Capítulo 8: Sinal do Jogo

O ar ao redor dos dois parecia mais denso, saturado de fritura, perfume barato e tensão invisível. Beatriz não se afastou — não imediatamente. O que, para Arthur, era uma vitória tão clara quanto qualquer punhado de moedas no bolso.

Ela voltou a deslizar o dedo na tela do celular, mas agora digitava devagar — como se os olhos ainda estivessem presos nele, mesmo que não olhasse diretamente.

As amigas murmuravam algo, cochichando e soltando risadinhas. Arthur não se moveu. Ficou ali, cotovelo no balcão, o corpo relaxado, mas os olhos fixos nela. Beatriz ergueu o rosto de novo — só por meio segundo — e, quando encontrou o olhar dele, sustentou. Dessa vez, não havia mais indiferença. Havia cálculo. E um restinho de divertimento.

— Você sempre incomoda todo mundo assim? — perguntou, a voz baixa, quase suave, mas com um corte afiado escondido.

Arthur abriu um sorriso torto, inclinou a cabeça. O cabelo molhado escorreu uma gota pela têmpora.

— Não. — Ele deu de ombros. — Só quem vale o incômodo.

Beatriz soltou uma risada curta, abafada, como se não quisesse que as amigas ouvissem. A amiga ao lado cutucou o braço dela, sussurrando algo que Arthur não pescou. Beatriz não respondeu — só continuou olhando pra ele, de rabo de olho.

Então o celular vibrou na mão dela — uma notificação iluminou o rosto, revelando o nome: Vítor. O sorriso dela sumiu. O polegar dela pairou sobre a tela, mas não respondeu de imediato.

Arthur viu tudo. E, por um segundo, o Sistema mordeu sua mente com outra frase piscando — agora em letras maiores, mais incisivas, como se fosse uma placa de neon na porta de um clube noturno.

> [CÓDIGO DO PRAZER]

Missão Desbloqueada:

Beije Beatriz Corrêa em até 7 dias.

Recompensa: +1.000 Créditos Virtuais / +10 Carisma / Desbloqueio de Nova Função.

Arthur prendeu o riso. A garganta formigou com o gosto metálico de adrenalina. Não era medo — era expectativa.

Beatriz bloqueou o celular, largou-o na bolsa, depois olhou direto pra ele — um olhar curto, preguiçoso, mas com uma ponta de desafio.

— Então tá, engraçadinho. — Ela se inclinou pra frente, aproximou o rosto o bastante pra que Arthur sentisse o cheiro do batom misturado à Coca. — Boa noite. E boa sorte, tá?

Ela se afastou, pegou o refrigerante, virou de costas com um balançar de quadril que não parecia tão inconsciente assim. As amigas a seguiram, cochichando risadas baixas. A porta da lanchonete se abriu, o sino tilintou — e Beatriz desapareceu na noite molhada.

Arthur ficou parado, o sorriso parado nos lábios. O Sistema vibrava dentro dele — um motor ronronando, promessas zunindo atrás dos olhos.

Sete dias. Um beijo. Uma aposta que ele não podia perder.

Arthur virou o resto da Coca num gole só. O gelo bateu nos dentes. Ele largou o copo, jogou a nota de cinquenta no balcão. Saiu da lanchonete sem olhar pra trás, deixando a porta ranger, o sino balançar.

Lá fora, a cidade ainda respirava — suja, úmida, cheia de ruas escuras, cheia de beijos prometidos.

E Arthur? Arthur respirou fundo, ajeitou a gola da jaqueta e sorriu.

Agora era ele quem estava faminto.

---