Fechei a porta com o calcanhar, equilibrando sacolas de compras nos dois braços enquanto lutava com minhas chaves. Mais um dia exaustivo na agência de trabalho temporário, mais uma noite de jantar de micro-ondas e reality shows. O peso familiar da rotina se instalou em meus ombros enquanto eu largava as sacolas no balcão da cozinha.
"Hazel, querida! Aí está você!"
Quase pulei da minha pele. A voz da minha mãe veio da sala de estar, onde ela definitivamente não estava quando saí esta manhã. Espiei pela esquina e encontrei meus pais sentados no meu modesto sofá como realeza visitando a cabana de um camponês.
"Mãe? Pai? O que vocês estão fazendo aqui? Como entraram?" perguntei, meu coração ainda acelerado.
Meu pai, Arthur Vance, endireitou sua postura já impecável. "Seu zelador nos deixou entrar. Estamos esperando há quase uma hora."
Claro que o Sr. Jenkins os deixaria entrar. Meus pais tinham esse efeito nas pessoas—fazendo-as se sentirem simultaneamente honradas e aterrorizadas.
"Vocês poderiam ter ligado," disse, tentando manter a irritação longe da minha voz.
"Nós ligamos, duas vezes," minha mãe, Serena, respondeu, alisando rugas invisíveis da sua saia de grife. "Você não atendeu."
Olhei para meu telefone. Duas chamadas perdidas. Ótimo.
"O que é tão urgente que vocês precisaram me emboscar em casa?" perguntei, notando como o olho do meu pai tremeu com a palavra "emboscar."
Os lábios pintados de carmim da minha mãe curvaram-se no que ela provavelmente pensava ser um sorriso caloroso. "Temos ótimas notícias!"
Ela estendeu um envelope cor de creme na minha direção. Mesmo à distância, reconheci o elegante relevo dourado. Meu estômago afundou.
"Não quero isso," disse secamente.
"Não seja ridícula, Hazel," meu pai repreendeu. "Pegue o convite."
"Não preciso ler para saber o que é." Cruzei os braços. "Convite de casamento da Jessica e do Ethan. A resposta é não."
O sorriso da minha mãe vacilou. "Hazel Elizabeth Vance, esse rancor infantil já durou tempo demais. Jessica é família."
"E Ethan foi meu namorado por três anos antes de eu pegá-los juntos na MINHA cama!" A memória ainda queimava, crua e humilhante.
"Isso foi há quase um ano," meu pai dispensou com um aceno de mão. "Pessoas cometem erros."
"Um erro?" Ri amargamente. "Pai, eles ficaram noivos seis semanas depois."
Minha mãe levantou-se, aproximando-se de mim como se eu fosse um cavalo assustado. "Querida, às vezes o amor é complicado. Jessica e Ethan perceberam que eram destinados um ao outro—"
"Na minha cama? Enquanto eu estava no trabalho sustentando ele durante a faculdade de direito?" A raiva que eu havia suprimido por meses surgiu através de mim. "E agora vocês esperam que eu celebre o 'amor' deles?"
"Esperamos que você seja madura," meu pai rebateu, sua voz assumindo aquele tom autoritário familiar que me intimidava desde a infância. "Os Thornes e os Vances são amigos de família há gerações. Sua ausência causaria uma cena desnecessária."
"Então devo sorrir e brindar à felicidade deles? Assistir à primeira dança deles como marido e mulher? Tudo para manter as aparências?" Minha voz falhou.
Minha mãe colocou o convite no balcão. "Sim, é exatamente isso que você vai fazer. Porque você é uma Vance, e os Vances lidam com situações difíceis com graça e dignidade."
Senti lágrimas ameaçando cair. "E a lealdade à sua filha? Isso não importa nada?"
Meu pai levantou-se agora, imponente no meu pequeno apartamento. "Chega de dramatismo. Você vai comparecer ao casamento. Vai ser agradável. E finalmente vai deixar esse desconforto para trás. Esta discussão acabou."
Olhei fixamente para eles, essas pessoas que compartilhavam meu sangue mas não conseguiam entender minha dor. "Saiam."
"Como é que é?" Os olhos da minha mãe se arregalaram.
"Preciso que vocês saiam. Agora." Segurei a porta aberta, minha mão tremendo.
Eles trocaram olhares de desaprovação antes de pegarem suas coisas. Minha mãe parou na porta. "O casamento é daqui a três semanas. Esperamos que você esteja lá." Sua voz não deixava espaço para discussão.
Quando eles se foram, escorreguei contra a porta fechada, finalmente deixando as lágrimas fluírem. Peguei meu telefone e disquei para a única pessoa que entenderia.
"Chloe? Pode vir aqui? É uma emergência."
Vinte minutos depois, Chloe irrompeu pela minha porta, braços carregados com garrafas de vinho e sorvete.
"O que aconteceu? Você parece terrível," ela disse, imediatamente servindo duas taças generosas de vinho tinto.
Entreguei-lhe o convite sem dizer palavra. Seu rosto escureceu enquanto lia.
"Aqueles covardes obcecados por aparências—" Ela se interrompeu, respirando fundo. "E eles te emboscaram aqui?"
Assenti, aceitando a taça de vinho. "Eles disseram que tenho que ir. Que tenho que sorrir e fingir que está tudo bem."
"Que se dane isso!" Chloe colocou sua taça na mesa com um baque. "Você absolutamente não vai a esse casamento."
"Mas meus pais—"
"Seus pais podem enfiar a lealdade familiar onde o sol não bate," Chloe disparou. "Eles claramente não entendem o conceito quando se trata da própria filha."
Bebi meu vinho, grata por sua feroz proteção. "O que vou fazer? Eles não aceitarão um não como resposta."
Os olhos de Chloe de repente se iluminaram—um sinal perigoso que eu conhecia desde a infância.
"Quando é a data do casamento?" Ela pegou o convite novamente.
"16 de julho," disse miseravelmente.
Seu sorriso cresceu. "Essa é a noite do Baile de Máscaras Sterling."
"Do quê?"
"Apenas o evento mais exclusivo do verão! Máscaras, vestidos de gala, champanhe—e mais importante, zero chance de encontrar sua prima traiçoeira ou ex sem espinha dorsal." Ela pegou seu telefone, digitando furiosamente. "A empresa da minha família sempre recebe convites. Eu estava planejando pular, mas agora..."
"Chloe, eu não sei..."
"Você não sempre quis se sentir como Cinderela por uma noite? Escapar da sua vida e ser outra pessoa completamente?" Seus olhos brilhavam de empolgação. "Uma noite de magia em vez de miséria. Você merece pelo menos isso."
"Meus pais nunca concordarão com isso."
"Deixe-os comigo," disse Chloe com um sorriso travesso. "Vou dizer que é uma oportunidade de networking que pode conseguir um emprego permanente para você. Avanço na carreira é a única desculpa que eles podem aceitar."
Nas três semanas seguintes, o plano de Chloe tomou forma. Ela convenceu meus pais com uma mentira magistralmente elaborada sobre potenciais empregadores no baile. Ela me arrastou para comprar um vestido que custava mais que meu aluguel mensal—um número vermelho deslumbrante que fez até eu olhar duas vezes. Ela até providenciou cabelo e maquiagem profissionais.
Na noite de 16 de julho, fiquei na frente do meu espelho, mal reconhecendo a mulher que me encarava. O vestido vermelho abraçava cada curva, meu cabelo preto normalmente rebelde agora cascateava em ondas perfeitas pelas minhas costas, e a máscara dourada adornando meu rosto destacava meus olhos verdes de uma maneira que os fazia parecer quase sobrenaturais.
Chloe apareceu atrás de mim no espelho, resplandecente em azul meia-noite. "Você está incrível. Pronta para ter a noite da sua vida?"
O peso do dia—de saber que Jessica estava caminhando pelo altar naquele exato momento—de repente caiu sobre mim. O pânico tomou conta do meu peito.
"Acho que é melhor eu ficar," sussurrei, mãos tremendo. "Não estou no clima para festa."