O desfile beneficente aconteceria em breve, e Laura estava completamente focada nos últimos ajustes. O evento era especial para ela — além de ser uma forma de divulgar novas peças, o principal objetivo era arrecadar fundos para o orfanato que ela tanto amava. Cada detalhe era pensado com carinho: desde o cenário, até os convites e os tecidos escolhidos. Nada passava despercebido por seus olhos atentos.
Naquela manhã, chegou cedo à sede da empresa. Giulia já a esperava, empolgada.
— Os modelos já chegaram para a prova final, e a equipe de maquiagem está se instalando — disse ela com um sorriso, entregando o cronograma.
— Ótimo. Quero verificar cada peça pessoalmente. Esse desfile precisa ser impecável.
Horas se passaram entre ajustes, provas, decisões de última hora e reuniões rápidas com fornecedores. Quando a tarde caiu, Laura pôde finalmente se sentar por alguns minutos, observando o palco já montado e iluminado.
Estava na plateia com um tablet nas mãos, conferindo os detalhes dos looks. Cada peça que desenhava era única — pensada para aquele evento, para transmitir força, elegância e acessibilidade. Queria que qualquer pessoa pudesse sonhar com a moda. Queria transformar a passarela em uma inspiração real.
Enquanto analisava as últimas fotos dos bastidores, uma presença familiar a fez levantar os olhos. Leonardo Moretti estava ali. Discreto, elegante como sempre, vestindo um terno azul-escuro alinhado, os cabelos bem penteados, os olhos azuis vasculhando o ambiente até encontrarem os dela.
Laura sentiu o coração bater mais rápido.
Ele caminhou até ela com tranquilidade, como se fosse apenas mais um convidado — mas nada nele passava despercebido. A aura de autoridade natural o destacava mesmo entre empresários e celebridades presentes.
— O evento está incrível — disse ele, ao se aproximar. — Você conseguiu transformar isso em algo grandioso.
— Ainda nem começou — respondeu, tentando disfarçar o quanto estava nervosa com sua presença. — Mas obrigada.
— Vim prestigiar. Ou melhor... ver você em ação.
Ela sorriu sem graça, abaixando o olhar para o tablet.
— Não sou o tipo de mulher que brilha no palco, Leonardo. Prefiro os bastidores.
— E mesmo nos bastidores, você brilha. — Ele disse isso com naturalidade, como se não soubesse o quanto suas palavras mexiam com ela.
Giulia se aproximou, cumprimentando Leonardo com simpatia e levando Laura para ajustar um último detalhe antes do início. Quando retornou à plateia, o evento já estava começando.
Música envolvente. Luzes baixas. E então, as modelos começaram a surgir na passarela, desfilando com peças que carregavam assinatura e alma. Roupas sofisticadas com cortes modernos, tecidos leves e marcantes, estilos diversos — refletindo o objetivo da marca: vestir o mundo real com beleza e dignidade.
Leonardo a observava de longe, mais fascinado a cada minuto. A força dela, a inteligência, a firmeza de cada escolha. Ela era mais do que linda. Era admirável.
Durante o intervalo, ele a encontrou novamente, perto dos bastidores.
— Você parece em casa aqui — comentou ele.
— Aqui... eu sou eu — respondeu, com um meio sorriso. — Sem máscaras.
— E fora daqui?
Ela hesitou, depois o olhou com intensidade.
— Fora daqui, aprendi a ser forte para não quebrar.
Ele não respondeu. Apenas assentiu. Entendia mais do que ela imaginava.
Quando o evento terminou, o público aplaudiu de pé. A vice, Giulia, subiu ao palco e agradeceu em nome da marca, mantendo o anonimato de Laura, como sempre.
Nos bastidores, os abraços e parabenizações tomaram conta da equipe. Laura, no entanto, respirava aliviada. Tudo saíra como ela esperava. Melhor, até.
— Você vai para casa sozinha? — Leonardo perguntou quando a encontrou na saída.
— Estou com meu carro no estacionamento. Mas... — Ela hesitou. Estava cansada e um pouco sensível. — Não me importaria de ter companhia no trajeto.
Ele sorriu, e a levou. No caminho, a conversa fluiu leve. Ela parecia mais solta, mais tranquila com ele. Talvez por já não haver dúvidas de que ele estava ali, presente.
Ao chegarem ao prédio, ela destravou o cinto, pronta para se despedir, mas ele segurou sua mão por um instante.
— Posso te acompanhar até a porta?
Ela assentiu.
No elevador, o silêncio não era incômodo. Era cheio de eletricidade. Os corpos próximos demais, os olhares trocados em breves segundos. Quando a porta do apartamento dela se abriu, Laura respirou fundo.
— Obrigada pela carona... e por ter vindo hoje.
— Eu não perderia. — Ele a olhou com intensidade. — Você foi... impressionante.
Ela sorriu, os olhos presos aos dele.
— Boa noite, Leonardo.
— Boa noite, Laura.
Mas antes que ela fechasse a porta, ele se aproximou e beijou sua testa. Um gesto simples. Mas que a desmontou por dentro.
Depois que ele foi embora, ela ficou alguns minutos parada, o coração disparado.
Leonardo Moretti estava começando a entrar na sua vida de verdade.
E, por mais que ela tivesse medo... começava a desejar que ele ficasse.