Laura saiu da reunião mais cedo. Estava animada - queria mandar uma mensagem, talvez propor uma noite de vinho e filme besta.
Mas ao abrir o Instagram. lá estava o post.
Foto panorâmica. Legenda em tom leve,
MACHU PICCHU com elas. Finalmente! Três anos esperando esse reencontro. Gratidão e respiro!
Rafaela.
No Peru.
Sem avisar.
Sem dar Tchau.
Laura leu a legenda uma, duas, três vezes.
Deslizou o dedo pela tela como se fosse uma faca.
- Ela viajou. E nem me disse?
Mariana, a assessora, entrou bem na hora:
- Você está branca. Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu sim. Minha quase-esposa foi subir montanha com as amigas e me deixou aqui no chão, com um contrato e mil suposições.
Rafaela só respondeu horas depois.
Laura, eu precisava respirar.
Essa viagem foi planejada há anos.
Prometo que explico tudo.
Por favor, não fica brava.
Laura jogou o celular na cama.
-Não estou brava. Estou ferida. Que é bem pior.
ENQUANTO ISSO : RAFAELA CONVERSANDO COM UMA AMIGA EM MACHU PICCHU
-Você contou para ela que vinha?
- Não.
-Rafaela...
- Eu precisava pensar.
- Em quê?
- Em por que diabos uma mulher que eu conheço há pouco tempo esta bagunçando tudo aqui dentro.
-Ah... então... você está ferrada.
Rafaela encarava o horizonte.
- Eu achei que se eu saísse um pouco, as coisas se acalmariam. Mas parece que só ficou mais intenso.
- Porque você não quer distância, Rafa. Você quer fuga com prazo de volta.
POR MENSAGEM:
Laura:
Você poderia ter me dito.
Eu entenderia.
Mas silêncio machuca mais do que distância.
Rafaela:
Você tem razão.
E foi medo.
Não de você. De mim.
De estar sentindo demais.
Laura respondeu só no dia seguinte.
Se você está sentindo demais, então volta.
Porque eu estou aqui, sentindo sozinha.