Arthur voltou para perto da escola antes mesmo de escurecer — sabia que Beatriz passava por ali todo dia, cinco da tarde em ponto, com a mochila pendurada num ombro só, os fones de ouvido tapando o mundo, a pose de quem não deve nada a ninguém.
Ele encostou num poste grafitado, a jaqueta meio aberta pra aliviar o calor. O Sistema vibrava como um inseto na nuca, sussurrando probabilidades: Convite + Risco = Prazer Social Elevado.
Cinco e três. Ela apareceu. Cabelo solto hoje, batom vermelho queimado, uniforme apertado num jeito que misturava rebeldia e provocação involuntária. Ela ria de algo que uma amiga dizia — mas, quando os olhos bateram em Arthur parado ali, a risada morreu num segundo.
Ela soltou a amiga com um aceno, continuou andando. Fingiu que não o viu — erro. Arthur saiu do poste, encaixou o passo ao lado dela, andando como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Vai me seguir pra sempre, Arthur? — disse ela, sem tirar o fone, mas baixando o volume.
— Só até você pedir pra eu parar — ele respondeu, sorriso no canto da boca. O Sistema pulsou: +1 Carisma.
Ela bufou, mas não se afastou. Continuou andando devagar. A mochila batia na lateral da perna dela a cada passo.
— Fala logo — disse, cansada. — Vai soltar outra piadinha? Vai colar chiclete no cabelo de quem hoje?
Arthur deu uma risada curta. Passou os dedos no zíper da jaqueta, parou bem no meio do caminho dela — ela teve que parar também. Ficaram a meio metro de distância, o resto do fluxo de alunos contornando os dois como água correndo em volta de pedra.
— Quero te levar pra um lugar — disse. Baixo, mas firme. — Hoje à noite.
Beatriz arqueou a sobrancelha, cruzou os braços, peso jogado numa perna só. O cheiro do perfume dela subiu com o calor do asfalto.
— Vai me sequestrar agora? — perguntou, um sorriso curto, venenoso.
Arthur inclinou o rosto, voz ainda mais baixa.
— Vai ter música, bebida, fumaça ruim, gente ruim… — Ele sorriu mais largo. — Tudo que teu namorado proibiria.
Beatriz não respondeu de imediato. Mordeu o lábio, olhou pros lados, depois de novo pra ele.
— Tá brincando. — Mas não parecia tão certa.
— Eu pareço? — Ele tirou o celular do bolso, abriu um print borrado do banner rasgado: Galpão Gasômetro, DJ Zane. — Hoje, 22h. Se quiser ver o lado sujo do mundo, vai comigo.
Ela soltou uma risada abafada, sacudiu a cabeça. Mas não devolveu o celular.
— E o Vítor, Arthur? — O nome saiu pesado na boca dela. — Você tá implorando pra morrer?
Arthur deu de ombros. O Sistema sussurrou: Prazer Social +2.
— Ele não precisa saber — disse, voz mansa. — A não ser que você queira que ele saiba.
Beatriz segurou o celular dele por mais um segundo, como se fosse uma confissão quente. Depois soltou, empurrou de volta pra mão dele.
— Você é um problema. — O sorriso dela estava ali, mesmo que ela tentasse conter. — E eu não preciso de problema.
Ela deu um passo pro lado, mas antes que saísse, Arthur se inclinou, encostou os lábios perto da orelha dela — não chegou a tocar, mas o sopro gelado fez ela arrepiar.
— Não precisa. — Ele sussurrou. — Mas vai querer.
Ela soltou o ar numa risada nervosa, virou de costas, sumiu na calçada sem olhar pra trás.
O Sistema vibrou, satisfeito:
> Convite Plantado. Probabilidade de Aceitação: 60%.
Recompensa Pendente.
Arthur enfiou as mãos nos bolsos, o peito batendo rápido. O jogo estava lançado.
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