O sol da manhã parecia zombar da escola, escorrendo pelas janelas imundas, iluminando carteiras riscadas, paredes descascadas, cadernos abertos com frases que ninguém vai ler. Arthur parou na entrada da sala, sentiu o calor de todos os olhos varrendo sua silhueta nova.
Ele entrou devagar, passos arrastados como se fosse dono do chão encardido. A jaqueta preta nova — couro falso, mas brilhando como se fosse legítimo — encaixava nos ombros como uma armadura improvisada. A camiseta cinza abraçava o peito magro, mas definido, realçando linhas que sempre ficaram escondidas debaixo de uniformes velhos. O jeans escuro, sem furos, quebrava a imagem de mendigo de sempre.
As mochilas no chão, os celulares na mão, as conversas que morriam quando ele cruzava. Foi como abrir uma trilha no meio de um pátio de onças entediadas — cada olhar uma mordida. Mas Arthur mantinha o rosto calmo, sorriso discreto, o Sistema pulsando uma faísca atrás dos olhos.
> [CÓDIGO DO PRAZER]
Atenção Social +5.
Status: Ascendendo.
Ele parou do lado da carteira onde sempre sentava — a última, encostada na parede fria. Dessa vez, não. Dessa vez, arrastou a mochila para o meio da fileira central — lugar de gente que quer ser visto.
Sentou-se sem pedir licença, jogou a mochila na cadeira ao lado, pernas abertas, cotovelos apoiados na mesa. O barulho chamou ainda mais atenção.
Beatriz já estava ali — na primeira fileira, costas apoiadas na cadeira, celular em cima da mesa. O cabelo solto hoje, um batom novo, vermelho queimado que combinava com a jaqueta de couro dela, muito mais cara que a dele.
Ela olhou de canto. Olhos de mel, faiscando curiosidade.
Arthur piscou devagar. Um aceno mudo, nada dramático. Só eu sei que você tá olhando. Ela não desviou. E, dessa vez, não disfarçou o sorriso mínimo que escapou no canto da boca.
A porta se abriu com força — o professor entrou, carregando uma pilha de provas mal corrigidas, o cabelo desgrenhado, olhar de quem só queria fumar lá fora.
Atrás dele, Vítor. Sem uniforme, camiseta preta, corrente grossa no pescoço, a sombra de quem reinava no corredor até ontem.
Vítor varreu a sala com o olhar preguiçoso — os olhos caíram em Beatriz, depois deslizaram até Arthur. Travaram ali. O maxilar dele se contraiu, uma veia saltou no pescoço. O sorriso curto de Vítor morreu no mesmo instante.
Arthur ergueu as sobrancelhas, quase uma saudação silenciosa: Bom dia, majestade. Não disse nada. Nem precisava.
Vítor parou perto da carteira de Beatriz, disse algo no ouvido dela — um sussurro possessivo, uma marcação de território. Ela não reagiu como ele esperava — não largou o olhar de Arthur. Só mordeu o canto da boca, meio sorriso, um veneno que pingava devagar.
O professor pigarreou, começou a despejar datas, chamadas, cobranças. Mas ninguém ouvia de verdade. A sala estava ocupada demais com o novo show — o ninguém que virava alguém.
Arthur respirou fundo. A jaqueta cheirava a couro barato misturado com sabão de brechó. Mas, pra ele, era puro luxo.
> Atenção Social: +10.
Missão Secundária Desbloqueada: Intimidação do Rival.
Arthur encostou o queixo na mão, os olhos ainda em Beatriz. O jogo continuava — e agora a sala inteira era plateia.
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