Arthur não foi longe. Parou atrás de uma coluna, fora do campo de visão de Vítor, mas ainda dentro do círculo de cochichos que já se espalhava pelo pátio. O Sistema vibrava em um zumbido baixo, como um fio elétrico correndo pelos ossos.
Ele encostou a testa no concreto frio, respirou fundo. Podia sentir o gosto metálico da adrenalina na língua — não medo, mas aquela coragem amarga que vinha quando não havia mais nada a perder.
Abriu o bolso da mochila — lá dentro, o pacote amassado de chicletes, comprado meses atrás, ainda restava um último. Um detalhe besta — mas perfeito.
> Prazer Social: oportunidade detectada.
Chance de Humilhação Pública: 78% de sucesso.
Arthur sorriu, quase infantil. Mastigou o chiclete devagar, os dentes trabalhando o sabor doce e plástico. Cada estalo era como um tambor marcando segundos.
Quando virou de volta para o pátio, Vítor ainda estava no centro — pose de rei ferido, falando grosso para os amigos, batendo a mão na palma, tentando engolir a vergonha que escorria pelos sorrisos dos curiosos. Beatriz olhava de canto, claramente mais interessada no vazio à volta do que nele.
Arthur deu a volta pelo jardim baixo que cortava o pátio, passos lentos, disfarçados por grupos que gargalhavam sem perceber. Chegou atrás do banco onde Vítor encenava seu discurso vazio.
Vítor não notou. Beatriz notou. Ela ergueu os olhos no exato segundo em que Arthur parou atrás — a expressão dela misturava confusão e uma pontinha de riso que ela tentou esconder.
Arthur apontou o dedo indicador pros lábios — um gesto rápido pra Beatriz. Um shhh silencioso.
Ela não moveu um músculo. Mas não desviou o olhar.
Arthur tirou o chiclete da boca, pegajoso entre os dedos. Sem hesitar, abaixou-se atrás do banco, inclinou-se sobre o encosto — e colou o chiclete bem no meio da nuca de Vítor, que falava, inflado, de costas.
O toque foi tão leve que Vítor nem percebeu. Mas Beatriz soltou uma risada curta, um sopro abafado — que se espalhou, disparando curiosidade em quem estava perto.
Arthur ergueu o olhar pra ela, ainda abaixado. O sorriso dele era uma confissão sem remorso. Ela mordeu o lábio — de novo — para segurar outra risada.
Arthur se afastou rápido, misturou-se entre os grupos, mãos nos bolsos, andando como se nada tivesse acontecido.
Dois segundos depois, Vítor, sentindo algo grudar no cabelo raspado da nuca, levou a mão. Parou de falar. Puxou o chiclete. Segundos eternos — o silêncio se espalhou. Então alguém riu. Outro gargalhou mais alto.
A explosão foi instantânea: risadas pipocando, celulares subindo pra gravar. Vítor ficou vermelho, a mandíbula tensa. Olhou em volta, tentando achar o autor. Mas Arthur já estava longe, encostado na grade, vendo tudo de camarote.
Beatriz ergueu o olhar, encontrou o dele. O riso nos olhos dela era mais quente do que qualquer toque.
> Prazer Social: Humilhação Pública Concluída.
+300 Créditos Virtuais / +5 Carisma.
Missão Principal Progredindo.
Arthur respirou fundo. O Sistema ronronava, faminto.
Ele piscou pra Beatriz. Ela balançou a cabeça, sorrindo de um jeito que dizia: Você é louco. Mas não parecia brava. Nem um pouco.
---