Voltar para a cidade foi estranho.
Não porque Laura sentisse incômodo. Pelo contrário. A questão era a mudança. Algo dentro dela havia se transformado profundamente, e agora, tudo parecia diferente — mais leve, mais intenso, mais… vivo.
O fim de semana no lago ficou marcado em sua pele, em seus lábios, nos olhos com os quais ela olhava para Leonardo agora. E o mais surpreendente era que ele sentia o mesmo. Estava escrito em cada gesto, em cada silêncio confortável entre eles.
Assim que chegaram ao prédio naquela manhã de segunda-feira, ele segurou a porta do carro para ela com um sorriso suave.
— Vai querer café antes de começar o dia? — perguntou, enquanto caminhavam juntos até os elevadores.
— Sempre. — Ela sorriu de volta, os olhos brincando com os dele. — Preto. Forte. Igual ao do lago.
— Pode deixar. Eu mesmo vou preparar.
E preparou.
Desde então, a rotina ganhou novos contornos.
Leonardo passava no apartamento dela com café todas as manhãs. Às vezes trazia também pães integrais, outras vezes croissants. Quando tinha mais tempo, preparava ele mesmo. Gostava de vê-la ainda com o cabelo úmido da ducha, a pele cheirando a sabonete e os olhos sonolentos recebendo o dia com um sorriso.
Ela sempre dizia “você não precisa fazer isso”, mas ele fazia. Porque queria. Porque era a forma dele de estar presente. De cuidar.
No trabalho, a postura deles era a mesma: foco, firmeza e excelência. Leonardo administrava os negócios da Valmont Group com precisão cirúrgica. Já Laura, mesmo por trás do anonimato como CEO da empresa de moda, liderava com um olhar afiado e criativo que colocava todos os departamentos em movimento.
Mas bastava um intervalo entre reuniões, uma troca de mensagens, uma visita rápida entre um prédio e outro, e o desejo voltava. Silencioso. Quente.
Laura agora visitava o apartamento dele com frequência. Não precisava de um motivo específico. Às vezes, ia apenas para conversar. Tomavam vinho, sentados no sofá, enquanto músicas suaves preenchiam o ambiente.
O mais curioso é que não havia pressa.
Eles saboreavam cada toque, cada conversa, cada silêncio compartilhado. O corpo dele era como um vício. O calor da pele dele, o timbre rouco da voz quando a chamava baixinho, as mãos grandes que sabiam exatamente onde e como tocar. Laura ansiava por cada segundo ao lado dele — mesmo que o orgulho insistisse em não demonstrar o quanto estava entregue.
Numa noite qualquer de quinta-feira, ele apareceu no apartamento dela com duas taças e um vinho tinto encorpado.
— Vai recusar companhia? — perguntou, inclinando-se na porta.
Ela arqueou uma sobrancelha, um sorriso se formando nos lábios.
— Você tem mesmo jeito de aparecer quando mais preciso de um gole.
— Ou de você.
O coração dela vacilou por um segundo, mas ela disfarçou. Deu um passo para o lado e o deixou entrar.
Naquela noite, a conversa se estendeu até tarde. Eles falaram sobre tudo: sobre os desfiles que estavam por vir, sobre o novo projeto social que Laura estava organizando para financiar bolsas de estudo para adolescentes do orfanato, e até sobre o cachorro que Leonardo teve na infância.
— Se chamava Kilo — ele disse, rindo. — Porque comia como um trator.
Laura gargalhou e se recostou no sofá, os pés descalços sobre a almofada, o cabelo preso de qualquer jeito.
Era esse tipo de intimidade que mais a encantava: o simples. O sincero. O cotidiano.
Ao final da noite, quando ele se despediu, os beijos foram mais demorados. As mãos dele deslizaram pela cintura dela com reverência, e os lábios encontraram o pescoço dela de um jeito que fazia seus joelhos quase cederem.
Ela sabia que se ele insistisse mais, ela não resistiria.
Mas ele sempre parava.
E era exatamente isso que a fazia desejar ainda mais.
As visitas ao orfanato também se tornaram especiais.
Leonardo a acompanhava sempre que podia. Ela o apresentava às crianças como “um amigo muito legal, mas que não sabe desenhar nem um pouco”. Ele ria, mesmo quando as crianças caçoavam da forma torta com que desenhava bonecos.
— Olha, tia Laura! O boneco do tio Leonardo parece um tomate com perna! — gritava um deles.
— Um tomate atleta — ele respondia, rindo.
Ver Leonardo naquele ambiente era surreal.
O homem sério, acostumado com cifras milionárias, reuniões com empresários e estratégias internacionais, agora sentava no chão com as crianças e ajudava a organizar caixas de lápis, colava figurinhas e ouvia histórias sobre monstros imaginários.
Laura observava tudo com o coração em chamas.
Era como se, aos poucos, ele fosse se integrando ao mundo dela. Um mundo que ela guardava com tanto zelo, com tanta proteção. E agora, ele fazia parte disso também.
Uma das noites mais marcantes foi quando ela foi ao apartamento dele após um dia exaustivo.
Não queria falar muito. Só precisava do silêncio, do cheiro dele, do toque das mãos fortes e da segurança que só ele sabia dar.
Ele a recebeu com um beijo na testa e um abraço longo. Depois preparou chá de camomila e acendeu a lareira. Sentaram-se juntos, ela com a cabeça no colo dele, ele acariciando os cabelos dela até que os olhos pesaram.
— Você pode dormir aqui, se quiser. O quarto de hóspedes já está com roupa de cama nova — ele disse, baixinho.
Ela apenas assentiu.
Naquela noite, eles não fizeram amor. Só dormiram. Abraçados. Respirando juntos. Alinhados em cada batida do coração.
E foi exatamente isso que deixou Laura ainda mais entregue. Era amor. Ela começava a perceber isso.
Talvez não tivessem dito ainda. Mas ela sabia. Sentia em cada gesto.
Na semana seguinte, após mais uma manhã de café entregue com um sorriso, Leonardo parou diante da porta dela, observando o jeito como ela mexia no cabelo e colocava os brincos com delicadeza. Aquela visão o deixava hipnotizado.
— Você sabe que está se tornando meu vício, não sabe?
Ela o olhou pelo espelho e sorriu com os olhos.
— Isso é perigoso.
— Eu sei. Mas não quero parar.
Ela se virou, aproximou-se e o beijou com doçura. Um beijo lento, íntimo, carregado de promessas silenciosas.
— Eu também não quero parar.
Os dias continuavam corridos. Mas agora, a pressa era menos pesada. Porque sabiam que, ao final de cada jornada, eles se encontrariam.
Um bilhete no espelho. Um toque no meio do dia. Um convite para jantar. Um beijo roubado no elevador. Um abraço demorado na varanda.
Eles estavam apaixonados.
E mesmo que não tivessem dito ainda... os corpos, os olhares e os gestos gritavam isso com clareza.
E ambos estavam prontos para viver isso.
Por inteiro.