Capítulo 17: Missão de Rua

O portão da Escola Estadual Professor Brandão rangia outra vez quando Arthur passou por ele, dessa vez sentindo o corpo leve — não de calma, mas de tensão acumulada prestes a virar faísca. O sol da tarde batia torto nos muros pichados, estourando cores lavadas de spray e insultos adolescentes que se repetiam ano após ano.

Do outro lado da rua, a calçada fervilhava de vozes — estudantes indo embora, alguns empurrando bicicletas velhas, outros compartilhando cigarros. Arthur parou no meio-fio, deixou o fluxo passar por ele como uma onda morna de risadas, conversas e xingamentos jogados ao vento.

Na mente, o Código do Prazer respirava, pulsando:

> [CÓDIGO DO PRAZER]

Próximo Passo: Risco Elevado.

Gatilho: Local de Prazer Social Intenso.

Sugestão: Festa Ilegal Identificada.

Local: Galpão Abandonado, Rua do Gasômetro.

Arthur ergueu o rosto — o sol batia nos cílios, o ar quente misturava o cheiro de asfalto com fritura de pastel de rua e gasolina escapando de um carro parado com o capô aberto.

Ele puxou o celular, a tela rachada vibrando na mão. Um ponto vermelho piscava no mapa do Sistema, como uma veia pulsando no concreto da cidade. Galpão Abandonado — lugar de bebida barata, som alto, briga fácil. Perfeito.

Arthur mordeu o canto do lábio. Já podia sentir o gosto metálico do risco na língua — e o Sistema parecia gostar disso tanto quanto ele.

Ele enfiou o celular no bolso, atravessou a rua entre buzinas e freadas. Cada passo batia no chão como uma contagem regressiva.

Caminhou por quarteirões onde as casas se misturavam com oficinas mecânicas, muros grafitados, vielas que cheiravam a mijo de cachorro e maconha barata. O Código não parava de sussurrar:

> Local Confirmado: Entrada pela lateral.

Horário ideal: Após 22h.

Recompensa: +1.000 Créditos / Função Sedução Ativa.

Arthur respirou fundo, parou diante de um muro alto, descascado, onde alguém pintara VIVA RÁPIDO, MORRA CEDO em letras pretas, quase apagadas. Sorriu sozinho. Aquilo servia pra todo mundo — menos pra ele.

Ele esticou o pescoço, espiou por uma abertura entre as tábuas soltas: dentro, um pátio de cimento quebrado, barris empilhados, latas de spray, garrafas vazias — e um banner rasgado de um DJ de bairro qualquer. O som de teste de caixa de som vazava pelos buracos.

O Sistema ronronou:

> Missão Lateral: Convide o Alvo.

Aumente o Prazer Social em Ambiente de Risco.

Arthur encostou a testa no muro, o concreto áspero roçando a pele. Imaginou Beatriz ali — salto alto no concreto rachado, perfume misturado a cigarro, sorriso preso entre luzes piscando.

Ele riu sozinho. Aquilo era perigoso, sujo — tudo que Beatriz dizia odiar. E, por isso mesmo, impossível de resistir.

Arthur se afastou, enfiou as mãos nos bolsos. Hora de planejar o convite. Hora de chamar o perigo pra dançar.

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