O vibrar do celular ecoou no quarto silencioso de Holly, arrancando-a de um sono profundo. Era sua mãe, Joana, a voz embargada pela doença.
Joana: (Com a voz fraca e tosses) "Filha... eu não consigo ir trabalhar hoje. A febre está alta, e estou me sentindo péssima."
Um aperto no peito de Holly. Sua mãe, tão ativa e forte, raramente ficava doente.
Holly: "Mãe! Não se preocupe! Eu vou no seu lugar. Dou um jeito, a senhora sabe."
Joana: (Um suspiro de alívio) "Ah, Holly, você é um anjo! A governanta, Julia, já está avisada. Ela vai te guiar."
Com o coração oscilando entre o nervosismo e uma pontinha de aventura, Holly se aprontou. A viagem de ônibus a levou a um bairro que ela só conhecia de nome, um reduto de luxo e opulência. Ao descer, a visão da imponente mansão a deixou boquiaberta.
Holly: "Uau, que casa chique."
Seus olhos percorriam os detalhes da arquitetura clássica, os jardins meticulosamente podados. De repente, a porta principal se abriu e uma figura austera, vestida impecavelmente, surgiu.
Governanta: "Olá. Você deve ser a Holly, filha da Joana, certo?"
Holly: "Sim, sou eu. Vim no lugar da minha mãe, ela está doente."
Governanta: "Ah, sim. Ela já me informou. Por favor, venha, vou te mostrar a casa."
A governanta, que se apresentou como Julia, a conduziu por uma verdadeira labirinto de corredores amplos e salões luxuosos. Cada peça de mobiliário, cada quadro na parede, exalava riqueza.
Julia: "Este é o escritório do Senhor Kim. Não é permitido entrar aqui depois das oito da noite."
Holly ergueu uma sobrancelha, a curiosidade atiçada. Por que a proibição? Haveria algum segredo guardado ali depois que o sol se põe? Ela decidiu não perguntar, apenas assentiu.
Holly: "Ok, lembrarei disso, não se preocupe."
Julia: "A função da sua mãe é a limpeza, e às vezes ela auxilia na cozinha. Você está ciente, imagino?"
Holly: "Sim, eu sei. Mas confesso que não sou tão boa na cozinha quanto ela."
Julia: "Tudo bem. Temos cozinheiros, mas ocasionalmente precisam de ajuda extra. É bom que saiba que não será apenas limpeza."
Holly: "Certo, vou dar o meu melhor."
Julia a observou por um instante, um leve sorriso se formando.
Julia: "Espero que seja tão discreta quanto sua mãe."
Depois de receber as instruções e vestir um uniforme um tanto folgado, Holly decidiu começar pelo quarto principal. Ao abrir a porta, um suspiro escapou de seus lábios.
Holly: "Nossa, não sabia que o chefe da minha mãe era tão rico assim. Olhe o tamanho dessa cama! Deve ser tão bom deitar numa cama dessas..."
Seus olhos percorreram o ambiente: a cama king-size com lençóis de seda, os móveis de madeira escura e lustrosa, os detalhes em ouro. Ele deve ser um homem muito elegante. Aqueles ternos no closet têm um cheiro tão bom... Será que ele tem filhos? Minha mãe nunca fala do trabalho em casa, e a governanta não mencionou nada. Também não vi nenhuma foto pela casa.
Holly balançou a cabeça, despertando de seus devaneios. Acorda, Holly! Você tem muito serviço pela frente. Quanto mais rápido terminar, mais rápido poderá ir embora.
Ela finalizou a limpeza do quarto e saiu. Ao fechar a porta, Julia a chamou novamente.
Julia: "Holly, você pode vir até a cozinha, por favor?"
Holly: "Sim, claro. Só vou levar essas roupas para a lavanderia e já vou."
Na cozinha, um aroma delicioso pairava no ar. Holly se aproximou, curiosa.
Holly: "Oi, que cheiro gostoso! O que você está fazendo?"
Um rapaz alto, de cabelos castanhos claros e olhos amigáveis, se virou, um sorriso tímido nos lábios.
Hugo: "É uma lasanha." Nossa, que linda.
Holly: "Eu sou Holly, prazer em te conhecer."
Hugo: "Ah, eu sou Hugo. Prazer. Você é a filha da Joana, certo? Minha mãe comentou."
Holly: "Sim, sou eu. Mas quem é sua mãe?"
Hugo: "É a Julia, a governanta."
Holly: "Eu não sabia que a governanta tinha um filho que trabalha aqui também." O Hugo é bem bonito.
Hugo: "Haha, minha irmã também trabalha aqui. Mas, como sempre, está atrasada."
No exato momento em que Hugo terminou de falar, Julia entrou na cozinha, fazendo Holly dar um salto.
Holly: "Nossa, que susto! É melhor eu ir lavar aquelas vasilhas na pia."
Julia: "Hugo, ligue para sua irmã. Ela está atrasada há dez minutos!"
Hugo: "Mãe, eu já tentei ligar, mas ela não atende."
Julia murmurou para si mesma, visivelmente irritada. Onde será que essa menina se meteu? Quando ela chegar, eu a mato!
Depois de várias tentativas frustradas de Julia, sua filha, Liz, finalmente apareceu na cozinha, com um ar displicente e um sorriso maroto.
Julia: "Liz, onde você estava?"
Liz: "Oi para você também, mãe."
Julia: "Você tem sorte que o Senhor Kim não está aqui."
Liz: "Eu sei, mãe. Por isso mesmo fui a uma festa ontem. Eu sabia que ele estava em viagem de negócios e não estaria em casa." Ela então fixou os olhos em Holly, com uma expressão de desdém. "Quem é essa?"
Holly: "Eu sou Holly. Prazer em te conhecer." Nossa, que menina problemática.
As horas voaram enquanto Holly limpava a cozinha e os outros quartos. Quando olhou para o relógio, um arrepio percorreu seu corpo.
Já são 19h50 e eu esqueci de limpar o escritório do Senhor Kim! Lá não deve estar muito bagunçado, então não vou demorar. Ainda bem que daqui a pouco é hora de ir embora.
Holly entrou no escritório, com um aroma sutil de livros antigos e madeira fina preenchendo o ar. Ela começou a limpar a mesinha de centro e, distraidamente, deixou seu celular ali. Em seguida, foi tirar a poeira da estante, a última tarefa do seu expediente.
De repente, a voz de Julia a chamou, vinda do corredor.
Julia: "Holly, pode vir aqui, por favor?"
Em pânico, Holly saiu correndo da sala, esquecendo completamente o celular sobre a mesinha.
Holly: "Oi, senhora Julia, aconteceu alguma coisa?"
Julia: "Não, me desculpe se a assustei. Só queria informá-la que seu expediente acabou. Muito obrigada pelo seu trabalho; confesso que achei que você não daria conta." Julia sorriu, satisfeita. "Percebi que você é uma menina muito esforçada. Sua mãe deve ter muito orgulho de você."
Holly: "Obrigada, senhora Julia. Fico feliz que tenha gostado do meu trabalho."
Julia: "Então, tchau, Holly. Espero vê-la novamente."
Holly: "Tchau, senhora Julia. Quem sabe eu venha com minha mãe na próxima, para fazer uma visita para a senhora e o Hugo."
Holly se despediu mais uma vez de Julia e foi trocar de roupa. Ao chegar à portaria, um carro luxuoso que ela nunca tinha visto antes entrou na propriedade.
Que carro chique! Qual será a marca?!
De repente, Hugo correu em sua direção.
Hugo: "Holly!"
Holly: "Ah, Hugo, achei que você já tivesse ido embora."
Hugo: "Estava te esperando para te chamar para tomar alguma coisa, você topa?"
Holly: "Me desculpe, Hugo, vamos deixar para a próxima. Hoje estou super cansada."
Hugo: "Beleza, então me passa seu número..."
Antes que ele terminasse a frase, Holly o interrompeu, seus olhos arregalados. Ela saiu correndo, a lembrança do celular no escritório do Senhor Kim a atingindo em cheio.
Já dentro da mansão, ela seguiu direto para o escritório, entrando sorrateiramente.
Vou deixar a luz apagada para a senhora Julia não perceber que eu estou aqui. Só vou pegar meu celular e sair.
Holly avançou, pé por pé, estendendo a mão para a mesinha. Mas o celular não estava lá.
De repente, a luz se acendeu, revelando um homem parado ali. Ele era o mais bonito que Holly já tinha visto, segurando seu celular na mão. Seus olhos eram penetrantes e sua voz, quando ele falou, era profunda e irritada.
Caleb: "Está procurando isso?!"
Quem é esse homem? Nunca o vi em lugar nenhum aqui na casa. Por que ele está bravo? Será que é um assistente do Senhor Kim? Preciso sair daqui antes que ele chame a senhora Julia.
Sem pensar, Holly puxou o celular da mão do homem e saiu correndo novamente.