quero vê-lo. — O guepardo pegou o dinheiro e o verificou. — Parece que teremos uma aventura divertida por aqui.

"O destino foi alterado."

Continua?