O silêncio entre eles parecia pesado, mas Arthur não tinha pressa — sentiu o Sistema vibrar dentro do peito, como um tamborim de provocação.
Beatriz continuou digitando, sem se importar. O celular refletia a luz fria da lanchonete — uma notificação atrás da outra. Talvez fosse o namorado dela. O playboy que todos sabiam que era encrenca — Vítor. Um dos motivos pelos quais Beatriz era “zona proibida” até para os mais atrevidos.
Arthur encostou um cotovelo no balcão, inclinando o corpo para perto dela. O cheiro do perfume dela — algo adocicado, quase agressivo — misturava-se ao cheiro de cebola frita. Um contraste delicioso.
Ela percebeu. O canto do olho dela se moveu, mas ela não ergueu o rosto. Continuou ignorando.
Ele sorriu.
— Quer saber a senha do wi-fi? — soltou, a voz baixa, quase divertida.
Beatriz piscou devagar. Um segundo. Depois ergueu o olhar — olhos de mel, cílios longos. O celular parou no meio da digitação.
— Perdão? — disse, sem sorrir. O tom seco, mas curioso.
Arthur mordeu o canto do lábio — um hábito antigo, que agora virou charme involuntário.
— A senha. Do wi-fi. É “BeatrizLindinha123”. — Ele disse isso sem pestanejar, sem gaguejar, soltando sílaba por sílaba como se fosse piada interna.
Ela franziu as sobrancelhas, surpresa — depois riu, um riso curto, mais um sopro de ar do que som real.
— Muito engraçado. — Ela balançou o celular. — Já tenho meu 4G, valeu.
Arthur não recuou. Aproximou um pouco mais, inclinou a cabeça, diminuindo ainda mais a distância entre o rosto dele e o dela.
— Então tá usando pra falar com o Vítor? — disparou, de propósito, deixando o nome cair como faca na mesa.
Ela parou de rir. O celular desceu uns centímetros. A amiga que estava perto, mexendo no canudo do milk-shake, ergueu o olhar — um meio sorriso de curiosidade.
Beatriz arqueou uma sobrancelha. O canto da boca puxou pra cima, quase um sorriso, mas não era. Era uma ameaça pequena, elegante.
— Quem é você mesmo? — perguntou, olhando-o de cima a baixo, demorando meio segundo a mais no peito dele — como se medisse o atrevimento.
Arthur não desviou. Sentiu o Sistema vibrar atrás da testa:
> Interação Social Crítica — +50 Créditos Virtuais.
Ele sorriu de volta, meio cínico.
— Eu? — Ele deu de ombros. — O cara que tá te dando graça nessa noite chata.
Ela riu outra vez — agora mais real, com um toque de deboche. Deu uma chupada no canudo do refrigerante dela — um estalo no plástico — e ergueu o queixo.
— Tá bem, engraçadinho. Já pode voltar pro seu banquinho, tá?
Arthur olhou por cima do ombro, apontou pro prato vazio.
— Já acabei lá. Achei que esse canto aqui merecia um pouco de… barulho.
Beatriz soltou o canudo, mordeu o lábio inferior — um tique que Arthur percebeu e guardou na memória como um troféu.
Ela não respondeu. Só virou o rosto para as amigas, mas a mão dela, antes grudada no celular, agora estava parada sobre o balcão — perto demais da dele.
O Sistema vibrou, como se sorrisse dentro dele:
> Missão Parcial: Interação Concluída.
Próximo Passo: Desbloqueio de Missão Principal.
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