O Prólogo que Nunca Deveria Existir

POV Professor Oliver von Fell

— Permitam-me acender meu cachimbo. É de boa educação começar assim... Afinal, nada melhor que um pouco de fumaça de mana púrpura para dar forma às palavras.

Ah… vocês não me conhecem.— Ainda.

Mas… caros leitores… eu conheço vocês. Cada um de vocês. Sim, até você aí, que tá lendo isso no ônibus, no quarto escuro ou escondido no trabalho. Acha mesmo que essas paredes de realidade nos separam? Pobres almas iludidas…

Deixe-me apresentar-me, antes que os engravatados do destino tentem me calar: sou Professor Oliver von Fell, bastardo, traidor, mestre arcano, o mago mais poderoso, a sombra púrpura de Umbrenor, salvador de Valéria, o ressuscitado, estudioso da morte, da vida, dos vazios entre uma coisa e outra, e, meu favorito: Historiador Onisciente, modéstia à parte, sou especialista em assuntos que ninguém mais tem coragem de catalogar.

E por que estou aqui, narrando isso? Simples. Porque há histórias que não podem ser contadas do jeito tradicional. Histórias que cospem na cara do destino, que dão tapa nas regras da narrativa, que fazem a própria realidade se remexer desconfortável na cadeira.

A fumaça dança, formando espirais que desenham um relógio derretendo, depois uma ampulheta quebrada... tempo... tempo nunca é confiável por aqui.

Então... vamos começar.

Imaginem, se puderem, um mundo onde até os mortos têm um propósito. Um mundo chamado Chaia, onde os vivos correm atrás de sentido, e os mortos… bem, os mortos também. Porque, aqui, nem a morte é descanso. É apenas outro estágio. Outro emprego, se quiserem chamar assim.

E é nesse cenário — de campos de girassóis onde o silêncio respira, onde o tempo hesita e as sombras cochicham — que nosso protagonista desperta.

Sim, desperta… morto.

Um jovem sem nome, sem passado, sem lembranças. Mas com algo que poucos têm: um chamado. Um destino que nem ele entende.

A Deusa da Morte — ah… Perséfone... Perséfone… belíssima, etérea, com olhos vermelhos que julgam e desejam ao mesmo tempo — ela mesma o chama. Dá-lhe um nome novo: Hades. E com o nome… um peso, um caminho, e talvez… um beijo da eternidade.

Mas não se enganem, meus caros leitores. Isso não é só uma história de amor, nem de redenção, nem de vingança. É uma dança com a própria morte. Com seus três aspectos… e um quarto, proibido, oculto, esquecido até pelos próprios Deuses.

Vejam a fumaça que agora se molda num trono vazio… depois, num par de presas… e, então, num círculo partido.

E vocês vão se perguntar:— "Mas professor… vampiros?" Ah… não qualquer vampiro, meus doces incautos. Aqui, só há Nosferatus, os primeiros e os últimos, filhos diretos da própria Morte. Seres feitos não de maldição… mas de propósito.

E enquanto nosso jovem Hades aprende a trilhar esse caminho — entre guerras de Deuses, sussurros do Rei Demônio, e verdades que fariam até a própria realidade se envergonhar —, eu estarei aqui.

Observando. Narrando. Comentando. Talvez até… interferindo.

Então, caros leitores… respirem fundo. Olhem por cima dos ombros. O que vem a seguir… talvez vocês nunca deveriam ter lido.

Mas agora… já é tarde.

Bem-vindos a Chaia.

Que os mortos lhes acompanhem.