Capítulo 9: Corredores Cinzentos

O portão da Escola Estadual Professor Brandão rangia como um portão de cemitério — Arthur reparou nisso enquanto passava sob a placa de metal meio torta. O uniforme dele — camisa branca amarrotada, jeans velho — parecia ainda mais fora de lugar agora. Não porque fosse pobre, mas porque ele já não era o mesmo Arthur que passava despercebido por aqueles corredores.

O cheiro do corredor era o mesmo de sempre: giz molhado, suor juvenil, desinfetante barato e sonhos enlatados. As paredes, pichadas com insultos, corações partidos e declarações de guerra entre turmas, pareciam rir dele — ou, talvez, rir com ele pela primeira vez.

Arthur caminhou devagar, mochila pendurada num ombro só. A cada passo, o Código do Prazer murmurava atrás da testa, uma presença constante — um amigo invisível que ria baixo.

> [CÓDIGO DO PRAZER]

Missão Ativa: Beije Beatriz Corrêa em até 7 dias.

Status Atual: Invisível.

Sugestão: Gere Atenção Social. Prazer = Poder.

Arthur parou no final do corredor, encostando o ombro numa das colunas pintadas de azul desbotado. Dali, tinha visão de quase tudo: o pátio interno, lotado de alunos encostados em grupos. Risadas, celulares, vozes se misturavam numa nuvem abafada.

No centro, reinando como se fosse um pódio improvisado: Beatriz, sentada no banco de concreto, pernas cruzadas, celular na mão. O cabelo dela hoje estava preso num coque improvisado, alguns fios soltos caindo no pescoço, brincos brilhando sob o sol que escorria pelo pátio.

Ela ria de algo que uma amiga dizia. Vítor, o valentão, estava logo atrás — braços cruzados, postura de pitbull mal treinado. A camiseta preta esticava nos ombros largos. Ele olhava em volta como quem fiscaliza território — um rei idiota guardando sua rainha.

Arthur sentiu o Sistema vibrar, lançando opções na mente como um menu:

> Opções de Gatilho:

1. Confronto Direto — Provocar Vítor.

2. Escândalo Indireto — Derrubar um boato.

3. Humilhação Pública — Expor Vítor.

4. Retirada Silenciosa — Falhar Missão.

A última opção piscou vermelha, quase zombando dele. Arthur sorriu de canto de boca. Retirada? Nunca mais.

Ele passou a língua nos dentes, sentindo o gosto vago de café requentado que tomara antes de sair. O estômago revirava — não de fome, mas de ansiedade crua. Uma boa ansiedade.

Beatriz virou o rosto, como se um ímã invisível a puxasse. Os olhos de mel varreram o pátio — pararam nele. Por um segundo, só um segundo, os dois ficaram presos num fio invisível. Ela ergueu uma sobrancelha, curiosa. Talvez se perguntasse o que o ninguém fazia parado ali, olhando tanto.

Arthur ergueu o queixo num cumprimento mudo — e sorriu. Ela não retribuiu o sorriso. Só desviou o olhar, mas mordeu o canto do lábio. Um detalhe pequeno — mas o Sistema vibrou como um motor quente.

Arthur respirou fundo. Escolheu.

— Humilhação Pública, então — murmurou pra si mesmo. — Vai doer, mas vai funcionar.

Ele se afastou da coluna, começou a caminhar pelo corredor, passos lentos, mente fervendo de planos.

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