Capítulo 3: Contrato Invisível

Assim que a palavra saiu da boca dele — aceito — o zunido se intensificou, como se um motor antigo ganhasse força dentro da cabeça. Arthur piscou, mas não viu mais o beco. Não havia chuva, nem sangue, nem o muro úmido, nem o vulto da garota.

Havia só um escuro macio — um silêncio molhado — e, no meio, uma tela flutuando como um letreiro de néon: linhas brancas, limpas, dançando num fundo negro.

> [CÓDIGO DO PRAZER]

Contrato firmado: Vida = Prazer = Poder

As letras pareciam respirar, pulsando junto com o último batimento do peito dele.

Arthur tentou falar, mas a boca não existia ali. Ainda assim, sua mente pensava — e aquilo bastava.

— O que é isso?

A resposta veio na mesma voz neutra, como se alguém lesse um manual:

> O Código do Prazer converte estímulos prazerosos em recursos vitais.

Prazer físico, emocional ou social = créditos de vida, status e riqueza.

Quanto maior o risco, maior a recompensa.

Conquiste. Saboreie. Cresça.

Arthur sentiu uma risada presa na garganta — ou no que restava dela. Prazer? Conquistar? Isso era uma piada?

— E se eu não conseguir?

As letras mudaram de tom — mais frias.

> Falha em gerar prazer contínuo = falência vital.

O Contrato é irrevogável.

Ele tentou sentir medo, mas o corpo não estava mais ali. Era como estar flutuando dentro do próprio cérebro, preso num balão de palavras.

— Eu vou morrer… de novo?

> Se não viver intensamente, sim.

As letras se reorganizaram — agora em uma única linha, que tremeluzia como um aviso de saída de emergência.

> Confirma aceitação total do Contrato?

Arthur lembrou da moeda girando na poça. Da garota encurralada. Da mão tremendo, tentando segurar o sangue. Lembrou que ninguém nunca lhe deu nada — nem o direito de morrer em paz. Se era pra morrer, morreria tentando.

— Confirmo.

A tela brilhou. Uma luz branca o engoliu, como se mergulhasse de cabeça numa poça de luz. Por um segundo, Arthur ouviu risos — vozes misturadas — um coro distante de promessas, como se a cidade inteira sussurrasse dentro dele.

Então tudo escureceu. E, depois, tudo ficou absurdamente silencioso.

---