O sol já havia se posto quando Naomi saiu da biblioteca da faculdade, o peso do caderno de anotações sob o braço quase tão grande quanto o peso em seu peito. Desde o incidente no corredor — o tapa, o beijo, a fuga —, ela não conseguia olhar para Eduardo sem sentir uma mistura de raiva, vergonha e algo mais, algo que a fazia corar só de pensar. Ela tentava evitá-lo, mas a faculdade parecia pequena demais para isso. E agora, ali estava ele, encostado na parede do pátio, as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta de couro, os olhos castanhos fixos nela como se soubesse exatamente o que a atormentava.Naomi apertou o passo, os cachos loiros balançando enquanto tentava passar por ele sem ser notada. Mas a voz dele a alcançou, grave e provocadora, cortando o ar frio da noite. — Fugindo de mim, Naomi? — Ele se desencostou da parede, caminhando em sua direção com uma graça que parecia quase sobrenatural. — Achei que você fosse mais corajosa.Ela parou, os punhos cerrados, o coração disparado. Virou-se para encará-lo, os olhos azuis faiscando com uma mistura de irritação e desafio. — Não estou fugindo — retrucou ela, a voz mais firme do que sentia. — Só não vejo motivo pra perder meu tempo com alguém que gosta de humilhar os outros.Eduardo riu, um som baixo e rouco que fez os pelos de Naomi se arrepiarem. Ele deu um passo mais perto, invadindo seu espaço, o cheiro de couro e algo metálico envolvendo-a. — Humilhar? — disse ele, inclinando a cabeça, o sorriso torto carregado de sarcasmo. — Você é quem se joga em mim e depois corre como uma criança assustada. Não sabe o que quer, florzinha?O apelido a fez cerrar os dentes. — Não me chame assim — disparou ela, dando um passo à frente, reduzindo a distância entre eles. — E eu sei exatamente o que quero: que você me deixe em paz. Por que você não vai atrás de alguém que aguente seu joguinho de macho arrogante? Tipo a Lara, por exemplo.Os olhos de Eduardo escureceram, e por um instante, Naomi pensou ter visto um brilho vermelho neles, como uma chama fugaz. — Cuidado com o que diz, Naomi — murmurou ele, a voz baixa, quase perigosa. — Você não sabe nada sobre mim. Ou sobre Lara.