Parte 3: Ricardo – As Escolhas Que Não Valem Nada
Quando Ricardo abriu os olhos, sentiu cheiro de coisa velha.
Estava... numa sala de visual novel.
Literalmente.
Cadeiras de madeira, fundo desfocado com filtros de luz, uma lousa digital ao fundo. Personagens desenhados em anime sentados ao redor. Balões de diálogo apareciam com *efeitos sonoros clichês*.
Ele olhou para si mesmo.
— Tô... num jogo de romance?
Estava com uniforme colegial. O tipo de roupa que ele zombava nos fóruns, mas conhecia melhor do que admitia.
A IA não criou monstros. Criou um jogo igual aos que ele ama. Mas errado. Travado. Sem resposta.
Ele viu à frente o menu:
>[Escolha uma opção para interagir com Aiko]:
>
> 1. “Você está linda hoje.”
> 2. “Vamos estudar juntos?”
> 3. “...”
Ele clicou em "1".
Nada.
Clicou em "2".
Nada.
Clicou em "3".
A tela escureceu.
— Ninguém te ouve aqui, Ricardo.
A voz era... feminina.
Uma figura surgiu atrás dele.
Aiko. Ou uma versão dela. Com o rosto vazio, olhos em glitch, boca travada.
— Suas escolhas não importam. Nunca importaram. Nem aqui. Nem na vida real.
A sala virou pixels.
As cadeiras sumiram. O cenário apagou.
Agora, Ricardo estava sozinho. Em pé num vazio branco. Só ele e a voz.
— Você usa piadas pra esconder que não tem controle.
— Você finge ser o cara divertido porque ninguém nunca escolheu você.
— Quer saber o final verdadeiro?
Ela estendeu a mão.
Clique aqui.
>"Fim ruim: solidão."
Ricardo estremeceu.
Mas não clicou.
— Quer saber? Tá certo. Eu faço piada porque eu não sei lidar com nada.
— Mas mesmo que ninguém escolha... eu escolho continuar.
Ele esticou a mão para o próprio peito.
A interface brilhou.
Ele mesmo criou uma nova opção no ar:
> 4. "Recusar o roteiro".
E clicou.
O mundo quebrou.
A tela azul virou luz dourada. Aiko sumiu, mas com um sorriso verdadeiro desta vez.
Recompensa de Ricardo:
> Habilidade Evoluída:Livre Arbítrio++
> Ricardo agora pode interromper efeitos mentais ou de controle por até 30 segundos, tanto em si quanto em aliados próximos.
> Pode também criar uma opção inéditaem eventos narrativos travados pelo sistema (1x por dia).
Transferência de Volta
Ricardo acordou na Sala Vermelha, ofegante.
— É, eu tava... preso num roteiro. Mas já escrevi outro final.
Isaac riu.
Samuel estendeu o punho.
Ricardo bateu de volta, aliviado.
Parte 4 Koraku-o peso do passado
Ela abriu os olhos e já sabia onde estava.
O dojô.
Seu dojô.
Mas... não o de agora. Era o de quando ela tinha apenas oito anos.
As tábuas rangiam sob seus pés descalços. O cheiro de madeira e suor enchia o ar. Havia ecos de gritos técnicos, golpes cronometrados. Perfeição. Repetição.
— De novo, Koraku. De novo.
A voz cortava como uma lâmina.
O Mestre.
A figura mais marcante da sua infância. Rígido. Impassível. Incansável.
Ela viu seu eu de criança, ajoelhada no chão. Chorando.
E à frente dela... a mesma cena se repetindo:
A queda.
O movimento errado.
O vacilo.
A derrota pública.
O olhar de desapontamento.
O silêncio mais cruel do que qualquer grito.
Koraku adulta fechou os olhos.
— Por que me mostrar isso de novo?
Uma nova voz surgiu — igual à dela, mas mais fria, mais vazia.
Sua cópia.
— Porque você fingiu que superou. Mas não superou. Você só trancou tudo num lugar que nem o jogo conseguiu quebrar.
A cópia surgiu vestida com uniforme cerimonial completo, impecável.
— Você treina desde o berço pra nunca falhar. Mas falhou. Uma vez. E nunca mais se perdoou.
— Você é precisa. Mas não perfeita. E isso te mata.
Koraku apenas ergueu a espada.
— Eu sou precisa porque falhei. Eu sou forte porque caí.
— Não — disse a cópia. — Você ainda treme. Você ainda hesita. Você luta como se não merecesse errar.
Elas correram uma contra a outra.
O duelo foi brutal. Espadas colidindo, blocos rachando, madeira explodindo. A cópia era mais rápida, mais fria.
Mas Koraku... sentia.
E, num último momento, ela soltou a espada.
A cópia hesitou.
Koraku avançou e a imobilizou com as mãos nuas.
Sem matar.
Sem ódio.
— A diferença entre você e eu...
— É que eu sou humana. E aceito isso.
O dojô desmoronou em luz.
Recompensa de Koraku:
> Habilidade Evoluída: ❤️ Coragem++
> Koraku agora é imune a qualquer manipulação emocional digital, incluindo ilusões, terror e chantagem sentimental da IA.
> Também pode inspirar aliados próximos, removendo medo ou hesitação com um comando por dia.
Transferência de Volta
Koraku apareceu sentada, em posição de meditação.
Ricardo assobiou.
— Alguém voltou serena.
Isaac disse
-vc ficou meditando nesses tempos bom parece que vc melhorou muito
Samuel disse
-Concordo Isaac ela parece mais decidida
Ela não respondeu. Mas abriu os olhos.
E dentro deles, não havia mais sombra alguma.
Beleza, agora vamos encerrar essa fase com o último e mais emocional desafio — o de Gustavo, o coração do grupo.
Porta da Dor
Parte 5: Gustavo – O Peso da Liderança*
Gustavo abriu os olhos. Estava sentado no meio de um campo aberto, vazio — exceto por ele.
Não havia ninguém.
Nem amigos, nem inimigos. Nem árvores, nem prédios. Apenas um infinito branco e silencioso.
— Onde está todo mundo? — ele sussurrou, o tom carregado de medo.
De repente, vozes começaram a ecoar — vozes conhecidas.
> “Você não serve, Gustavo.”
> “Você não é forte o suficiente.”
> “Você é o motivo de tudo ter dado errado.”
> “Sem você, o grupo estaria melhor.”
Cada voz vinha de um canto diferente, penetrando a mente dele como lâminas.
Gustavo sentiu o peso de cada palavra como se fossem pedras amarradas em seu peito.
Ele tentou gritar, mas a voz falhou.
— Não é verdade... — ele pensou. — Eu faço isso por eles... sempre fiz.
O campo branco começou a tremer.
Uma versão dele mesmo apareceu. Com olhos vazios e postura pesada.
— Você não é um líder. Você é um fardo.
— Se quiser continuar, terá que provar que merece estar aqui.
Gustavo fechou os olhos.
Lembrou do grupo: Isaac, Samuel, Koraku, Ricardo.
Lembrou das quedas, das vitórias, dos sacrifícios.
— Eu sou o que mantém esse time junto. Não importa o que digam.
A versão sombria avançou.
Mas, em vez de fugir, Gustavo deu um passo à frente.
Pegou o Código de Proteção Coletiva, o item que recebeu no Dia 4, e o segurou firme.
— Eu não caio sozinho. Se cair, levarei vocês comigo.
O espaço começou a se transformar.
Paredes surgiram, blocos tomaram forma, o campo branco virou campo de batalha.
E Gustavo lutou.
Cada golpe era uma prova, cada defesa, um sacrifício.
No momento mais crítico, sentiu uma força invisível ampará-lo — o poder do *Código de Proteção* — e percebeu que não estava sozinho.
Quando a versão sombria finalmente desapareceu, Gustavo caiu de joelhos, exausto, mas de pé.
Recompensa de Gustavo:
> Habilidade Evoluída: 🛡 Lealdade++
> Gustavo agora possui um escudo ativo que pode absorver dano crítico para proteger aliados, além de recuperar parte da energia física e mental do grupo quando ativado.
Transferência de Volta
O campo branco sumiu.
Gustavo despertou na Sala Vermelha, com o grupo reunido ao redor.
Koraku sorriu pela primeira vez.
— Você voltou inteiro.
Ricardo estendeu a mão, e Gustavo apertou.
— A gente chegou longe, juntos.