O som dos passos ecoava suavemente pelos corredores da Academia Arcadia. O sol da manhã já aquecia os vitrais altos, tingindo o chão com feixes coloridos. Hiro Tanaka caminhava sozinho, vindo da cidade. Já fazia mais de uma semana desde os duelos com Sakura Minazuki.
Seu corpo estava bem, mas a lembrança daquele combate ainda latejava em sua mente.
“A verdade é que… só venci porque não usamos Aura. Se tivesse sido um combate real, ela teria me esmagado.”
Ele apertou os punhos no bolso do casaco. Sua expressão permanecia neutra, mas por dentro, o sangue fervia — não de raiva, mas de cobrança. Não podia se dar ao luxo de subestimar ninguém.
Ao dobrar o último corredor antes da sala da Classe Elite, ouviu uma voz calma às suas costas.
— Atrasado? — disse Sakura Minazuki, recostada contra a parede, braços cruzados.
Hiro parou. Virou-se devagar.
Ela estava ali, firme como sempre, com a odachi Nozarashi nas costas. O cabelo vermelho brilhou ao toque do sol, os olhos rubros estavam serenos, mas atentos.
— Você sempre volta pela manhã... Onde tem ido?
— Casa. — Hiro respondeu, curto.
— Hm. — Sakura respondeu, fingindo surpresa.
Sakura se afastou da parede e se posicionou ao lado dele.
— Sabe… Ainda não entendi quem exatamente é você. Mas entendi uma coisa: você não é normal. E não me refiro só ao que fez comigo.
Hiro não respondeu. Seguiu andando em direção à sala. Sakura o acompanhou até a porta, sem dizer mais nada.
Quando entrou, os olhos dos colegas da elite se voltaram para ele. O burburinho cessou por alguns segundos.
Yumi Kazehara, sentada próxima à janela, ergueu os olhos verdes na direção dele. Ela o encarava com intensidade — como se estivesse absorvendo cada detalhe da expressão dele, da forma como andava, respirava... mas quando Hiro a olhou de volta, direto, seu coração disparou.
“De novo...”
Ela corou, desviando o olhar rapidamente e fingindo se concentrar no caderno, envergonhada por ter sido pega o encarando.
Mais ao fundo, Hikari von Richter estava de braços cruzados, encostada na parede como uma estátua de sombras. Quando Hiro entrou, ela ergueu o olhar... e os dois se encaram por exatos três segundos. Bastaram três.
Ela entendeu.
Hiro sabia.
Ela desviou os olhos com um clique da língua, apertando os punhos involuntariamente.
Do lado oposto, Saori Kurosawa soltou um suspiro entediado.
— Olha só, o prodígio finalmente resolveu aparecer… Deve estar esperando uma estátua na praça depois da surra que deu na Minazuki.
— Tsc. — Sakura nem se dignou a responder.
A porta da frente se abriu com firmeza, interrompendo o clima pesado.
Entrou uma mulher de postura impecável, cabelos castanhos claros presos num coque elegante, olhos âmbar brilhantes como ouro polido, e uma aura de autoridade que calou todos no instante em que pisou na sala.
— Bom dia, Classe Elite. — disse com um leve sorriso.
— Eu sou Celeste Ardanis. Professora de Teoria Bélica e História da Magia. Hoje, daremos início a uma das aulas mais importantes da formação de vocês: a compreensão do mundo em que vivem… e do verdadeiro inimigo da humanidade.
Ela caminhou até o centro da sala e estalou os dedos. Um círculo mágico projetou quatro figuras heróicas contra uma criatura colossal de olhos púrpura e chifres espiralados.
— Há 300 anos, quatro heróis se ergueram contra o maior inimigo que o mundo já viu: o Rei Demônio Pavanar. Eles o selaram… ao custo das próprias vidas. Com ele, selaram também seus três marechais. Desde então, um tratado de paz foi firmado. Nenhuma guerra foi travada desde aquele dia.
Hiro não conseguia tirar os olhos da projeção.
“Pavanar…”
Um ódio frio e profundo explodiu dentro dele como uma maldição silenciosa. Ele apertou os dentes. Por um segundo, o ar ao redor dele pareceu ficar mais denso.
“Paz? Era só fachada. Eles só estavam esperando o tempo enfraquecer os humanos. Esperando o momento em que não haveria resistência. E os malditos von Richter… colaboraram com eles. Traidores, desgraçados...”
Seus olhos deslizaram lentamente até Hikari, que sentiu o olhar. Ela não reagiu.
“E o primeiro passo do plano foi eliminar Yumi Kazehara.”
Ele virou o rosto na direção dela.
Yumi, que ainda o observava de relance, se assustou ao perceber que ele a olhava diretamente. Seus olhos se arregalaram e ela desviou o olhar no mesmo instante, o coração disparando mais do que gostaria.
Celeste apagou os hologramas e continuou:
— Agora, falemos sobre o poder que rege nosso mundo. Guerreiros e magos usam a mesma fonte: mana. Mas de formas diferentes. Guerreiros canalizam mana internamente e a chamam de aura. Revestem seus corpos, fortalecem músculos, ossos, sentidos. Também conseguem liberar essa energia em cortes, explosões, ou impactos de aura.
Ela estendeu a mão, e uma imagem surgiu: um guerreiro coberto por um brilho intenso, vermelho-alaranjado, realizando um corte que atravessava uma rocha.
— Já os magos são conjuradores. Eles condensam a mana em elementos externos. Por exemplo: o feitiço básico de fogo, Ignis, normalmente exige cinco segundos de encantamento verbal…
Celeste olhou para o fundo da sala.
— ...Mas prodígios como Saori Kurosawa podem lançar com uma simples palavra.
Saori sorriu, jogando o cabelo loiro para o lado, como se aquilo fosse óbvio.
— Por fim, os níveis. Guerreiros progridem em Estágios de Aura. Magos, em Círculos Mágicos. Ambos têm sete níveis, e cada salto representa uma transformação brutal nas capacidades de combate.
Ela então olhou para duas alunas.
— Sakura Minazuki. Saori Kurosawa. Venham à frente e digam seus níveis.
As duas se levantaram.
— Terceiro Estágio de Aura, — disse Sakura, com a voz firme.
— Terceiro Círculo Mágico, — respondeu Saori, com arrogância.
Celeste assentiu.
— Demonstração, por favor.
Sakura deu um passo à frente. Fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Quando os abriu, sua aura explodiu ao redor do corpo — um vermelho intenso, flamejante como sua alma. As madeixas carmesim dançaram com a energia, e o chão tremeu levemente sob seus pés.
A odachi Nozarashi vibrou nas costas.
A classe ficou em silêncio absoluto.
Celeste sorriu levemente.
— Muito bem. Agora, Saori.
Saori ergueu a mão direita. Um círculo mágico se formou com precisão absoluta, brilhando em azul pálido. Sem entoar nada além de uma única palavra, ela disse:
— Ignis.
Uma coluna de fogo surgiu do círculo e atingiu o alvo conjurado pela professora, destruindo-o completamente em uma explosão controlada.
Hiro observava, em silêncio. Calculando. Avaliando.
Terceiro estágio… Terceiro círculo…
Preciso superar isso. Preciso estar além de todos eles. Antes que o inferno comece de novo.
E ele sabia: o inferno estava vindo.