CAPITULO 15 - SEGUNDAS - FEIRAS TAMBÉM MERECEM ROMANCE.

A segunda- feira amanheceu com som do despertador eo cheiro d café que D. Tereza já preparava na cozinha.

Mas para Laura e Rafaela, o dia não começou no relógio. Começou nos olhares, nos dedos que se procuraram embaixo da coberta, no silêncio confortavél d equem ainda queria dormir abraçada. - Você vai trabalhar hoje? - perguntou Laura, com voz rouca de sono.

- Preciso. Mas posso me atrasar por um beijo.

- E se eu pedir dois? Rafaela sorriu e beijou. Duas vezes. E talvez mais do que prometido. Na cozinha, D Tereza fingia não notar o atraso, mas deixava a mesa posta com frutas, pão quentinho e bolo de fubá. - Isso aqui parece mais lua demel que segunda - feira- ela comentou baixinho, e Laura não conseguiu esconder o sorriso. Depois do café, Rafaela pegou a chave do carro e fez o convite inesperado:

- Quer vir comigo hoje? - Hoje? Tipo., ver vomo é minha rotina no campo? 

- Hoje. Ver como é o meu dia com os animais, com os peões, com a terra.

- Isso é ... meio íntimo, né?

- Você já viu meu corpo inteiro. Ver meu mundo não pode ser mais invasivo que isso. Laura não soube responder. Mas soube dizer sim. No carro, entre músicas sertanejas antigas e risadas, Rafaela apontava as paisagens:

- Essa parte do terreno é da minha mãe. Ela plantava girassóis aqui antes d emorrer.

- Você parece outra pessoa aqui.

- Aqui, eu sou mais eu do que em qualquer lugar. Quando chegaram, os cavalos estavam inquietos. Um potro novo havia nascido e ainda não se equilibrava. Laura observava de longe, encantada com a forma com Rafaela falava baixo com o animal, como quem sussurra para acalmar o mundo. Foi nesse instante que ela percebeu: não estava apenas se apaixonando. Já tinha se apaixonado. E agora só precisava descobrir o que fazer com isso. No fim da tarde, com o cheiro da terra molhada e os cabelos bagunçados pelo vento, Laura perguntou:

- Se você tivesse que escolher entre isso e eu...

- Eu escolheria a forma de manter os dois.

- E se não desse? Rafaela olhou nos olhos dela.

-Então eu faria dar.

As paredes têm ouvidos. E colunas de fofoca também.

 A manhã tinha começado quando o celular de Laura apitou com força. Mensagem da assessora.

- Amiga... você está na boca do povo. Literalmente.

Laura, ainda meio zonza de sono, clicou no link

Era um portal de notícias regionais, com manchetes mais chamativas do que jornal sensacionalista.

Executiva e a força do agro estariam vivendo romance secreto? Fontes próximas afirmam que o contrato não é o único laço entre elas. A matéria citava eventos sociais, a visita à fazenda, e uma foto em que Rafaela e Laura apareciam lado a lado - sorrindo, com um pouco mais de proximidade do que o protocolo mandava. Laura praguejou mentalmente.

- Quem foi que tirou essa foto?

Ela queria rir da audácia, mas o coração disparava. Rafaela ainda nem sabia da matéria. E Laura não sabia se queria contar... ou desaparecer. Minutos depois, o celular tocou. Rafaela.

- Viu o circo pegar fogo, né?

- Você está calma assim mesmo ou é disfarce?

- Já lidei com bezerro parindo em enchente, Laura. Isso aqui é só uma coluna social.

Laura mordeu o lábio, lutando contra o sorriso.

- Não te incomoda?

- Saber que o povo acha que você é minha namorada? Incomoda não. Incomoda é eu não poder te chamar assim ainda.

Silêncio. Cúmplice. Quente.

- Se quiser, a gente pode negar tudo, disse Laura, no automático.

- Você quer negar?

- Não sei. Acho que... Estou com medo.

- Então segura minha mão. A gente enfrenta isso juntas.

Mais tarde, Laura entrou no elevador de um prédio para uma reunião e ouviu duas pessoas comentando discretamente:

- Acho lindo, sabia? uma mulher forte como Rafaela se apaixonar por alguém que ninguém esperava.

- Parece novela. Só espero que o final seja feliz.

E ali, entre o térreo eo 14° andar, Laura sentiu o peso do medo dar lugar a uma coragem nova.

Naquela noite, ela postou uma foto.

Nada demais, Só o pôr do sol na estrada.

Mas a legenda dizia: " Algumas viagens não começam com passagem. Começam com coragem."

- Rafela curtiu. E enviou uma mensagem:

- Acho que a gente acabou de sair do armário, hein?

Nem tudo que floresce se colhe fácil.

Desde o post do pôr do sol, Laura não era mais só a assessora elegante de voz marcante - agora era a possível namorada da força do agro.

As mensagens não paravam de chegar, nem os olhares enciesados nos eventos.

- Vocês estão juntas mesmos?

- Isso é estratégia d emarketing ou de coração?

- E Rafael? Vai deixar barato?

Laura respondia tudo com sorriso político. Mas por dentro, o turbilhão era de outro clima. As palavras de Rafaela ainda ecoavam na mente:

- Segura minha mão. A gente enfrenta isso juntas.

Naquela noite, sentada na varanda de casa com um vinho barato e um cobertor no colo, Laura desabafou com sua melhor amiga e assessora d eimprensa, Luísa:

- Você acha que eu estou virando manchete por causa de mim ou por causa dela?

- As duas coisas, Lau. Você sempre foi uma mulher de impacto. Mas agora virou casal de impacto.

- E se não der certo?

- Então foi bonito enquanto durou. Mas e se der certo, hein?

Enquanto isso, na fazenda, Rafaela tinha novo problema: o jornal local publicara uma matéria com título venenoso:

Filha única do império agro assume romance e levanta debate sobre dinastia familiar.

Rafaela riu da tentativa de escândalo.

- Levantem debate, mas não levantem calúnia.

Ela fechou o jornal e ligou para Laura.

- Esta tudo bem?

- Etou me segurando para não responder publicamente.

- Responde. Mas com elegãncia. Você é minha escolha. E quem quiser, que lide.

Laura pensou. Respirou fundo. E postou:

Quem conhece o coração da terra, não assusta com tempestade.

Foto: Ela, com botas de couro e sorriso sincero, ao lado d eum cavalo - no Aras, em um dia de sol.

A postagem viralizou. Não pelo escândalo. Mas pela coragem. E ali, no silêncio da rede, Rafaela digitou:

- Pronta para ser meu contrato vitalício?

Laura respondeu com uma figurinha: um coração vermelho... e uma assinatura com caneta.