Capítulo 20: Confirmação

A noite engolia a cidade devagar, mastigando postes piscando, esquinas molhadas de garoa fina, buzinas cansadas que pareciam brigar com o vento frio. Arthur subiu a rua estreita que levava até a pensão onde ainda se escondia — um quarto úmido, paredes manchadas de mofo, colchão arqueado como uma rede velha.

Entrou sem fazer barulho, jogou a mochila num canto, sentou na beirada da cama. O corpo ainda vibrava da troca de farpas com Vítor — o gosto da ameaça ainda ardia na língua, como um cigarro fumado até o filtro.

Pegou o celular, tela rachada, quase sem bateria. Ligou. Nada de mensagem. O Sistema piscava na mente, provocando:

> Missão de Risco: 60% de chance de aceitação.

Prazer = Poder.

Arthur respirou fundo, largou o celular sobre o colchão, reclinou o corpo, olhos presos no teto manchado. O zunido da rua subia pela janela entreaberta — risadas distantes, motor de moto acelerando, o latido de um cachorro que não cansava nunca.

O celular vibrou. Um estalo seco que soou mais alto que qualquer barulho de fora. Arthur ergueu o tronco de um pulo, pegou o aparelho, o coração martelando as costelas.

Beatriz: “Você é louco.”

Uma notificação. Nada mais. Três palavras. Mas bastavam. Arthur sorriu sozinho, os dentes batendo de leve na borda do polegar enquanto lia de novo.

Respondeu, dedo deslizando rápido na tela engordurada:

Arthur: “Louca é quem vai.”

Silêncio. Dois segundos. Dez. Outro estalo do celular. Outra mensagem:

Beatriz: “Me manda o endereço. Não fala pra ninguém. Nem pra Jonas.”

Arthur fechou os olhos, jogou a cabeça pra trás, rindo baixo — um riso que ninguém ouviria ali. O Sistema vibrou como um trovão abafado, estourando dentro do peito:

> [CÓDIGO DO PRAZER]

Missão Confirmada: Festa Ilegal.

Novo Prazer Social: Risco Máximo.

Missão Paralela Desbloqueada:

Primeiro beijo em até 72h.

Arthur digitou devagar, cada letra batendo como um tambor de guerra.

Arthur: “Hoje. 22h. Rua do Gasômetro, galpão. Vem sozinha.”

Beatriz visualizou. Digitou. Parou. Digitou de novo.

Beatriz: “Se eu não gostar, vou embora. Se você contar pro Vítor, eu mato você primeiro.”

Arthur leu, sentiu o peito inflar. Respondeu só com uma palavra:

Arthur: “Prometo.”

Jogou o celular no peito, caiu de costas no colchão, o sorriso preso nos lábios. O quarto podia feder a mofo — mas lá fora, a cidade inteira era dele. E Beatriz? Beatriz agora era uma faísca prestes a virar incêndio.

O Sistema sussurrou, satisfeito, enquanto o ponteiro imaginário contava o tempo.

> Primeiro beijo: 72h.

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