Capítulo 15: A Primeira Ameaça

O sinal do intervalo soou como um tiro de partida. A sala explodiu num zum-zum de cadeiras arrastando, mochilas batendo, gritos de “bora pra cantina!”. Arthur ficou sentado por alguns segundos, observando o fluxo. Beatriz se levantou primeiro, ajeitou a mochila no ombro, olhou por cima — encontrou os olhos dele por um instante, sem disfarçar.

Quando ela saiu, Vítor foi logo atrás. Mas antes, parou na fileira, bateu a palma aberta na carteira de Arthur, um estalo seco, chamando atenção.

Arthur ergueu o rosto devagar, um sorriso preguiçoso no canto dos lábios.

— Algum problema? — disse, a voz baixa, quase divertida.

Vítor não respondeu. Só deu de ombros, estalou a língua, saiu atrás de Beatriz.

Arthur respirou fundo, se levantou. O Sistema zumbia: Risco iminente, +1 coragem. Ele saiu pro corredor como quem vai pra arena.

O corredor fervilhava de alunos, latas de refrigerante na mão, risadas, trocas de empurrões. Arthur seguiu devagar, atravessando a multidão, ignorando olhares curiosos. Sentia a tensão acumulando na nuca, como uma mosca zumbindo: Ele vai vir.

No meio do corredor, onde os armários velhos faziam uma esquina, Vítor estava encostado na parede, braços cruzados, Beatriz a uns passos, mexendo no celular — completamente alheia, mas não tanto assim. Ela sabia.

Quando Arthur se aproximou, Vítor se afastou da parede, cortou o caminho. Ficaram frente a frente, tão perto que o cheiro do desodorante barato misturou com o suor preso na camiseta preta dele.

— Gosta de showzinho, né, Arthur? — Vítor falou entre os dentes. — Foi engraçado o chiclete. Você acha que vai rir pra sempre?

Arthur sorriu, apoiou o ombro no armário ao lado, sem tirar os olhos dele.

— Eu rio fácil, Vítor. Depende da piada.

O peito de Vítor subiu e desceu, os punhos cerrados. O Sistema vibrava dentro da mente de Arthur como um tambor calmo:

> Atenção Social: Ameaça Direta.

Ativar: Resposta Verbal ou Confronto Físico.

Beatriz olhou por cima do celular, observando de canto, quase fingindo que não ouvia.

Vítor se aproximou ainda mais, encostou a ponta do dedo no peito de Arthur — de novo aquele toque de animal marcando território.

— Eu vou te quebrar, rato. Pode escrever.

Arthur olhou o dedo, ergueu devagar a mão e, com dois dedos, afastou a mão de Vítor do peito como se tirasse poeira da camisa.

— Se fosse tão bom assim pra quebrar alguém, tua dignidade não tava grudada num chiclete até agora — disse, voz baixa, cortante.

Vítor rangeu os dentes. Por um segundo, Arthur achou que o soco viria ali mesmo. O Sistema parecia saborear cada gota de adrenalina:

> Coragem +2.

Prazer Social: +50 Créditos.

Mas Vítor segurou a explosão. Bateu a palma na parede, virou-se, quase esbarrando em Beatriz, que escondeu o sorriso numa tossida.

Arthur ficou ali, parado, o peito queimando de adrenalina — mas a expressão calma, como se aquilo fosse só uma brisa.

Ele ergueu o olhar pra Beatriz, que agora não conseguia mais esconder a diversão nos olhos.

Arthur piscou devagar, virou de costas e sumiu no corredor — um rei improvisado num castelo de paredes descascadas.

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