Capítulo 4: Despertar na Chuva

O silêncio parecia durar uma eternidade. Depois dele, veio o som mais simples do mundo: água batendo no asfalto. Gotas pingando no rosto. Um frio úmido grudado na pele.

Arthur abriu os olhos. Viu o poste — ainda piscava, mas não mais intermitente. Uma lâmpada nova, branca, que parecia zombar do breu de segundos atrás.

Tentou se mexer. Esperava a fisgada da faca — a queimadura quente da ferida. Mas não sentiu nada. Levantou devagar, as mãos apoiadas na parede úmida. A palma encostou nos tijolos frios. Respirou fundo. O ar encheu os pulmões como se fossem novos.

Olhou para baixo — nenhuma poça de sangue. Só a água barrenta escorrendo em rios miúdos. Passou a mão na lateral da barriga. A camiseta — agora limpa — colava no corpo. Nada de rasgo. Nada de dor.

Deu um passo. O tênis — velho, furado, mas parecia… diferente. O corpo inteiro parecia diferente. O peito batia forte — não de medo, mas de uma energia estranha, uma eletricidade pulsando nas veias.

Uma risada escapou da garganta. Baixa, incrédula. Ele encostou a testa no muro, deixando a água escorrer pelo cabelo. Era ele mesmo — mas não era.

Então, a voz voltou. Não como um eco — mas clara, viva, dentro da cabeça.

> [CÓDIGO DO PRAZER ATIVO]

Bem-vindo de volta, Arthur Vieira.

Estado Vital: Restaurado.

Bônus Inicial: +3 Carisma. +1.000 créditos virtuais.

Primeira Missão: “Prove que está vivo. Prove que pode sentir.”

Arthur ergueu o rosto, deixando a chuva bater direto nos olhos. Sorriu — um sorriso torto, sujo de ironia.

— Provar? — murmurou. — Tá brincando comigo, não tá?

> Falta de ação = Falha Contratual.

Sinta prazer, Arthur. Ou morra de novo.

Um trovão estalou longe, como um aplauso de um público invisível. A luz do poste tremeluzia, iluminando a rua vazia.

Arthur olhou para a saída do beco — a avenida larga, o ronco de um carro, o cheiro de fritura vindo de uma lanchonete aberta 24h. O mundo estava ali — faminto como ele.

Ele respirou fundo, enfiou as mãos nos bolsos. Um leve peso no bolso esquerdo: uma nota de cinquenta reais, seca, como se tivesse brotado do nada.

Sorriu de novo. O primeiro sorriso de quem entende que não tem mais nada a perder — e agora pode ter tudo.

Deu o primeiro passo em direção à rua iluminada — a chuva seguindo seus passos, apagando o rastro do sangue que, agora, existia só na memória.

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