EPISÓDIO 1 – INFÂNCIA MARCADA
Interior – Fazenda dos Ferraz – Final de tarde
O sol tingia o céu de laranja, espalhando uma luz suave pelos campos dourados da fazenda Ferraz. O som distante de galos e cavalos misturava-se ao canto de um sabiá solitário no galho seco de uma árvore. As janelas grandes da casa principal refletiam o pôr do sol como espelhos do passado.
Na varanda, Isabela Ferraz, com apenas 7 anos, observava tudo em silêncio. Seus olhos castanhos pareciam maiores quando ela os estreitava, tentando enxergar além da cerca de madeira que separava sua casa da estrada de terra.
— “Você está de novo aí, Isabela?” — perguntou Dona Clotilde, a governanta, abrindo a porta com um rangido. — “Seu pai não gosta que fique olhando pra fora. Diz que esse mundo lá fora não presta.”
Isabela não respondeu. Apenas mordeu os lábios e continuou encarando a estrada.
Ao longe, uma figura vinha se aproximando de bicicleta. Era um garoto, da mesma idade dela, com os cabelos castanhos bagunçados e uma camisa dois números maior. Ele pedalava com pressa, desviando de pedras e poças de lama.
— “É ele de novo...” — Isabela murmurou, como se confessasse um segredo a si mesma.
Exterior – Estrada de Terra – Continuação
Miguel Monteiro freou a bicicleta com um arrasto e parou do outro lado da cerca. Estava ofegante e suado.
— “Você sempre some do nada. Pensei que tinha se mudado.”
— “Meu pai me proibiu de vir até aqui.” — Isabela respondeu, levantando o queixo com orgulho. — “Mas eu não obedeço tudo o que ele manda.”
— “O meu também mandou eu não falar com você.”
— “Então por que veio?” — ela retrucou, arqueando uma sobrancelha.
Miguel deu um sorriso tímido.
— “Porque você é a única pessoa que me escuta sem rir.”
Houve um silêncio entre eles. Um silêncio confortável.
Interior – Sala de Estar da Mansão Ferraz – Ao mesmo tempo
Alberto Ferraz, pai de Isabela, andava de um lado para o outro, fumando um charuto. Era um homem alto, imponente, com olhos frios e fala calculada. No sofá, estava Verônica, sua esposa, folheando uma revista antiga.
— “Você sabia que aquele menino Monteiro apareceu de novo?” — ele rosnou, sem esconder a raiva.
— “É só uma criança, Alberto...”
— “É filho do inimigo! Criança ou não, essa amizade precisa acabar agora.”
Exterior – Cerca da Fazenda – Final da conversa
Miguel tirou algo do bolso: um cordão com um pingente em forma de estrela.
— “É da minha mãe. Ela disse que dá sorte. Quero que você fique com ele.”
Isabela hesitou.
— “Não posso aceitar isso.”
— “Pode sim. É pra você lembrar de mim... caso a gente não possa mais se ver.”
Ela estendeu a mão. Tocou o pingente. Os olhos dela brilharam.
Mas o momento foi interrompido por um grito seco vindo da casa:
— “ISABELA!”
Era Alberto Ferraz, furioso, descendo as escadas com passos pesados.
Miguel arregalou os olhos.
— “Corre!” — Isabela sussurrou.
Miguel pulou na bicicleta e desapareceu estrada afora. O som do pneu batendo na lama se misturou com os gritos do pai dela ao fundo.
Interior – Quarto de Isabela – Horas depois
Isabela estava sentada na cama, abraçada ao travesseiro. A estrela de Miguel ainda pendia em sua mão pequena. Dona Clotilde a observava da porta.
— “Seu pai só quer te proteger, menina.”
— “Ele quer me trancar. Como se eu fosse dele.”
— “Você tem a alma da sua mãe. Rebelde. Intensa. Cuidado com isso...”
Exterior – Casa dos Monteiro – Noite
Miguel limpava o rosto com o lençol. Estava machucado. Joaquim Monteiro, seu pai, passava álcool nos arranhões sem muita delicadeza.
— “Eu avisei pra não chegar perto dos Ferraz!”
— “Mas ela não é como eles, pai...”
Joaquim levantou a mão. Parou no ar. Depois, respirou fundo e saiu do quarto.
Interior – Cozinha da Mansão Ferraz – Dias depois
Verônica preparava chá enquanto Isabela desenhava algo em silêncio. O desenho era de duas crianças em lados opostos de uma cerca.
— “Quer mesmo guardar esse pingente? Seu pai pode ver.”
— “Vou esconder bem. Aqui dentro.” — Isabela apontou o coração. — “Ele não pode controlar isso.”
Exterior – Entardecer – Narrativa fecha o episódio
A cerca continuava ali. Imponente. Separando dois mundos.
Mas agora, havia algo mais forte que madeira e arame entre eles:
Um laço. Um segredo. Um primeiro amor nascido no lugar mais improvável.
E como toda boa novela... aquilo estava apenas começando.
———
PRÓXIMO EPISÓDIO: “Brincadeira Proibida”
Isabela e Miguel decidem se encontrar escondidos mais uma vez — mas dessa vez, algo sai terrivelmente errado. Um acidente acontece, e a presença de uma testemunha inesperada pode colocar tudo a perder. O início da tragédia que marcará suas infâncias está prestes a acontecer...