Capitulo 1: Luz, Câmeras… Eclipse.

📣 [Matéria Exclusiva - KStarNow]

🔥 AUREUS x ECLYSE: A RIVALIDADE DOURADA DO K-POP ESTÁ DE VOLTA!

Preparem-se, fandoms: a batalha de luz e sombra está prestes a recomeçar.

Desde seus debuts quase simultâneos há dois anos, AUREUS e ECLYSE se tornaram dois dos grupos masculinos mais comentados da indústria. Um, vibrante como o sol. O outro, intenso como a noite. E juntos, eles formam uma das maiores rivalidades que o K-pop já viu — dentro e fora dos palcos.

Enquanto AUREUS brilha com coreografias incendiárias, vocais poderosos e um estilo ousado, ECLYSE conquista com sua estética minimalista, performances teatrais e letras melancólicas. As comparações são inevitáveis, e as fanbases — os Aurians e os Eclipses — não deixam barato quando o assunto é defender seu grupo favorito.

Agora, a tensão vai aumentar: ECLYSE retorna aos palcos após quase dois anos de hiato por conta do alistamento obrigatório de seu líder, Lee Daehyun, o icônico e reservado vocalista do grupo. E o timing não poderia ser mais provocativo — o comeback acontece exatamente uma semana após o anúncio do novo single de AUREUS, que mal saiu das paradas com seu hit "".

Mas quem são, afinal, os garotos por trás do fogo e da sombra?

☀️ AUREUS

“Born to burn. Made to shine.”

Kael Min-Ho (Kai) — 19 anos

O mais novo do grupo, e talvez o mais explosivo. Metade brasileiro, metade coreano, Kai tem uma presença de palco magnética e um vocal que desafia sua idade. Fora dos palcos, é conhecido por sua personalidade impulsiva, espontânea e... digamos, difícil de ignorar.

Minjae — 22 anos

Misterioso, introspectivo e o cérebro criativo do AUREUS. Compõe a maioria das músicas do grupo, e raramente dá entrevistas. É quem segura Kai nos bastidores — ou pelo menos tenta.

Haneul — 21 anos

O maknae do coração, mesmo não sendo o mais novo. Carismático e brincalhão, Juno é o rosto mais presente nas redes sociais e vive viralizando com seus vídeos espontâneos.

🌙 ECLYSE

“Where silence meets the light.”

Lee Daehyun (Dae) — 23 anos

Recém-saído do exército, Dae é o líder e vocalista principal. Famoso por seu olhar frio e postura reservada, mas com uma voz que transmite mais emoção do que mil palavras. É o equilíbrio perfeito entre disciplina e arte — e o terror silencioso dos fãs do AUREUS.

Hyunwoo — 22 anos

Confiante e debochado, Min é a “língua afiada” do ECLYSE. Ama provocar os rivais nas redes e já se envolveu em polêmicas por declarações contra "ídolos barulhentos demais" (adivinhem quem se sentiu atingido?).

Rin — 20 anos

O mais tímido do grupo, mas dono de uma doçura que conquistou até os fãs mais hardcore. Haneul prefere falar com olhares e notas musicais — e vive criando laços discretos com idols de outras agências, inclusive do AUREUS...

💥 O que vem por aí?

Rumores dizem que a agência que gerencia ambos os grupos (a NovaEon Entertainment) está preparando um reality show interno com desafios entre os dois trios. Se isso for verdade, podemos esperar faíscas — ou talvez... algo a mais?

O fandom já está dividido. Os comentários variam entre:

“Aurians nunca se misturam com Eclipses!”

“Kai canta melhor que todos da ECLYSE juntos!”

“Dae voltou mais bonito ainda, coitado do Kai.”

“Se colocar esses dois juntos, vai sair guerra… ou casamento.”

Preparem os corações, porque o eclipse está prestes a encontrar o sol. E quando isso acontece… nada fica no mesmo lugar.

Kai

O que você faz quando o seu maior rival anuncia que está voltando aos palcos depois de dois anos de silêncio — e o mundo inteiro age como se só ele existisse?

Simples: você respira fundo, sorri para as câmeras e finge que não liga.

Porque é isso que se espera de um idol.

Mesmo que, por dentro... você esteja prestes a explodir.

O espelho refletia minha imagem sob a luz branca do dormitório. O cabelo vermelho, recém-retocado, caía levemente sobre minha testa em mechas que brilhavam sob os holofotes do teto. A jaqueta dourada que usaria no clipe novo — cheia de recortes assimétricos e zíperes que não levavam a lugar nenhum — ainda precisava de alguns ajustes. O stylist tinha saído por um segundo para buscar mais grampos, e eu aproveitava a pausa para respirar.

Mas a paz não durou.

A porta do meu dormitório se escancarou sem nenhuma cerimônia, batendo contra a parede com um estrondo.

— Você já viu?! — Haneul entrou como um furacão, o celular tremendo na mão como se fosse uma bomba prestes a explodir. Ele usava uma camiseta oversized preta com o logo do grupo estampado em dourado e calças jeans rasgadas nos joelhos. Os cabelos negros estavam bagunçados — ele sempre passava os dedos neles quando estava irritado.

— O quê? Que o Dae finalmente foi liberado do exército? Tem como não saber? — murmurei, sem tirar os olhos do espelho. Me obriguei a sorrir para o reflexo. Um sorriso fino, profissional. Falso.

“Se controla, Kai. Respira.”

— Isso é RIDÍCULO! — Haneul exclamou, jogando o celular na cama como se fosse amaldiçoado. — Eles agem como se o ECLYSE fosse a salvação da indústria. Como se a gente não tivesse carregado a agência nas costas nesses dois anos! Como se você não tivesse virado o centro de tudo!

Eu desviei o olhar, apenas por um segundo. Aquilo ainda me incomodava — mas não por inveja. Ou raiva. Era outra coisa. Uma coisa que eu não sabia nomear. E, por isso mesmo, odiava.

— Haneul... isso vai passar. Até semana que vem, ninguém mais liga. — disse, tentando soar firme. Mas minha voz saiu amarga. Áspera.

Ele cruzou os braços.

— Tá brincando comigo? O Soompi fez uma matéria especial de cinco páginas. CINCO. Só falando do comeback dos “filhos da noite”. Nem UMA palavra sobre o nosso novo single. Nem um parágrafo. Você viu a tag nos trending topics?

Revirei os olhos. Claro que eu tinha visto. #EclyseReturns.

Quase 2 milhões de tweets em três horas.

— Você tá me dizendo que eu virei o zen do grupo agora? — provoquei, tentando aliviar o clima com sarcasmo. — Que mundo é esse?

Haneul pegou uma almofada do sofá e jogou em mim. Eu me esquivei no reflexo do espelho, por reflexo de anos dançando em sincronia perfeita.

— Tô falando sério, Kai. Vai ser o mesmo inferno de sempre. A imprensa não vai deixar barato. E os fãs... os nossos e os deles... já tão em guerra de novo.

Nesse momento, Minjae apareceu no batente da porta. Ele estava de moletom cinza claro, com o capuz jogado pra trás, e o olhar calmo de sempre — mas havia algo tenso no fundo dos olhos dele, uma preocupação silenciosa.

— Melhor já ir se preparando — disse ele. — Os três vão voltar pros dormitórios amanhã. Já tão limpando tudo lá em cima.

— Três? — perguntei, mesmo já sabendo.

— Daehyun, Seojin e Woo. E a gente tem entrevista no De Frente com Song, amanhã à noite. Ele vai perguntar, você sabe. Ele sempre pergunta.

Um silêncio incômodo caiu entre nós.

Dae.

Só de ouvir o nome, algo apertou meu estômago. Não era raiva. Não era ansiedade. Era... outra coisa. Algo que tinha começado anos atrás e que eu enterrei tão fundo que às vezes achava que era imaginação.

Eu me afastei do espelho e encarei os dois.

— Então tá.

Puxei o zíper da jaqueta com firmeza.

— Que comecem os jogos.

O dormitório era uma mistura de quarto de hotel cinco estrelas com um estúdio improvisado. As paredes em tons neutros contrastavam com as luzes coloridas do letreiro de LED na estante que dizia "AUREUS", intercalado por fotos nossas nas premiações. Tinha meu teclado encostado num canto, uma prateleira com perfumes alinhados como se fossem soldados, e um mural com recortes de revistas — alguns com minha cara, outros rasgados. Não por raiva. Por medo de esquecer quem eu era antes disso tudo.

Me sentei na beirada da cama e desbloqueei o celular.

Notificações sem fim. Hashtags. Threads de teorias. Vídeos antigos do ECLYSE voltando a viralizar.

E, claro, ele.

O vídeo da coletiva de imprensa de Dae, postado há poucos minutos. Ele de cabelo platinado, usando um blazer preto sobre uma camisa branca impecável, sentado entre Seojin e Woo, os outros dois integrantes. Os fãs tinham cortado só a parte em que ele dizia:

“Fico feliz por estar de volta. Sinto que... o palco nunca deixou de me esperar.”

Cliquei no vídeo.

Vi os olhos dele encarando a câmera como se falasse diretamente comigo.

E odiei que meu coração tivesse acelerado.

— Ele é um idiota. — murmurei, como se dizer em voz alta fosse uma espécie de exorcismo. Como se nomear aquilo que doía pudesse tirá-lo da minha cabeça.

Joguei o celular na cama com um estalo seco — não forte o bastante para quebrar, mas com a exatidão necessária para descarregar minha frustração por um mísero segundo. Me joguei logo em seguida, afundando no colchão como se ele pudesse me engolir e me esconder de mim mesmo.

O quarto estava em silêncio. Um silêncio que parecia zombar de mim. Lá fora, as luzes da cidade ainda dançavam pela janela semiaberta, refletindo no teto como sombras fantasmas. Mas aqui dentro, tudo parecia suspenso — exceto minha mente, que girava como um furacão.

A coletiva de imprensa se repetia na minha cabeça como um refrão indesejado.

O jeito que ele ajeitou o blazer com aquela calma ensaiada.

O sorriso contido, quase calculado.

O olhar direto para a câmera — aquele olhar que ele sempre teve, como se enxergasse por dentro das pessoas. Como se ainda soubesse exatamente onde me atingir.

Fechei os olhos. Respirei fundo.

O lençol tinha cheiro de lavanda e amaciante caro, mas mesmo assim parecia... errado. Como se tudo nele agora tivesse a presença dele. Ou a ausência dele.

Qualquer que fosse pior.

Virei de lado, os dedos fechando com força contra o tecido. Encostei a testa no travesseiro e sussurrei outra vez:

— Idiota.

Mas, dessa vez, nem eu tinha certeza se estava falando dele… ou de mim.

***

Me encarei no espelho do camarim.

Meu cabelo vermelho, recém-retocado, caía em ondas suaves sobre a testa, ainda um pouco desobediente, como se tentasse resistir à perfeição que os stylists passavam horas tentando alcançar. A coloração vibrava sob a luz fria, contrastando com a pele clara e os olhos que não combinavam entre si — um castanho quente, outro azul elétrico — o detalhe que mais chamava atenção nas fotos e causava furor nas redes desde o meu debut.

Vestia uma jaqueta laranja queimado de vinil, com cortes retos e detalhes metálicos nos ombros, sobre uma camisa branca de seda com gola aberta e sem botões visíveis. Tudo milimetricamente estilizado para parecer "desleixado com classe". O colar de corrente fina com uma estrela preta pendia exatamente no centro do peito. Um pouco de sombra brilhante no canto interno dos olhos, delineado marrom esfumaçado — o suficiente pra parecer natural, mas ainda intenso.

Nada em mim era acidental.

Mas dentro, nada estava alinhado.

A luz branca do espelho me banhava com frieza clínica, realçando cada ângulo do meu rosto, como se dissesse: “Você não pode deixar nada escapar.”

E eu não podia mesmo. Porque essa noite... tudo podia acontecer.

Atrás de mim, o camarim era um caos sincronizado. Cabos se cruzavam pelo chão como serpentes. Havia caixas de som abertas, malas de figurino empilhadas e copos de café esquecidos nos cantos. As vozes se sobrepunham — coreano, inglês, um pouco de japonês — em frases apressadas.

Maquiadoras finalizavam retoques com pincéis ligeiros. Stylists passavam vapor nas roupas penduradas. O cheiro era uma mistura inebriante de laquê, perfume francês, tecido quente e ansiedade.

— Meninos, cinco minutos! — anunciou Yuri, nossa empresária, abrindo a porta com força suficiente pra fazer o ar vibrar.

Ela entrou como uma comandante de batalha: tailleur azul petróleo, salto fino, batom bordô impecável. O tablet em mãos, preso à capa de couro, parecia mais uma extensão do seu corpo. Os brincos prateados em forma de lua balançavam conforme ela caminhava pelo camarim, examinando tudo com olhos afiados.

Ela se aproximou de mim enquanto uma das maquiadoras finalizava meu contorno.

— Nada de indiretas pro Eclyse, entendeu, Kai? — O tom dela era doce, mas carregado de dinamite. — Você conhece o Song. Ele vai provocar. Vai pressionar. Quer escândalo, quer furo. Vocês desviam, mudam de assunto, sorriem, falam do clipe, do novo conceito, da turnê. Mas nada, absolutamente nada sobre o Dae.

Ela não disse o nome dele. Mas bastava a pausa carregada para eu ouvir como se tivesse gritado.

Engoli em seco, sem deixar transparecer.

— Tá claro? — Ela apertou meu ombro, firme.

— Claríssimo. — murmurei, me levantando da cadeira. Encarei meu reflexo uma última vez. Era como vestir uma armadura.

Ao meu lado, Minjae arrumava os punhos da camisa. Seu cabelo loiro-acinzentado estava penteado pra trás, deixando o rosto delicado mais maduro. Ele usava uma camisa preta com estampa de correntes douradas, combinando com calça de alfaiataria vinho e botas pesadas. Sempre discreto, mas imponente.

Do outro lado, Haneul não parava quieto. Girava o microfone de lapela nos dedos com a mesma energia que tinha em tudo. O cabelo preto azulado caía liso sobre a testa, preso parcialmente por presilhas prateadas. Ele vestia uma jaqueta jeans customizada com tachinhas, camiseta branca e calça preta rasgada no joelho. Nos pés, tênis plataforma brancos. Moderno, rebelde, impaciente.

— É só uma entrevista, né? — disse ele, tentando soar despreocupado. Mas o joelho balançava como uma bandeira em dia de tempestade.

— Relaxa. — Minjae respondeu, dando um tapinha no ombro dele. — A gente faz isso de olhos fechados.

— Preferia estar com os olhos fechados mesmo. Dormindo. — murmurei. Ninguém riu. Nem eu.

Do lado de fora, o som da contagem regressiva ecoava pelos bastidores. As luzes do estúdio tremeluziram, anunciando a entrada ao vivo. O grito abafado da plateia vazava pelas paredes como uma maré prestes a invadir.

— Vamos, é agora. — disse Yuri, já abrindo caminho com o tablet erguido como um escudo.

Atravessamos o corredor com o coração disparado.

No fim dele, as cortinas pretas se erguiam como portais para um campo de batalha.

E do outro lado, o trio do Eclyse já estava posicionado nos bastidores opostos, prontos para entrar depois de nós.

Vi Dae de relance.

O cabelo platinado brilhava sob a luz azul.

Ele estava mais magro. Ou talvez só mais afiado. Usava um blazer preto com ombros marcados, sem camisa por baixo, apenas correntes prateadas cruzando o peito nu. Um contraste calculado.

O olhar dele?

Fixo. Inabalável.

Como se ele também vestisse armadura.

E por um instante — um só — nossos olhos se cruzaram.

Um eclipse.

A escuridão e a luz se tocando no limite exato.

E o mundo… parando de girar por meio segundo.

Depois, a cortina subiu.

E a guerra começou.

— E pra abrir a nossa noite com muito brilho, carisma e talento, eles que iluminam qualquer palco onde pisam… os donos do sol, da luz e do coração dos fãs: os incríveis, os deslumbrantes, os incomparáveis… AUREUS! — anunciou Song, com a voz vibrando como se estivesse apresentando a final do Miss Universo.

As luzes do estúdio explodiram num dourado quase ofuscante.

A plateia gritou como se o chão fosse tremer.

Nossa música tema invadiu o ar com beats pulsantes, e o LED no fundo do palco exibiu chamas solares estilizadas em slow motion. Cada passo nosso para frente parecia ensaiado — porque, bem, era. Mas não precisava parecer tanto.

— Aí, meus olhos! — exclamou Song, tampando os próprios comédia, depois rindo. — Dourado assim é crime contra quem só tem a cara lavada e a alma escura, né, gente?

Me forcei a sorrir enquanto nos acomodávamos nos sofás do lado esquerdo do palco.

O estúdio era amplo, com um cenário de fundo que imitava uma cidade futurista à noite, cheio de luzes em neon, telas flutuantes e muito brilho — porque, aparentemente, menos é mais nunca foi o lema daquele programa.

Song era exatamente como todo mundo esperava: exagerado, rápido demais, e intrometido no ponto certo. Usava um blazer azul royal com brilhos sutis no colarinho, uma camisa preta com estampas de dragões prateados e uma calça apertada demais pro conforto humano. Os cabelos estavam descoloridos nas pontas, caindo sobre a testa de forma pensada demais pra ser acidental.

Mas o pior mesmo eram os olhos dele. Aqueles olhos de quem fareja caos.

— Boa noite, meus meninos solares! — disse ele, se aproximando como se fosse parte da banda. — Kai, Haneul, Minjae... vocês estão reluzindo! Que isso, Kai, veio de supernova hoje?

— Só tentando competir com o seu brilho, hyung. — respondi, com o melhor sorriso que consegui fabricar. O público reagiu com risadinhas.

— Olhaaa... — ele jogou a cabeça pra trás dramaticamente. — Que língua afiada! E essa voz, hein? Kai, tua garganta tem glitter, confessa!

— Não posso revelar os ingredientes secretos, né? — brinquei. — A receita do sucesso tem que ficar em sigilo.

— Aham. Mas a receita do barraco vocês deixam cair o tempo todo, né? — disse Song, já se sentando em sua poltrona giratória no centro. — Falando em receitas... me disseram que o clipe novo de vocês tá picante. Fogo puro. Isso tem alguma indireta aí? Tipo... uma provocação pra... alguém?

Ele lançou o olhar mais cínico do universo. A plateia riu, esperando sangue. Haneul travou. Minjae ergueu uma sobrancelha.

Eu cruzei as pernas, me estiquei no sofá e sorri como se estivesse numa praia, não num campo minado.

— Na verdade, é mais sobre paixão mesmo. Arte. Inspiração solar. — respondi, desviando com a elegância de quem tem PhD em fingir que não ouvi a provocação. — Mas se alguém se sentir atingido… aí é com a consciência de cada um, né?

A plateia vibrou. Haneul engasgou de rir.

Song bateu palmas. — Aí, não! Alerta de shade educado! Shade com gravata borboleta! Eu amei!

Minjae aproveitou a deixa:

— A música fala sobre se reinventar, brilhar mesmo nos momentos de pressão… não importa quem esteja à sua volta.

O público soltou aquele “oooohh” coletivo. Song estreitou os olhos.

— Olha só... eles vieram ensaiados até pras alfinetadas. Tô impressionado!

Mas... — ele sorriu como quem puxa um fio solto de um suéter. — Vocês viram que os dormitórios do andar de cima foram reabertos ontem, né?

Silêncio tenso.

— Vai ter vizinhança nova no corredor... o que acham disso?

Haneul se mexeu no sofá, Minjae encarou o chão. Eu mantive o sorriso. Tinha ensaiado esse momento mentalmente umas cinquenta vezes. Só não esperava que doísse tanto mesmo com o escudo.

— Eu gosto de barulho no corredor — falei. — Faz a gente lembrar que não tá sozinho no prédio. Mas com fones de ouvido certos, dá pra manter o foco.

— Ótima resposta! — Song gargalhou. — Vamos aplaudir o nosso poeta do pop!

Palmas. Gritos.

Mas no fundo, ele ainda estava tentando. E ia tentar mais.

— E se, digamos... algum grupo lunar cruzar com vocês nos bastidores? Vão dar oi? Ou vão fingir que é eclipse total?

Risos.

Alguém na plateia gritou “Eclyseeeee!”

Segurei a vontade de revirar os olhos.

Me inclinei pra frente, ajustando o colar no peito. Sorri.

— A gente sempre cumprimenta quem merece.

Dessa vez a plateia explodiu.

Gritos, aplausos, até um “MEU DEUS” de alguém lá no fundo.

Song deu uma risada alta, batendo as mãos na coxa.

— Vocês são a definição de entretenimento ao vivo. Eu amo meu trabalho!

Mas mesmo rindo… eu vi os olhos dele.

Ele sabia.

Todo mundo sabia.

Só que, naquele jogo, quem fala primeiro perde.

A plateia ainda se recuperava das risadas e das farpas disfarçadas quando Song se inclinou à frente, cruzando as pernas com a elegância meticulosamente ensaiada de quem domina o palco tanto quanto os convidados.

O sorriso dele sumiu.

E esse era o sinal.

Quando o brilho cômico do apresentador desaparecia, era porque vinha bomba.

— Kai... — ele disse, num tom mais baixo, quase íntimo. O estúdio inteiro pareceu perder a cor. — Fiquei sabendo que sua mãe faleceu recentemente. Meus sentimentos.

Foi como se o tempo parasse.

Como se alguém tivesse desligado a gravidade.

Por um segundo, achei que tinha entendido errado.

Mas os olhos dele estavam em mim. Direcionados. Atentos.

E o silêncio que desceu sobre o estúdio — um silêncio gelado, opressor — confirmou: era real.

Meu corpo congelou. Literalmente.

A respiração ficou curta, quase inexistente.

Os sons se tornaram abafados, como se eu estivesse submerso em água.

Minjae se virou, me lançando um olhar alerta.

Haneul parou de girar o microfone nos dedos. Ele virou o rosto devagar, com a mesma expressão de quem sabe que algo está prestes a quebrar.

E estava.

Minha garganta se fechou como se tivesse vidro preso nela.

A mão esquerda começou a tremer visivelmente sobre minha coxa.

O coração batia descompassado — nas costelas, nas têmporas, nas pontas dos dedos.

Rápido demais. Forte demais.

Não aqui. Não agora. Por favor, não agora.

Tentei sorrir. Fingir. Dizer qualquer coisa.

Mas minha boca se recusava a abrir.

Não havia frase pronta o suficiente pra me salvar daquele momento.

Olhei para Song.

E pela primeira vez… vi que ele não esperava isso.

Ele queria drama. Uma lágrima controlada. Um discurso bonito sobre superação e gratidão.

Mas o que ele ganhou foi um colapso iminente.

Real. Cru.

A luz do palco começou a parecer quente demais.

As câmeras se mexiam. O público era uma massa disforme, um mar de olhos esperando uma reação.

Tudo girava. Cada som era um eco longo demais.

— Kai? — a voz dele vacilou.

Levantei.

Rápido. Desajeitado.

Minjae tentou segurar meu pulso.

— Kai… espera… — ele murmurou, preocupado.

Mas eu já estava de pé.

— Com licença. — sussurrei. Talvez ninguém tenha ouvido. Talvez o país inteiro tenha.

Atravessei o palco com passos pesados.

A luz explodia em flashes brancos diante dos meus olhos.

O microfone preso no meu peito registrava tudo — inclusive minha respiração trêmula, curta, como um segredo sendo transmitido ao vivo.

Atrás da cortina, tropecei num cabo.

Alguém estendeu a mão, mas não parei.

Segui direto pela lateral do cenário até alcançar o corredor dos bastidores.

Encostei na parede fria e deslizei até o chão.

Ofegante.

Tremendo.

O ar não vinha.

O peito parecia esmagado de dentro pra fora.

As mãos suavam, os dedos formigavam, o corpo inteiro parecia longe. Como se eu não estivesse dentro dele.

Não era tristeza.

Era pânico.

Terror puro.

Uma voz familiar atravessou a névoa:

— Kai?

Outra vez, mais próxima. — Kai, olha pra mim.

Era Yuri.

Ela se ajoelhou ao meu lado, o tailleur impecável se dobrando sem hesitação enquanto ela largava o tablet no chão. Os brincos prateados balançaram quando ela se inclinou, o rosto calmo, mas os olhos arregalados.

— Ei, respira. Tô aqui. Tá tudo bem. — A voz dela era baixa, firme. Quase hipnótica. — Você não tá sozinho, Kai. Me escuta… olha pra mim.

Mas meus olhos não focavam. O mundo ainda girava. Meu coração parecia uma bateria desgovernada.

Tentei puxar o ar, mas era como tentar respirar por um canudo entupido.

Ela segurou meus ombros com as duas mãos.

— Kai, presta atenção. Sente minha voz, tá? Vamos fazer junto. Respira comigo. Um, dois, três...

Ela inspirou fundo, puxando o ar como se fosse por nós dois.

Eu tentei.

Uma vez.

Não deu certo.

Tentei de novo.

Dessa vez o ar entrou — rasgando, duro, mas entrou.

— Isso. De novo. Um, dois…

— Três… — sussurrei. A voz saiu quebrada, mas era minha. Era alguma coisa.

Yuri passou a mão devagar pelo meu cabelo, com uma delicadeza rara, quase maternal.

— Tá tudo bem. Eu te tirei daqui, tá? Você tá seguro.

Minha testa encostou no ombro dela.

O blazer cheirava a perfume cítrico, forte, mas reconfortante. Como tudo nela.

— Desculpa. — murmurei, quase sem som.

— Para. Nem começa. — disse ela, acariciando meus ombros devagar. — Você não tem que pedir desculpa por sentir. Ninguém tem. Especialmente não você.

Ficamos em silêncio por um tempo.

Apenas ela respirando por mim.

E eu tentando lembrar como se fazia isso sozinho.

Aos poucos, o corpo começou a voltar.

O mundo começou a fazer sentido de novo.

— Eu devia voltar… — murmurei, com a garganta ainda arranhando por dentro, cada palavra saindo como se tivesse passado por espinhos. Meus olhos instintivamente buscaram a cortina atrás da qual o palco fervia em expectativa. Mas ela parecia tão distante quanto a lua.

O palco. As câmeras. A plateia.

Tudo pesava sobre mim como uma avalanche prestes a desabar de novo.

Yuri se abaixou ainda mais, até ficar no meu nível, o rosto próximo ao meu, os olhos atentos como se procurassem rachaduras. Como se eu fosse feito de vidro — e ela soubesse exatamente onde não tocar para que eu não quebrasse.

— Não. — disse ela, com a firmeza de quem segura o mundo com uma mão só. — Você vai voltar, sim. Mas pra agência. Agora. Vou chamar o carro.

Disse isso já se movendo, como sempre fazia: prática, eficiente, sem deixar espaço pro caos. Tirou o celular do bolso com uma mão, enquanto com a outra me ajudava a ficar de pé — com um cuidado que não era piedade. Era presença. Força estável, silenciosa.

Como quem já segurou muitas quedas antes.

Meus joelhos ainda tremiam. O chão parecia mole, falso, como se eu estivesse pisando em cima de papel molhado.

Mas a mão dela no meu braço era firme.

E de algum jeito… bastava.

— Obrigado... — sussurrei. Nem sei se agradecia pelo gesto, pela rapidez, ou pelo silêncio. Talvez por tudo.

Yuri apenas me olhou.

Os olhos escuros dela — sempre tão atentos, tão ocupados — naquele momento pareciam ver mais do que deixavam transparecer.

E, então, ela sorriu.

Um sorriso pequeno, mas inteiro.

Sem julgamento.

Sem pressa.

O tipo de sorriso que diz “eu tô aqui” sem precisar de palavras.

— Vai descansar, Kai. Só isso. — disse ela, ajustando o blazer como quem retoma o controle de uma missão.

E naquele instante… eu soube.

Era isso que eu precisava.

Nada além disso.

No carro da agência, a cidade passava como um borrão.

As luzes de Seul dançavam pelas janelas do veículo, refletindo no vidro como se o mundo lá fora fosse um videoclipe em câmera lenta. A cidade parecia viva demais, barulhenta demais.

E eu?

Eu estava num modo diferente. Um lugar entre o silêncio e o nada.

Encostei a testa na janela fria, sentindo o vidro vibrar levemente com o som abafado do trânsito. A calefação do carro contrastava com o frio da pele.

A cada quadra, um letreiro neon passava como um flash.

FIRE CHICKEN – 24H.

LIVE MUSIC.

ECLYSE COMEBACK.

Desviei o olhar.

O motorista — um dos fixos da agência — não disse nada. Não precisava. Acho que Yuri já tinha dado a ordem do tipo: "Só dirija. E não pergunte."

Meus dedos ainda tremiam levemente no colo, então fechei as mãos em punhos, tentando conter. Respirar fundo ainda doía. Mas doía menos.

O celular vibrava no bolso.

Mensagens. Chamadas.

Não atendi. Não olhei.

Por enquanto… o mundo podia esperar.

No dormitório, o silêncio era mais alto do que qualquer plateia.

A porta se fechou com um clique suave atrás de mim.

O quarto estava escuro, exceto pela luz azulada que entrava pela janela, projetando sombras sobre a parede.

Me joguei na cama sem tirar nem a jaqueta. Só caí.

Como quem afunda.

O colchão cedeu sob meu peso. O mundo desacelerou.

O celular vibrou de novo.

Dessa vez, olhei.

Minjae (20:14):

Você tá bem?

Haneul (20:15):

Song é um idiota. Tamo contigo.

Suspirei.

Digitei uma resposta curta.

Kai:

Tô em casa. Só preciso de tempo.

A conversa parou ali.

Deitei de lado, olhando o teto, mas eu tinha certeza de que aquilo ainda estava longe de acabar.