Capítulo 2

Eduardo observava Naomi enquanto ela voltava a atenção para o caderno, os cachos loiros caindo como uma cortina que ele tinha vontade de afastar com os dedos. Ela era... irritante. Não pelo que dizia, mas pelo que fazia com ele sem nem tentar. Aqueles olhos azuis, grandes e límpidos, pareciam enxergar através dele, e isso o incomodava. Ele não estava acostumado a se sentir exposto. Não desde... Não, ele não pensava nisso. Não podia. A fome latejava em suas veias, uma lembrança constante do que ele era, do que havia escolhido séculos atrás. Mas ali, naquela sala de aula banal, com o cheiro de papel velho e café barato, Naomi o fazia esquecer, mesmo que por um segundo, da escuridão que carregava.Ela o desafiava, com aquela mistura de doçura e coragem que ele não esperava. A forma como ela o enfrentou, sem recuar, o fez querer testá-la mais, cutucá-la até que ela mostrasse quem realmente era por baixo daquela fachada de garota certinha. Ele sabia que não deveria se aproximar. Humanos eram frágeis, perigosos de uma forma que ele não podia explicar. Mas algo nela — o perfume suave de lavanda, o pulsar rápido da veia em seu pescoço — o atraía como uma chama atrai uma mariposa. E Eduardo sabia o que acontecia com mariposas que se aproximavam demais do fogo.— Vamos ver até onde você aguenta, Naomi — murmurou ele para si mesmo, enquanto a professora começava a aula, sua voz um ruído distante. Ele não estava ali pelos estudos. Estava ali por algo muito mais perigoso. E, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia que o jogo poderia escapar de seu controle.