capítulo 10: O Rival Late Primeiro

Cada passo de Arthur era como se pisasse em cacos de vidro. Não de medo — mas de cuidado, de tensão, de antecipação. O pátio parecia uma arena improvisada. Grupos paravam de falar, olhares curiosos se voltavam. Era raro ver alguém cortar o caminho deles — Beatriz e Vítor eram território demarcado.

Vítor encostava a mão no ombro de Beatriz, apertando como se marcasse posse. A mão grande, pesada, os dedos espalhados na curva do ombro dela — Arthur reparou nisso antes de parar a uns três metros.

Beatriz foi a primeira a perceber — virou o rosto devagar, encarou Arthur de cima a baixo, surpresa contida nos olhos de mel.

Vítor demorou um segundo, mas sentiu. Ele olhou pra trás, sobrancelha franzida, sorriso torto que não tinha nada de simpático.

— Olha quem é — disse, a voz grossa, rascante, projetada pra ecoar. — O rato da última fileira. Perdeu o caminho, Arthur?

Arthur segurou o sorriso. O Sistema respirava atrás da testa, alimentando cada batida do coração.

— Fala, Vítor — disse, calmo, quase preguiçoso. — Tava querendo ver se esse banco é só teu mesmo. Ou se alguém mais pode sentar.

Vítor soltou uma risada curta — uma gargalhada ensaiada, feita pra plateia. Alguns na roda riram junto, um riso de conveniência.

Beatriz não riu. Só o observava — olhos fixos, expressão curiosa. A unha pintada batia de leve no banco.

Vítor descruzou os braços. Deu dois passos, parando tão perto que Arthur sentiu o cheiro azedo de cigarro misturado a um perfume masculino barato.

— Tu acha que pode chegar assim, do nada, e sentar onde quiser? — perguntou, baixo, o sorriso agora duro. — Quer atenção, é isso?

Arthur inclinou o rosto pra frente, deixando só um palmo entre eles. A voz saiu tão baixa que só Vítor escutou.

— Quero o que é meu, só isso.

Vítor arregalou um pouco os olhos, como se não entendesse. O sorriso dele virou uma careta de nojo.

— Teu? — Ele deu uma risada, olhou pra Beatriz como se pedisse permissão pra rir mais alto. — Tua coragem tá grande hoje, rato.

Arthur não respondeu. Só ergueu uma sobrancelha, o canto da boca puxando num sorriso lento. O Sistema ronronou:

> Prazer Social: Gatilho Ativado.

Confiança +2.

O burburinho começou. Alguns alunos pararam de fingir que não olhavam. Dois caras da turma de Vítor se aproximaram, prontos pra ver sangue — mas ainda nada aconteceu.

Beatriz descruzou as pernas. O joelho raspou de leve no banco. O olhar dela estava em Arthur agora — só nele.

Vítor notou. E isso doeu mais do que qualquer soco.

Ele ergueu a mão, apontou o dedo pro peito de Arthur, cutucando o uniforme.

— Vai embora, Arthur. Antes que eu precise ensinar educação na frente de todo mundo.

Arthur baixou o olhar pro dedo cutucando o peito. Depois ergueu de novo, rindo de leve.

— Ensinar? — disse, voz baixa, firme. — Tu mal sabe soletrar.

A resposta não era brilhante. Mas o jeito que Arthur disse — calmo, quase íntimo, como se fosse um sussurro — fez alguns na roda soltarem gargalhadas abafadas.

Vítor piscou, a raiva subindo pela veia do pescoço. O Sistema vibrou, feliz, como se comesse a tensão com uma colher.

Arthur deu meio passo pra trás, desviou devagar do dedo apontado, e soltou — ainda sorrindo:

— Cuida bem do teu trono, Vítor. Tá rangendo.

E saiu andando — sem correr, sem olhar pra trás.

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