Laura chegou ao evento achando que seria mais uma entrega de prémio agroecológico qualquer. Mas não era. Era um campo minado disfarçado de coquetel elegante. Tudo ia bem: Ela chegou com seu look casual chic, cabelo preso em coque displicente, salto confortável, sorriso treinado. Estava pronta para brilhar. Até ouvir aquela frase solta entre duas senhoras da pecuária:
- A Rafaela esta aí. Chegou com o Rafael.
Rafael?
Laura virou lentamente, como quem não quer parecer desesperada.
E lá estava ele.
Alto, moreno, sorriso fácil, camisa social dobrada nos cotovelos - e a mão dele pousada na cintura de Rafaela tempo demais.
Rafaela ria de algo que ele dizia.
Ria daquele jeito que Laura achava que era só com ela.
A mão dele escorregou discretamente pelas costas dela, e Laura quis virar a taça de vinho na cara do rapaz.
Mariana, assessora, sussurrou:
- Rafael? Não é o ex que ela quase casou?
- Quase?
- Quase. Até ele dizer que queria que ela largasse tudo e fosse só esposa.
- Ah, o clássico quero uma mulher incrível... desde que não brilhe maisque eu.
Laura respirou fundo.
- Calma. É só um reencontro amigável. Ela não é dele. Nunca foi.
Mas o peito... queimava.
Rafaela notou Laura e veio até ela com um sorriso travado.
- Você veio!
- Eu sempre venho quando é importante.
- Esse é o Rafael, um velho amigo.
— Eu sempre venho quando é importante.
— Esse é o Rafael, um velho amigo.
Rafael estendeu a mão.
- Ou algo mais, dependendo do ponto de vista.
- Rafael ! - Rafaela o repreendeu, mas sorriu nervosa.
Laura apertou a mão dele firme.
- Laura atual.
O silêncio foi breve. Cortante.
Rafael sorriu, sarcástico:
- Então você é a assessora especial da Rafa.
- E você é o que sobrou da vida passada dela? - Laura respondeu com um sorriso doce e venenoso.
Rafaela interveio:
-OK, meninas. Briguem depois. Vamos brindar por enquanto?
Mas Laura não brindou.
Ela encarou o vinho e decidiu que não queria mais esperar.
- Rafa, posso te falar uma coisa?
- Claro.
- Eu estou aqui. E eu gosto de você. Muito.
Mas eu não vou disputar o que já deveria ser meu.
Rafaela a encarou, sem piscar.
- Você não precisa disputar. Eu só estou confusa.
- Então se organiza. Porque confusão machuca quem esta amando de verdade.
E Laura saiu.
ESCOLHA PÚBLICA. AMOR ASSUMIDO.
Laura estava de saída.
Coração na boca, pulso acelerado e aquele olhar que disfarça com elegância a dor de ser deixada para depois.
Caminhava entre os convidados como quem atravessa um campo minado com salto 10. Quando sentiu uma mão firme segurar sua cintura.
Caminhava entre os convidados como quem atravessa um campo minado com salto 10.
Quando sentiu uma mão firme segurar sua cintura.
Não era qualquer toque. Era o toque de quem, enfim, decidiu ficar.
- Não vai embora.
- Por quê, Rafaela? Vai me alcançar em Goiás de novo?
Rafaela respirou fundo.
Os olhos dela estavam intensos, assustados... e decididos.
- Porque você merece ser assumida.
E porque ninguém, nem o passado, nem minha agenda, vai fazer eu perder você.
A sala silenciou ao redor. As pessoas fingiam não ouvir. Mas estavam todas ouvindo.
Rafael também.
Rafaela se aproximou. Colocou a mão nas costas de Laura. E com delicadeza, mas firmeza, puxou -a para si no meio do salão.
- Fica ao meu lado, Laura. Sem esconderijo. Sem desculpa. Laura sentiu arrepiar.
O salão inteiro podia cair - ela não se importava mais.
- Se você repetir isso mais uma vez...
Fica ao meu lado, Laura. -- ...eu fico. - e sorriu, com os olhos marejados.
RAFAEL
Rafael observava de longe. Tenso. Contrariado. E finalmente...derrotado.
Ele virou as costas. Saiu sem se despedir.
Uma das organizadoras correu atrás: - Rafael! Vai embora sem dar tchau?
Ele sorriu amargo:
- Já fui faz tempo. Só faltava aceitar.
O SILÊNCIO QUE DESVESTE
Flashback curto
Enquanto Rafaela assina documentos no escritório e observa Laura em uma entrevista, ela se lembra do dia em que seu pai disse:
"Você precisa de alguém com imagem pública forte. Amor vem depois, o império não espera."
Rafaela segurou a mão de Laura com firmeza. Como quem finalmente decidiu conduzir, não apenas acompanhar.
- Vem comigo.
- Para onde?
- Para onde ninguém mais foi.
A viagem de volta foi silenciosa. Mas não por falta de assunto. Era o tipo de silêncio onde o corpo fala mais do que a boca.
Laura sentia cada toque de Rafaela no volante como se o proprio ar estivesse sendo seduzido.
Quando o carro entrou no condominio, Laura estranhou.
- Você mora aqui?
- Moro.
- Por que nunca disse?
Rafaela deu um meio sorriso.
- Porque nunca achei que alguém fosse importar com a minha casa. Até agora.
A mansão era linda. Moderna. Sóbria. Mas o que impressionou Laura não foi o tamanho. Fooi o contraste entre a imponência da estrutura e a gentileza do lar. Tudo ali era acolhedor, cheio de detalhes, como Rafaela.
Ao entrar, Rafaela a guiou pelos cômodos com a mão ainda entrelaçada à dela.
- Achei que você morava em um sítio rústico com galinhas correndo no gramado.
- E eu achei que você era só vaidade e ambição.
- Estamos empatadas em surpresas.
Chegaram ao quarto.
- Fica comigo essa noite? - Rafaela perguntou, sem ousadia. Só com verdade.
- Já estou aqui, né?
Rafaela fechou a porta devagar. O quarto tinha um cheiro doce, de madeira polida e roupa limpa.
Laura tirou os sapatos. E foi só.
Rafaela se aproximou sem pressa.
Os olhos dela viajavam pelo corpo de Laura com respeito e desejo. Como quem admira arte. E também sente.
Tocou a alça do vestido de LAura com delizadeza.
- Posso?
- Pode.
- Se eu for devagar, você desiste?
- Se for rápido demais, eu acordo.
A alça deslizou.
E com ela, veio um arrepio que fez Laura prender a respiração.Rafaela observava cada gesto, cada suspiro. Não era pressa. Era intimidade cultivada. O momento certo. Finalmente.
Beijos suaves no ombro. Mãos no quadris. A boca encontrou a curva da cintura. Laura entreabriu os lábios, soltando um Rafa... quase mudo.
E no reflexo da janela, Laura viu: Rafaela estava tão entregue quanto ela. Não era um desejo qualquer. Era desejo com alma.
Quando o último tecido caiu, não foi o corpo que ficou nu.
Foi o medo.
A dúvida.
A distância
Agora não havia mais nada entre elas.
A NOITE QUE NÃO TEVE FIM.
Começou com um beijo. Mas não era qualquer beijo. Era o beijo de quem esperou demais, fantasiou demais, quis demais. E quando os lábios se encontraram. o tempo parou de novo.
Só que agora, ele não voltou a andar.
A noite caía do lado de fora da mansão. Mas dentro do quarto, era um furacão quente e silencioso. Rafaela se tornava tempestade. E Laura, a floresta que se deixava encharcar.
Nada era tímido.
Nada era raso.
Elas se devoravam com fome de alma. Rafaela mapeava cada centimetro da pele de Laura como quem lê um poema em braile.
- Você é melhor que o que eu imaginei, Laura.
- Então para de falar ... e continua me descobrindo.
Os corpos se entrelaçavam, ritmados como onda e areia. Rafaela puxava os cabelos de Laura com firmeza e doçura. Laura arranhava os ombros de Rafaela como quem crava um nome na pele.
Nenhuma das duas falava eu te amo.
Mas diziam com o quadril. Com a boca. Com o gemido abafado no travesseiro.
Quando Rafaela foi até o fim, Laura arqueou o corpo. olhos fechados, como se estivesse voando sem sair da cama. E retribuiu. Com a mesma intensidade, com a mesma fome.
As mãos de Laura sabiam exatamente onde tocar. A boca dela...era pura reverência. Rafaela não gemeu - ela implorou por mais.
Estavam insaciáveis. Como quem tivesse um século de atraso no desejo.
A madrugada virou aurora. E a aurora virou mais uma dança de pernas, lençois e vontades. Nem o sol ousou entrar no quarto que o último suspiro saísse.
E ali, com os corpos suados, os cabelos bagunçados e o peito satisfeito, Laura disse:
- Agora sim... eu casei sem querer.
- Rafaela riu.
-E eu estou pronta para repetir os votos toda noite.