EPISÓDIO 39 – AS VOZES DO PASSADO
Interior – Apartamento de Isabela – Amanhecer
A luz do sol entrava pelas janelas. Isabela estava sentada na cama, com as mãos sobre o ventre, em silêncio. Já haviam se passado dois dias desde o exame. E desde então, ela tinha acordado com enjoos leves, um gosto estranho na boca e sonhos cada vez mais reais com duas vozes infantis chamando por ela.
— “Mamãe... Mamãe...”
Ela levou a mão ao peito, ofegante.
— “É só um sonho… só um sonho.”
Interior – Escritório da Fundação – Manhã
**Miguel** folheava antigos arquivos de doações, contratos da época da fundação da instituição. Ao lado dele, **Verônica** entregava um envelope pardo.
— “Esse dossiê estava arquivado entre os relatórios médicos antigos. Parece que Helena financiou uma clínica de adoção no interior de Busan… anos atrás.”
Miguel olhou atentamente.
— “Clínica Aurora…”
— “Mesmo nome da criança que apareceu nos arquivos do hospital.” — completou Verônica.
— “Coincidência demais. Precisamos ir até lá.”
Interior – Café – Tarde
**André** encontrava-se com **Eun-Ji Feraz**, sua tia, num café discreto no centro de Seul.
— “Por que você nunca me contou sobre essa suposta irmã?”
— “Porque até eu fui enganada.” — respondeu ela. — “Depois que sua mãe morreu, Helena sumiu com tudo. Mas havia rumores... de que Marina teve dois filhos. Um menino e uma menina.”
André abaixou o olhar.
— “E se ela estiver viva?”
— “Então Helena escondeu mais do que o nome. Escondeu vidas.”
Interior – Clínica Obstétrica – Consultório – Mesmo Momento
**Isabela** fez um novo ultrassom, sozinha. O médico, atencioso, sorria diante do monitor.
— “Hmm… temos mesmo duas batidas aqui. Você está esperando gêmeos.”
Isabela levou as mãos à boca.
— “Gêmeos? Eu… já suspeitava.”
O médico riu.
— “Você não quer saber o sexo?”
— “Ainda não.” — disse ela, emocionada. — “Não ainda…”
Ela saiu da clínica atordoada, com um misto de medo e alegria. Do lado de fora, ligou para Miguel — mas antes que ele atendesse, sentiu-se tonta. Apoiou-se no muro e respirou fundo.
— “Calma, Isabela… você não está mais sozinha.”
Interior – Arquivo Público de Busan – Final da Tarde
Miguel e Verônica folheavam caixas de registros antigos. Uma senhora idosa, **Senhora Park**, os acompanhava.
— “A Clínica Aurora funcionou por dezessete anos. Fechou após investigações sobre adoções ilegais e falsificação de certidões.”
Miguel parou ao ver um nome: **Aurora Yoon**.
— “Essa criança aqui… foi adotada em 2006, mas o nome da mãe biológica está como ‘confidencial’. Tem algum dado físico?”
A senhora Park retirou uma fotografia em preto e branco: uma bebê de olhos puxados e uma pequena marca no pescoço.
Verônica arregalou os olhos.
— “Espera... André tem essa mesma marca. É genética.”
Miguel olhou fixamente.
— “Então... talvez... Marina tenha dado à luz dois filhos. E um deles foi separado à força.”
Interior – Casa de Isabela – Noite
Isabela estava deitada, observando uma fita de vídeo antiga da infância. Na gravação, sua mãe ria com ela no colo, enquanto César aparecia ao fundo, frio, distante.
De repente, na gravação, uma cena estranha: um bebê diferente nos braços de uma enfermeira, com a mesma roupa de Isabela.
Isabela deu pausa e voltou o trecho.
— “O que…? Isso não sou eu.”
Ela congelou.
— “Ou… somos duas?”
Interior – Fundação – Escritório de Alina – Noite
Alina revisava relatórios quando André entrou.
— “Helena escondeu mais do que o passado. Há uma possibilidade real de que eu tenha uma irmã biológica... e que ela tenha sido colocada para adoção.”
Alina engoliu em seco.
— “E se... ela estiver viva?”
— “Então Helena destruiu mais uma vida para manter o controle. E dessa vez, precisamos consertar isso.”
Alina assentiu.
— “Se essa criança foi separada de Marina, talvez… ela esteja mais perto do que imaginamos.”
Interior – Quarto de Isabela – Madrugada
Isabela estava acordada. O vento soprava pelas janelas. Em seus pensamentos, vozes suaves surgiam novamente:
— “Mamãe… me encontra…”
Ela tocou a barriga, com lágrimas escorrendo.
— “Prometo… eu vou cuidar de vocês. Mesmo sem entender tudo ainda. Mesmo sem saber quem sou.”
Ela fechou os olhos, e sonhou com duas meninas correndo por um campo de flores, segurando as mãos uma da outra, sorrindo.
Ao fundo, uma figura aparecia de costas… idêntica a ela.
Interior – Porão da Fundação (flashback) – 2006
**Helena Monteiro**, jovem, conversava com um médico.
— “Ninguém pode saber da segunda criança. A mãe está morta, e isso deve permanecer assim.”
O médico hesitava.
— “E o pai?”
— “Ele… não tem escolha. Nem memória.”
Ela entregava um envelope com dinheiro.
— “Faça a certidão desaparecer.”
A porta se fechava lentamente, com o choro de dois bebês ecoando no fundo.
Fim do Flashback
———
PRÓXIMO EPISÓDIO: **“As Duas Estrelas”**
Isabela começa a sonhar frequentemente com duas meninas misteriosas. Miguel encontra uma moça idêntica a André num orfanato em Gyeonggi-do. Enquanto César prepara um novo ataque à fundação, Alina descobre que Helena teve uma irmã secreta. O passado começa a desenhar um futuro que ninguém poderá evitar.