O restaurante era aconchegante, com um design moderno e música ambiente suave. Leandro escolheu uma mesa nos fundos, perto da janela, onde a luz do sol filtrava suavemente através das plantas suspensas. No início, a conversa era estritamente sobre trabalho — números, prazos, estratégias —, mas, aos poucos, foi mudando de assunto.
Você sempre foi assim... tão confiante?, ele perguntou, mexendo no guardanapo no colo.
Aurora deu um sorriso discreto.
Confiante? Não exatamente. Acabei de aprender que se eu não fizer as coisas por mim e pelo meu filho, ninguém mais o fará.
Às vezes as pessoas precisam de ajuda, não é?
Sim. Eu também aprendi isso. Quando me mudei para cá, fui ajudado por muitos. E ainda sou. Mas gosto de sentir que conquistei meu lugar pelo meu próprio esforço.
Ela baixou o olhar, brincando com a borda do copo.
Por muito tempo, acreditei que não era suficiente.
Quem fez você se sentir assim?, perguntou Leandro, em voz baixa e sincera.
Ela hesitou, seus olhos vagando por um momento.
Muita gente. Inclusive eu.
Ele a observou em silêncio. Gostava da maneira como ela se abria — com honestidade, sem drama ou piedade. Havia força em cada palavra dita em voz baixa.
"Fico feliz que você tenha parado de acreditar neles", disse ele suavemente. "Porque, honestamente... você é mais do que suficiente."
Aurora deu um leve sorriso, mas desviou o olhar, visivelmente comovida com a sinceridade dele. O garçom chegou com as refeições, e o clima se suavizou com o aroma de comida recém-preparada. Enquanto comiam, seus olhares trocados carregavam um fio silencioso e constante de conexão. Silencioso, mas inegável.
Leandro quebrou o silêncio com uma observação cuidadosa.
Você cuida muito bem do seu filho. Tenho a impressão — talvez eu esteja enganada — de que não há nenhum pai por perto.
Ela parou no meio do movimento e lentamente colocou o garfo no chão.
Não há.
Ele assentiu respeitosamente, sem insistir mais.
Deve ser difícil. Criar um filho, trabalhar, manter tudo em ordem... e ainda assim sorrir.
É sim. Mas tive a sorte de encontrar anjos ao longo do caminho. Quando engravidei, ninguém quis me contratar. Minha vizinha na época me acolheu. Me deixou trabalhar na lanchonete dela, mesmo sem experiência. Ela ainda me ajuda, mesmo não morando mais no mesmo bairro.
É bom saber que pessoas assim ainda existem neste mundo.
Ela disse que seu sorriso era tingido de gratidão e tristeza.
A atmosfera entre eles era sutil, mas presente. Um calor gentil. Sem declarações — apenas presença, atenção, cuidado. Pela primeira vez em muito tempo, Aurora sentiu que talvez pudesse baixar um pouco a guarda.
Leandro pensou em perguntar sobre o pai de Davi, mas hesitou. O assunto era claramente delicado, e ele não queria arruinar o delicado equilíbrio que haviam encontrado.
Você tem irmãos? ela perguntou, mudando de assunto.
"Eu tenho um", respondeu ele com um meio sorriso. "Quando descobri que ia ter um irmão, fiquei nas nuvens. Achei que seria o fim da solidão, sabe? Alguém com quem dividir tudo. Costumávamos nos meter em todo tipo de encrenca juntos...
Como o que?
Uma vez... ele riu antes mesmo de terminar a frase... decidimos ajudar meu pai a pintar a garagem. Pegamos a tinta escondida. Pintamos o carro inteiro dele. Azul e branco. Até os pneus.
Aurora engasgou, cobrindo a boca com uma risada.
Sem chance!
Ah, sim. Minha mãe quase desmaiou. E meu pai... bem, ele tentou se acalmar, mas no dia seguinte mandou o carro direto para a oficina e nos proibiu de tocar em qualquer coisa colorida por cinco anos.
Ela riu novamente, mais à vontade agora.
Deve ser bom ter alguém com quem compartilhar esse tipo de memória.
Ele assentiu, olhando-a gentilmente.
E você? Tem irmãos?
A expressão dela mudou. Ela continuou sorrindo, mas com mais reserva.
Não. Sou filha única. E... sinto falta dos meus pais. Não os vejo desde que engravidei.
Leandro ficou quieto por um momento.
Desculpe.
Ela deu de ombros, tentando disfarçar a dor que ainda persistia em sua voz.
Às vezes a vida mostra quem realmente está com você.
E às vezes isso coloca novas pessoas no seu caminho, ele disse. Pessoas que realmente te enxergam.
Aurora olhou para o prato, o peito apertado com um calor estranho. Ela não sabia bem como nomear aquele momento, mas sabia que era raro. E real.
"Eu não tinha irmãos, mas tinha uma amiga que tinha uma casa na árvore", disse ela, sorrindo para Leandro. "Ajudamos meu pai a pintar a casa também, mas fizemos direito."
— Que bom — ele riu. — Às vezes, as meninas tendem a ser mais cuidadosas.
Costumávamos subir naquela casa na árvore e brincar por horas até os pais dela chegarem e a obrigarem a entrar. Eu não podia ir com ela — eu era filha da empregada.
Sério? Eles fizeram esse tipo de distinção?
Sim. Eu só podia brincar com ela quando só a babá estava por perto. Ela e o irmão não tinham permissão para ficar comigo nem com o filho de qualquer outro funcionário. Uma vez, até demitiram uma babá por deixá-la brincar comigo.
Isso é... absurdo.
Era. Mas o que podíamos fazer? Mesmo assim, nos divertíamos enquanto durava. Corríamos pelo jardim, e o irmão dela só tocava o que queríamos se tocássemos o que ele queria primeiro, disse ela, rindo.
E vocês continuaram amigos?
Por um tempo, sim. Mas depois... ela mexeu a comida em silêncio... tudo foi destruído.
Leandro a observou atentamente, imaginando que memórias ela estava reprimindo.
O almoço continuou com histórias, memórias e um tom descontraído que fez com que ambos se sentissem confortáveis e surpreendentemente à vontade.
Obrigada pelo almoço, ela disse finalmente. Fazia tempo que eu não ria assim.
Tenho muito mais histórias. E se elas me fizerem sorrir de novo, eu conto todas.
Ela riu novamente, mas dessa vez com um olhar diferente.
Um olhar que dizia que, apesar das cicatrizes, talvez... só talvez... ainda fosse possível deixar alguém entrar.
Depois do almoço, Aurora e Leandro voltaram juntos para o escritório. A viagem de volta foi mais tranquila, porém confortável — não um silêncio constrangedor, mas o tipo de silêncio que existe entre duas pessoas que estão começando a se entender com apenas um olhar.
De volta ao escritório, Aurora foi direto para sua mesa verificar e-mails e colocar as tarefas da tarde em dia. Leandro foi para sua sala.
Cerca de vinte minutos depois, ela estava imersa na revisão de um cronograma de projeto quando ouviu o som de saltos firmes no corredor. Ela reconheceu o ritmo antes mesmo de ver quem era. Sandra apareceu na porta com uma expressão impecavelmente profissional, segurando uma pasta preta.
O Sr. Leandro precisa assinar isso para o Sr. Marcos, ela disse, segurando os documentos.
Aurora estendeu a mão para pegá-los, mas Sandra não soltou de imediato. Seus olhos se fixaram nos de Aurora, sua voz transbordando uma falsa doçura.
Deve ser bom ter esse tipo de acesso direto. Facilita na hora de impressionar o chefe.
Aurora congelou por um segundo.
De novo, Sandra? ela respondeu, pegando a pasta.
"Eu não te suporto, querida", disse Sandra, encostando-se na mesa. "Você não é a santinha que finge ser."
Não finjo ser nada. Parece que estou preso na sua cabeça, de alguma forma.
Os olhos de Sandra se arregalaram, surpresa e irritada.
Você perdeu a cabeça. Tenho certeza de que fez alguma coisa — ou ainda faz, né? Sair com o chefe todo dia...
Aurora estava prestes a responder, mas antes que pudesse dizer uma palavra, a porta do escritório de Leandro se abriu, assustando os dois.