Era uma tarde ensolarada na cidade de Kotohira. Velian e Kaoru estavam ambos sentados em silêncio na cafeteria Kazoku no Ato, apenas esperando o café chegar. Velian estava hesitante e um pouco tenso ao iniciar a conversa, não sabendo se deveria contar a história ou não à garota que acabara de conhecer. Kaoru percebeu o nervosismo do velho senhor, já que ele nem sequer olhou para cima desde que entrou lá. Ela, um pouco curiosa e impaciente, decidiu puxar assunto.
– Algum problema, Hakura? – falou Kaoru, um pouco nervosa.
– ... – Velian ficou em silêncio, parecendo perdido em pensamentos.
– Hakura – ela elevou a voz um pouco mais para que ele pudesse ouvir.
– Oi? – Velian respondeu de volta, distante do mundo.
– Algum problema?
– Não... nenhum problema. Só pensava em como começar essa história.
– Bem... do começo? – Kaoru falou, um pouco indignada.
– Sim, haha... é verdade, desde o começo – respondeu Velian, um pouco ansioso.
Velian olhou melhor para a garota e começou a pensar que ela lembrava suas irmãs, e que, se tivesse uma neta, ela seria parecida com aquela garota. Kaoru, que aparentava ter 1,72m de altura, não era alta nem baixa. Seu cabelo era preto e estava preso em um rabo de cavalo que se estendia até o meio das costas. Seus olhos eram vermelhos – pareciam até mesmo a cor do sangue, como as que ele derramou muito no passado. Seu rosto era fino, e ela conseguia fazer muitos tipos de expressão facial, parecia até um personagem. Usava uma presilha de flor no cabelo. Parecia uma estudante comum do ensino médio: tirava notas medianas e não era muito fã de esportes.
Enquanto ele a analisava, o pedido deles chegou.
– Licença, senhores – um jovem rapaz de cabelo preto curto e alto entrou no meio. – Quem pediu café?
– Fui eu – Velian olhou para o rapaz.
– Aqui, senhor.
– Obrigado.
– E aqui está seu cappuccino, senhorita.
– Obrigada – Kaoru falou empolgada, até sorrindo.
– De nada. Aproveitem. Qualquer coisa, é só chamar.
O garçom esbelto e bonito se afastou do local e voltou ao trabalho. Velian olhou para o café e viu seu próprio reflexo nele. A figura do senhor refletida ali mudou para a de um garoto inocente e alegre de 5 anos. Ele encarou o café por vinte segundos antes de tomar o primeiro gole. Após terminar, colocou a xícara no pires novamente e olhou para Kaoru com uma expressão séria. Ela, entretida agora com sua bebida, olhou-o, um pouco assustada. Velian então decidiu começar a falar:
– Vamos começar a história.
O ano era 2012. Velian havia acabado de nascer em Tóquio, em uma das maiores e mais prestigiadas famílias do Japão: a corporação Kazuma. Seu pai, Kazuma Hideaki, era o vice-presidente do conselho executivo da companhia, um dos homens mais influentes do Japão e da própria organização. Era um homem alto, com 1,86m de altura, esguio e imponente, com cabelos pretos e sedosos, sempre penteados para trás. Seus olhos negros eram afiados como lâminas, prontos para julgar qualquer um à sua frente. Sua postura era sempre perfeita e ereta, como a de um militar. Suas roupas? Sempre um terno preto sofisticado, feito sob medida pelos melhores alfaiates do mundo.
Sua mãe, Kazuma Reina, estrategista e diplomata do exército militar, era o completo oposto – ao menos na aparência. Enquanto seu pai impunha presença, sua mãe se escondia atrás de uma máscara perfeita, sem falhas. Sempre sorridente em eventos corporativos, com cabelos loiros parecendo ouro puro, postura refinada e roupas elegantes de marcas internacionais, Reina era vista como a mulher ideal: bela, educada, intocável.
Velian não era filho único. Tinha duas irmãs mais velhas, Arisa e Misaki. Arisa, a mais velha, era cientista política e diretora de uma universidade. Possuía um corpo esbelto e sensual, e seu cabelo tingido de castanho escuro se destacava na multidão. Seus olhos verdes brilhantes, semelhantes a esmeraldas, encantavam qualquer um, junto com seus lábios vermelhos e elegantes. Sua voz era suave, parecendo uma composição harmônica clássica.
Misaki, por outro lado, parecia uma criança. Tinha 1,55m de altura e cabelos dourados como os da mãe. Era sempre calada e reservada, como se fosse um computador lógico. Porta-voz e analista do grupo Kazuma e do governo, costumava ser subestimada por sua aparência frágil – até que alguém tentasse enfrentá-la intelectualmente. Ninguém superava sua lógica... com uma única exceção: Velian Kazuma.
Velian era um garoto muito alegre. Gostava de brincar com seus pais e suas irmãs — Arisa, que tinha 15 anos quando ele nasceu, e Misaki, 13.
Ele amava desenhar sua família; para ele, aqueles momentos seriam eternos.
Mas mal sabia que, por trás de cada gesto afetuoso, se escondiam os podres da família Kazuma.